No dia 16 de maio, os Guardiões da Floresta registraram o ferimento de um indígena Guajajara por uma flechada de um Awa Guajá na TI Araribóia, no Maranhão. É o primeiro registro de um incidente entre os povos que sofrem com o avanço das atividades ilegais de madeireiros durante a quarentena indígena.
A pandemia de Covid-19 no Brasil agravou o cenário de ataques aos povos indígenas e seus territórios. No Maranhão, devido ao isolamento social recomendado para conter o avanço do novo coronavírus, indígenas Tenetehar tiveram que aumentar a caça para garantir a alimentação de suas famílias. Por outro lado, o povo isolado Awa Guajá vem perdendo território para atividades ilegais de madeireiros, obrigando-os a explorar outras áreas.
Apesar da convivência pacífica dos povos Guajajara e Awa Guajá na Terra Indígena Araribóia – Ka’a Iwar, cada qual no seu território, ocorreu o incidente de uma flechada de um indígena Awa ferir um Guajajara que caçava na região da Lagoa Comprida. A área fica localizada próxima a uma aldeia Tenetehar recentemente desabitada após o falecimento do Cacique Jaime Guajajara. Anteriormente não havia nenhum registro de ataque dos Awa Guajá a nenhum outro povo ou a pessoas não indígenas, demonstrando que a reação agressiva é decorrente das ofensivas de madeireiros e caçadores contra os Awa Guajá, provocando-os a atitudes de sobrevivência por meio de ataques.
A região é historicamente alvo de tensões violentas em consequência das ações de madeireiros que, cada vez mais, adentram territórios indígenas para desmatar – em 1997, o indígena Tomé foi assassinado; em 2015, o chefe nacional de fiscalização, Roberto Cabral, foi atingido por um tiro no braço; e em 2019, o guardião Paulo Guajajara foi assassinado.
De acordo com dados do Imazon, o desmatamento na Amazônia durante o mês de abril é o maior registrado nos últimos dez anos. Tal informação apenas confirma o que os povos indígenas vivem no seu cotidiano – o desmatamento não vem sozinho, vem acompanhado de destruição, violência e morte. Por isso, o povo Guajajara se organizou e criou o grupo Guardiões da Floresta para combater invasores por conta própria, uma vez que o Estado não assegura minimamente a sobrevivência dos povos originários. Atuando, inclusive, no sentido contrário à garantia dos direitos dos indígenas quando tenta converter a MP 910, conhecida por MP da Grilagem por facilitar o processo de ocupação ilegal de terras, em PL 2633 para ser aprovada no Congresso em meio à pandemia de Covid-19.
O guardião ferido foi atendido por uma equipe da Sesai e passa bem. A flechada desferida por um Awa Guajá nos alerta sobre a ameaça que esse povo está sofrendo em se manter isolado da sociedade não indígena, buscando preservar sua cultura e seu modo de vida sem interferências externas.
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