A estratégia é antiga, desde a invasão europeia, mas continua sendo utilizada para enfraquecer, desqualificar e desmobilizar o movimento indígena e “passar a boiada” nos nossos direitos fundamentais. Como há 522 anos, continuam a usar “espelho” para nos enganar e dividir no intuito de se apropriarem e devastarem os nossos territórios e bens naturais neles existentes.
O Governo Federal e seus aliados aliciam uma minoria de indígenas para criminalizar a atuação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e de seus dirigentes. Tentam nos intimidar de forma recorrente utilizam indivíduos e por vezes associações indígenas para reforçar seus discursos em uma nítida intenção de deslegitimar a nossa atuação.
A pandemia expôs a política do ódio e da morte, marca do governo Bolsonaro, que a Apib denuncia diariamente. O projeto genocida e ecocida desse governo acelera a violência e a destruição do país trazendo para 2021 o nosso pior passado do Brasil Colônia e da Ditadura Militar.
O mais recente ataque à Apib e para uma de suas coordenadoras, Sonia Guajajara, é protagonizado pela deputada federal bolsonarista Carla Zambelli e a Fundação Nacional do Índio (Funai). Ambos reforçando uma carta assinada por três lideranças indígenas que se colocam como representantes de um “grupo de agricultores e produtores indígenas”. Zambelli, que assumiu recentemente o cargo de presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Federal, deixou nítido que está ali para impulsionar com a política de destruição e ódio do Governo. Fecha os olhos para o agravamento dos crimes ambientais e alimenta a divisão entre indígenas para criar outra cortina de fumaça para as reais intenções do Governo.
O uso da comunicação do governo para alimentar divergências, rivalidades e conflitos entre indígenas, esconde a incompetência da atual gestão e desvia o foco do seu projeto genocida e ecocida.
Em efeito, diariamente crimes são cometidos contra os povos indígenas e o meio ambiente, as invasões aos territórios tradicionais e a violência contra os povos estão aumentando, no entanto, a deputada Zambelli e a Funai continuam a estimular o agravamento desse cenário.
A Apib é fruto da mobilização do movimento indígena, criada por determinação do Acampamento Terra Livre de 2005, a grande assembleia nacional de representantes dos povos de todas as regiões do país, e que reuniu nos últimos anos mais de 10 mil lideranças indígenas. Somos a união desses povos e suas organizações representativas. Todos voltados a defender a garantia dos nossos direitos consagrados pela Constituição Federal de 1988.
Assim, com a força de nossos ancestrais, lutamos há 17 anos reivindicando a demarcação e proteção dos nossos territórios tradicionais em todo o país, e pela proteção da Mãe Natureza como sempre fizeram os nossos antepassados. Lutamos ainda pelo direito às políticas públicas decorrentes do texto constitucional e legislações específicas, dentre as quais: uma educação escolar indígena intercultural, diferenciada e de qualidade e um subsistema de atenção básica à saúde dos nossos povos, hoje mais do que nunca necessário e urgente no contexto da pandemia da Covid-19.
A nossa luta é contra toda política e prática que almeja nos ignorar ou dizimar, pela vida e o respeito aos direitos de todos os indígenas, independentemente se vivem na aldeia ou na cidade.
As nossas lideranças, dirigentes da Apib, como Sonia Guajajara são reconhecidas e ganharam legitimidade pelas bases do movimento e conquistaram reconhecimento internacional por dedicarem a sua vida na proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas do Brasil. Sonia Guajajara é uma guerreira incansável que luta pela união dos povos fortalecendo o protagonismo da mulher indígena no país e no mundo.
Parentes, precisamos seguir firmes e unidos! Devemos continuar exigindo ações concretas do Governo Federal para a regularização e proteção dos nossos territórios e no combate a pandemia com a ampla vacinação dos indígenas, independentemente se vivem nas aldeias ou nas cidades. Não podemos abrir mão dos nossos direitos e vamos entrar com as medidas judiciais cabíveis contra todas as tentativas de intimidação e ataques à Apib, seus povos e dirigentes, nacionais e regionais.
Brasília, 31 de março de 2021
Organizações regionais de base da APIB:
APOINME – Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
ARPIN SUDESTE – Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste
ARPINSUL – Articulação dos Povos Indígenas do Sul
ATY GUASU – Grande Assembléia do povo Guarani
Comissão Guarani Yvyrupa
Conselho do Povo Terena
COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
TODA VIDA INDÍGENA IMPORTA!!!!
COORDENAÇÃO EXECUTIVA
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
Leia a nota completa da Apib Nota_da_Apib_contra_criminalização_do_movimento_indígena