A Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão – COAPIMA, esteve reunida nos dias 01 e 02 de março de 2020 na aldeia Maçaranduba, Terra Indígena Caru, Bom Jardim – MA, realizando a nossa VI Assembleia Ordinária.
Nossa assembleia contou com significativa representação dos povos indígenas do Maranhão, somando mais de 300 participantes legítimos dos Povos Ka’apor, Gavião, Mermotumré-Kanela, Apãnjekra-Kanela, Guajajara, Awá Guajá, Krikati, Tremembé, e Krenyê, representando dessa maneira os seus Territórios e os povos indígenas do estado do Maranhão. Contamos ainda com a participação de parceiros e aliados históricos do Movimento Indígena, de Instituições Indigenistas, de Defesa dos Direitos Humanos. Estiveram presentes conosco representantes da COIAB, e UMIAB e Secretaria de Direitos Humanos e participação popular.
Foram dois dias de intensos debates, para análise da atual conjuntura política, memória do movimento indígena no Maranhão, fortalecimento das alianças com outros movimentos sociais do campo e cidade .
As representações indígenas reafirmaram a importância do fortalecimento da autonomia indígena, da valorização de suas culturas, de seus processos de gestão ambiental e territorial com base nas economias indígenas, em oposição aos planos desenvolvimentistas e integracionistas que estão sendo programadas e executadas pelo atual governo, vindos principalmente pelo governo federal e seus aliados no Congresso.
Muitas falas se referiram ao intenso assédio promovido por agentes governamentais junto aos nossos parentes, baseados em mentiras, falácias e promessas vazias de desenvolvimento, que objetivam exclusivamente à usurpação de nossas terras e dos bens comuns. Nesse sentido, reafirmamos categoricamente que os povos indígenas do Maranhão não vão pactuar com esse modelo extremamente predatório que destrói nossas territórios, nossas florestas, nossa biodiversidade, nossos encantados, nossas culturas.
Portanto, sabemos de nossa relevância para além de nossas aldeias e por isso mesmo não aceitaremos que nos desrespeitem com projetos nocivos de mineração e de exploração desenfreada de nossas matas, seja para o agronegócio, seja para pecuária extensiva, ou qualquer outra medida que busque acabar com nossas culturas e meios de vida.
Também reafirmamos que continuaremos reagindo não somente às políticas destruidoras que estão sendo impostas pelo governo Bolsonaro, mas também contra seus insultos, suas ofensas, seu racismo explícito e suas mentiras que buscam ferir nossas honras e nossas dignidades.
Vivemos e somos parte da democracia brasileira e lutaremos até o fim por ela, junto aos demais movimentos sociais e segmentos da sociedade que estão sendo igualmente atacados covardemente pelo atual governo, que não se propõe em nenhum momento a um diálogo justo e igualitário, veiculando mentiras, confundindo e tentando dividir nossos povos.
Reafirmamos que não adianta insistir pois não vão conseguir nos dividir, secularmente estamos juntos, discutindo e debatendo nossos problemas e encontrando nossas soluções sempre no coletivo. E assim continuaremos. Nesse sentido, nos solidarizamos com as comunidades quilombolas, às mulheres, aos movimentos de luta pela reforma agrária, comunidades tradicionais, à classe trabalhadora do campo e da cidade, às comunidades extrativistas, aos movimentos LGBTs e todos que estão sob forte ataque desse governo que age contra a democracia e contra os direitos e dignidades das pessoas que formam esse país.
Venceremos o discurso e as atitudes de ódio desse governo com mais união, com mais luta, com mais solidariedade entre os povos. Queremos deixar bem claro que saímos mais fortalecidos dessa Assembleia, uma força que não depende de dinheiro, mas sim do nosso compromisso com a vida, com o respeito aos nossos antepassados e aos nossos encantados.
Aproveitamos para nos comprometer em apoiar a luta dos parentes que estão com os processos de demarcação de terra interrompidos pelo atual governo e lutaremos juntos até que todos os povos tenham seus direitos territoriais garantidos pela Constituição de 1988 respeitados.
Também repudiamos veementemente o PL 191/2020, que pretende adoecer nossas terras com a exploração desenfreada de recursos minerais. Não negociaremos 1 milímetro de terra para a exploração de minérios, que vão favorecer grandes empresas do Brasil e do exterior, enquanto para os povos indígenas fica apenas um grande rastro de destruição.
Gostaríamos de informar ao governo Bolsonaro e seus apoiadores que os povos indígenas possuem modelos de economia própria, não somos, entraves ao desenvolvimento do país. Pelo contrário, lutamos pela valorização das nossas economias, nossos jeitos de produzir e utilizar nossos recursos naturais, pois temos convicção que são elas que trarão o real desenvolvimento do país: geração de renda sem destruir nossas terras e o meio ambiente, a partir de uma relação que não se baseia na propriedade individual, mas da relação com o
sagrado, a plena manifestação da própria natureza que junta os vários elementos essenciais às nossas vidas e das nossas futuras gerações. São inúmeros os projetos indígenas que caminham nesse sentido em todo o país e também no Maranhão. A sociedade brasileira pode aprender com a gente, estamos dispostos a ensinar.
Concluímos a nossa Assembleia afirmando que não temos nenhuma dúvida do que queremos desenvolver em nossos territórios que conservam e preservam a biodiversidade do Maranhão, não temos dúvidas que ajudamos a equilibrar o clima no planeta, não temos dúvidas que a nossa segurança alimentar é sagrada e vem dos nossos alimentos tradicionais, que a nossa saúde está ligada a nossa medicina tradicional, que a nossa espiritualidade é ancestral, que somos povos originários, e que toda a nossa reprodução física e cultural só é possível se tivermos os nossos territórios respeitados, livres de invasões, ameaças e violências.
Sangue indígena nenhuma gota a Mais! Território, nosso corpo, nosso espírito! Demarcação Já!
02 de março de 2020, Aldeia Maçaranduba, Terra Indígena Caru