17/nov/2025
Foto: Than Pataxó/APIB
Milhares de povos indígenas do Brasil e de todo o mundo se reuniram hoje (17/11) para exigir o pleno respeito aos seus direitos, incluindo a urgente demarcação e proteção de suas terras ancestrais como uma comprovada solução climática. Citando décadas de evidências que mostram que os territórios geridos por indígenas apresentam as taxas mais baixas de desmatamento e são essenciais para salvaguardar a biodiversidade, eles se manifestaram sob o lema “A Resposta Somos Nós”, lembrando os líderes mundiais na COP30 de seu compromisso de colocar os povos indígenas no centro das negociações.
Empunhando faixas e bandeiras que declaram que os direitos Indígenas não são negociáveis, as lideranças pediram que as negociações climáticas reconheçam os povos indígenas como parceiros na proteção das florestas tropicais e dos ecossistemas intactos remanescentes do mundo. Elas enfatizaram a necessidade de uma transição energética justa que respeite seus direitos e interrompa a expansão da extração de petróleo, da exploração e da mineração em seus territórios. Elas ressaltaram que a busca por minerais de transição não pode ocorrer ao custo de invasões, violência ou destruição ambiental.
“Os povos indígenas de todo o mundo estão aqui para confrontar a emergência climática global. O que estamos exigindo é que os governos finalmente garantam os territórios indígenas, porque já está comprovado que essa é uma medida eficaz para proteger as florestas, os rios e a vida”, disse Kleber Karipuna, Coordenador Executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Uma campanha global lançada pelos Povos Indígenas delineia cinco principais demandas que eles estão levando à COP30, ressaltando que são centrais para enfrentar a crise climática. A campanha uniu movimentos sociais e organizações Indígenas no Brasil, na América Latina, na Bacia do Congo, na Indonésia e aliados em todo o mundo.
“Os povos indígenas de todo o mundo estão clamando pelo fim das falsas soluções para a crise climática, incluindo os chamados projetos de energia verde que dependem da mineração em nossos territórios. Uma transição justa não pode nos transformar em vítimas, e não pode sacrificar nossas florestas. Estas são falsas soluções que destroem a nós e as florestas”, disse Rukka Sombolinggi, uma líder Indígena da Indonésia e representante da Aliança Global de Comunidades Territoriais, que une Povos Indígenas e comunidades locais em todo o mundo.
Ao lado da demanda pelo reconhecimento dos direitos territoriais, uma das principais reivindicações do movimento é a proteção dos defensores; os líderes Indígenas e comunitários que arriscam suas vidas confrontando a grilagem de terras, a mineração ilegal, a exploração madeireira e outras invasões territoriais. Seu apelo se tornou ainda mais urgente após o assassinato de um homem indígena Guarani Kaiowá em 16 de novembro, que a comunidade denunciou como um assassinato cometido por um fazendeiro que supostamente atirou em sua cabeça.
Um relatório recente da Global Witness revelou que pelo menos 146 defensores ambientais foram mortos em todo o mundo em 2024, a maioria deles indígenas. Na última década, 2.157 defensores foram mortos por proteger suas terras e outros 96 desapareceram. Acredita-se que o número real seja significativamente maior, pois os casos são frequentemente subnotificados em contextos de tensão política.
Quase 60% das terras dos Povos Indígenas em todo o mundo estão ameaçadas em 64 países pelo desenvolvimento industrial, incluindo pressões ligadas à demanda por energia limpa. Líderes Indígenas enfatizaram que, quando seus direitos territoriais são assegurados, eles podem proteger melhor as florestas e os ecossistemas dos quais o mundo depende para enfrentar a crise climática, e também podem proteger suas próprias vidas e preservar suas culturas. De acordo com um relatório de 2023, 1,375 bilhão de hectares (13,75 milhões de km2) de terras de comunidades indígenas e locais permanecem legalmente não reconhecidos globalmente, apesar de algum progresso. No Brasil, a demarcação de terras avançou, mas a um ritmo muito mais lento do que as comunidades afirmam ser necessário para enfrentar a emergência climática e o aumento do desmatamento, incêndios e outras ameaças.
