Mediante ao ataque de ódio do tenente Henry Charlles aos povos isolados, advogados indígenas entraram com requerimento nesta quinta-feira (22) na 6º Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF)
Nesta quinta-feira, 22 de julho, por meio de uma notícia publicada no jornal “Folha de São Paulo”, chegou ao conhecimento da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), um áudio do Coordenador da Coordenação Regional (CR) Vale do Javari, da Fundação Nacional do Índio (Funai), no Amazonas, o tenente da reserva do exército Henry Charlles Lima da Silva, onde claramente incita terceiros a atentarem contra a vida e integridade física dos indígenas que vivem em isolamento naquela região. Além de incitar terceiros a atacarem os povos indígenas isolados, o servidor do órgão indigenista se coloca à disposição para abrir fogo contra os isolados. Segundo o áudio, cuja a autenticidade foi apurada pela reportagem, o representado disse: “Eu vou entrar em contato com o pessoal da Frente [de Proteção Etnoambiental] e pressionar: ‘Vocês têm de cuidar dos índios isolados, porque senão eu vou, junto com os marubos, meter fogo nos isolados’”, disse durante uma reunião na aldeia Paulinho, em 23 de junho deste ano. Diante do ocorrido, nossos advogados indígenas entraram com requerimento nesta quinta-feira (22) na 6º Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF), para instauração de inquérito para apurar o cometimento de crime de genocídio contra povos isolados, para determinar o afastamento imediato de Henry Charlles Lima da Silva da sua função de Coordenador Regional da Funai no Vale do Javari. Um mês e meio atrás, a Funai acusava o movimento indígena de furar a quarentena ao tentar resolver um conflito que estava latente na região do Vale do Javari. Na gravação que circulou nesta quinta-feira (22) na imprensa e nas redes sociais, ficou claro que o coordenador regional, responsável Terra Indígena Vale do Javari, além de não ter cumprido a quarentena para participar da reunião, sugeriu “meter fogo” nos Korubo para resolver uma situação de iminência de conflito que se desenrola desde o final do ano passado. A fala do gestor público reflete uma situação muito grave: revela a posição genocida e anti-indígena desta nova gestão da Funai e, além disso, demonstra um posicionamento inaceitável em qualquer situação, pois incita um povo indígena contra outro, agravando uma situação que já estava tensa. Em outro momento do áudio, o servidor demonstra sua completa ignorância dos temas indigenistas, pois parece não saber que os indígenas isolados são povos que não estabelecem contatos esporádicos com outros grupos (indígenas ou não), vivendo de forma autônoma, e sem a necessidade de receberem cestas básicas. O gestor público afirma que entregará cestas básicas para um povo indígena isolado. Uma situação totalmente inadmissível! Sabemos que não é o caso, porque o coordenador deve ter feito confusão com os Korubo de recente contato. O que mais uma vez reflete a desarticulação existente na gestão daquele território, pois o coordenador regional deveria apoiar as atividades das Frentes de Proteção Etnoambiental, que normalmente tem vários cuidados na relação mantida com os povos sob sua atenção, evitando interferências e influências que possam comprometer a autonomia desses povos. Assim, a COIAB se soma às manifestações da Organização das Aldeias Marubo do Rio Ituí (OAMI) e da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), que já se posicionaram contra essa incitação de violência promovida por um servidor do órgão indigenista que deveria proteger a vida dos povos indígenas e daqueles que optaram por viver sem contato com as sociedades nacionais na floresta.
Manaus, Amazonas, 23 de julho de 2021. Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB).
Veja a nota na íntegra : Coiab denuncia