10/nov/2025
APIB mobiliza mais de 3.000 indígenas e propõe metas nas negociações da conferência
Lideranças da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e de suas organizações regionais participam, a partir de hoje, 10 de novembro, da Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Clima, a COP-30, em Belém, no Pará. A APIB, referência nacional do movimento indígena no país, reivindica que a demarcação e a proteção das Terras Indígenas sejam o legado deixado pela conferência no Brasil.
“Os nossos povos, territórios e modos de vida tradicionais fazem parte da solução para combater a crise climática, mas infelizmente a Conferência das Partes não considera oficialmente os povos indígenas como negociadores. Por isso estamos há meses incidindo com eles para que a demarcação de Terras Indígenas esteja no centro da agenda. Também vamos nos mobilizar nas ruas e mostrar que a mudança precisa acontecer agora”, afirma Dinamam Tuxá, coordenador executivo da APIB.
O Brasil possui atualmente 107 terras indígenas (TIs) aptas para serem demarcadas e que aguardam a finalização do processo: 37 esperam a portaria de declaração e 70, a de homologação. A maior parte das TIs à espera da homologação, última etapa do processo, está concentrada no Mato Grosso do Sul e em São Paulo (10), seguidos pelo Amazonas (9) e Pará (8). Os dados fazem parte de um levantamento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Mas a demanda por demarcação é ainda maior: outras 161 TIs estão em fases anteriores no processo de demarcação, o que revela a dimensão do desafio enfrentado pelo movimento indígena na luta pela garantia de seus territórios reconhecidos e protegidos.
Avanços
Kleber Karipuna, coordenador executivo da APIB, comenta que as articulações para COP30 iniciaram há dois anos e resultaram em anúncios de compromissos antes mesmo do início oficial da COP, como o anunciado pela Parceria dos Líderes Florestais e Climáticos (FCLP), que garante o compromisso inédito de uma meta global de reconhecimento de territórios indígenas e de comunidades locais, ou seja, incluindo metas de demarcação para os próximos cinco anos.
Além disso, tivemos a garantia de no mínimo 20% dos recursos do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) destinados a acesso direto por parte dos povos indígenas e comunidades locais, e o Grupo de Financiadores da Posse Florestal (FTFG) anunciou no dia 06 de novembro, um novo compromisso financeiro de US$ 1.8 bilhão para ações relacionadas ao fortalecimento dos direitos de posse da terra dos Povos Indígenas e Comunidades Locais (IP&LCs).
“A articulação do movimento indígena, não apenas brasileiro, mas em nível global, tem sido intensa nos últimos dois anos. O objetivo era chegar à COP30 com propostas concretas. Em parceria com a Aliança Global de Comunidades Territoriais, também foi crucial o trabalho para garantir um compromisso de reconhecimento territorial. Esse compromisso foi elaborado em conjunto com o FCLP, visando que países e forças somadas mundialmente reconheçam os territórios de povos indígenas, comunidades locais, povos tradicionais, quilombolas e áreas de conservação. O reconhecimento dessas terras é fundamental para o alcance das metas climáticas globais”, diz Kleber Karipuna, coordenador executivo da APIB.
Programação
Para a COP30, a Articulação dividiu suas estratégias em cinco eixos: fortalecimento da Campanha “A Resposta Somos Nós”, articulação política com a Cúpula dos Povos e a Aliança Global de Comunidades Territoriais, incidência nas negociações da COP30 através da elaboração da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) Indígena, agendas de ação e promoção da governança e da participação indígena na COP-30.
Ao todo, mais de 3.000 indígenas devem participar da COP30, que ocorre até 21 de novembro. A COP é dividida em dois espaços oficiais: zona azul e zona verde. A delegação da APIB conta, este ano, com cerca de 360 pessoas credenciadas para a zona azul, espaço restrito da conferência e voltado para as negociações climáticas. No entanto, lideranças da APIB irão somar forças também na Zona Verde, na Aldeia COP, na Cúpula dos Povos e em eventos em diversos espaços da sociedade civil na cidade de Belém.
Entre os destaques da programação, está a abertura da COP Indígena na Aldeia COP, localizada na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), no dia 12 de novembro. O espaço é organizado pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e conta com o apoio do movimento indígena.
A agenda do movimento indígena também possui duas marchas: no dia 15 de novembro será realizada a Marcha Global dos Povos, realizada pela Cúpula dos Povos, e a Marcha Global Indígena – A Resposta Somos Nós no dia 17.
Para saber mais detalhes da programação e das estratégias da APIB para a COP30, acesse o site da organização: https://apiboficial.org/cop-30/.
23/set/2025
O site oficial da campanha “A Resposta Somos Nós” já está no ar.
A campanha “A Resposta Somos Nós” ecoa vozes de diferentes territórios — povos da floresta, das águas, do campo e das cidades — em uma mobilização global urgente pelo clima e pela vida, rumo à COP30, que será realizada em novembro, em Belém (PA). Todas as informações já podem ser acessadas em arespostasomosnos.org.
Os participantes reforçam que a ciência confirma o que os saberes ancestrais sempre apontaram: não há justiça climática sem justiça territorial, social e popular.
A campanha nasceu do chamado dos povos indígenas da Amazônia e do Brasil, lançada pela COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) em junho de 2024. Depois, recebeu a adesão da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), da Aliança Global de Comunidades Territoriais e do G9 da Amazônia Indígena, ganhando força a nível nacional e internacional. Hoje, também conta com movimentos sociais e ativistas de diferentes partes do mundo.
Principais demandas da campanha:
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Direitos territoriais = ação climática: proteger territórios é proteger toda a vida no planeta. Sem reforma agrária, demarcação, titulação, regularização fundiária e proteção integral, não haverá ecossistemas capazes de conter o colapso climático.
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Desmatamento zero: frear a destruição que gera grandes emissões de carbono e devasta os ecossistemas reguladores do clima global é uma urgência.
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Não aos combustíveis fósseis e à mineração: petróleo, gás e carvão são os principais causadores da crise global, e essa indústria bilionária precisa ser desmontada. A campanha também rejeita projetos de transição energética que violem territórios, exigindo uma transição justa, soberana e que priorize a vida sobre o lucro.
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Proteção dos defensores e modos de vida: é necessária proteção imediata e integral para quem defende a terra, as águas, as florestas e o clima. Não haverá política climática justa enquanto persistir a impunidade e violência.
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Acesso direto ao financiamento climático: os recursos para enfrentar a crise devem chegar diretamente a quem está na linha de frente — povos da floresta, das águas, do campo e das cidades. A campanha exige repasses sem burocracia colonial ou intermediários.
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Participação com poder real: rumo à COP30 na Amazônia, os povos exigem presença digna, permanente e com poder de decisão. A justiça climática precisa ser construída com participação efetiva, não a portas fechadas.
Chamado à mobilização global
A APIB convoca organizações e indivíduos a se mobilizarem em comunidades, ruas, praças e centros de poder. A próxima mobilização da campanha “A Resposta Somos Nós” será no dia 13 de outubro.
Organizações parceiras são incentivadas a realizar atos em seus territórios e a utilizar os materiais de mobilização disponíveis em português, inglês, espanhol, francês e bahasa no site da campanha — cartazes, faixas e camisetas já estão prontos para uso.
02/maio/2024
Foto: Ana Pessoa/Mídia Ninja
Os Povos Indígenas do Brasil reuniram-se com mais de uma dúzia de embaixadores de Brasília para apelar aos governos que apoiem a sua agenda para a COP30 com ações rápidas para parar o desmatamento e a violência nas terras indígenas.
Abril de 2024.- O movimento indígena brasileiro busca múltiplos caminhos para garantir que a próxima COP30 possa ser marcada por ações nos territórios. Numa reunião com mais de uma dúzia de embaixadas, pediram aos governos que se comprometessem a pôr termo às actividades extractivas dos seus países em terras indígenas. Enquanto o país se prepara para sediar a próxima COP30, é preciso aliar o discurso à ação no terreno, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Durante o encontro, líderes de todos os biomas do Brasil levantaram as ligações entre a invasão de terras e o interesse estrangeiro, destacando especialmente a violência que as comunidades vivenciam devido ao deslocamento e aos confrontos com invasores e corporações.
“Não receber exportações de soja que estejam ligadas ao sangue indígena. Se um produto vem das nossas terras, é resultado de um ataque direto a nós e está tingido de violência”, disse Norivaldo Mendes, do povo Guaraní Kaiowa e Coordenador Executivo de Aty Guasu e APIB. “As empresas não dizem de onde vem a soja porque não querem perder todos os recursos que nossa terra lhes proporciona”, concluiu.
A delegação reuniu-se com representantes da Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, França, Itália, Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Suíça, Reino Unido, União Europeia e os Ministérios dos Negócios Estrangeiros e dos Povos Indígenas. Esta é a primeira vez que a APIB organiza uma reunião única com um corpo diplomático deste calibre.
Entre os pedidos dos líderes indígenas, eles pediram a esses governos que apoiassem a participação indígena efetiva na COP30 e incluíssem objetivos concretos para a demarcação de Terras Indígenas na próxima atualização das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) do Brasil; implementar financiamento direto às organizações indígenas, adaptando suas operações, instrumentos de monitoramento e avaliação; e priorizar uma nova visão sobre infraestrutura que respeite o Consentimento Livre, Prévio e Informado e que não afete as Terras Indígenas, exigindo explicitamente que nenhum mineral ou petróleo seja explorado em seus territórios.
Os embaixadores ouviram um apelo à responsabilização das empresas pelos danos causados à natureza e aos habitantes das regiões onde operam; e comprometer-se a não financiar ou apoiar projetos caracterizados como lavagem verde.
“Queremos aumentar a rastreabilidade dos produtos vendidos à União Europeia e às grandes economias do Norte Global, porque assim poderão perceber porque denunciamos constantemente ataques violentos de usurpação de terras”, afirmou Dinamam Tuxa, Coordenador Executivo da APIB.
A liderança também pressionou por um debate sobre a expansão da mineração como resposta à crise climática e uma proposta de desenvolvimento “sustentável”. “Não faz sentido vir ao Brasil procurar o que já foi consumido em seus países”, disse a coordenadora executiva Kreta Kaingang, falando de combustíveis fósseis e projetos de mineração. “Não somos contra o desenvolvimento, mas não podemos aceitar um desenvolvimento que se baseie na morte do nosso povo”, acrescentou.
A liderança da Aliança Global de Comunidades Territoriais (GATC) juntou-se às autoridades indígenas brasileiras para a reunião, como parte de sua participação no Acampamento Terra Livre (ATL) para avançar uma agenda conjunta para a COP30 e conclamar outros atores a juntar seus esforços. A presença deles mostrou a articulação entre Povos Indígenas e Comunidades Locais ao redor do mundo.
“Em nome dos Povos Indígenas de nossa aliança, queremos que os governos se juntem a nós para fazer da COP30 um ponto de virada histórico na forma como o mundo enfrenta a crise climática. Se não nos unirmos, talvez tenhamos que nos sentar para escrever o livro de história sobre como a humanidade falhou em viver com a Mãe Terra”, disse Rukka Sombolinggi, em representação dos Povos Indígenas da Indonésia e do GATC.
Os representantes das embaixadas reconheceram o papel de guardião que os Povos Indígenas exercem em seus territórios e se comprometeram a continuar os diálogos com a APIB no caminho para a COP30. Além disso, falaram de seus projetos em andamento e da vontade de continuar investindo e se conectando com as comunidades. Muitos prometeram trabalhar tanto com as organizações indígenas quanto com o governo brasileiro para acelerar a demarcação e a proteção efetiva das terras indígenas, garantindo a autonomia dos povos e fortalecendo a governança territorial.