O canto de Rondinelle Fulni-ô, 42 anos, seguirá ecoando em nossa memória. Ele é o primeiro indígena a falecer por Covid-19 na região Nordeste. Rondinelle era artesão e morreu no dia 23 de abril, mas apenas ontem, dia 1 de maio, o resultado com o diagnóstico positivo para Coronavírus foi divulgado pela Prefeitura de Águas Belas, Pernambuco. Hoje, 2 de maio, um ancião do povo Fulni-ô, que não teve a idade divulgada morreu com suspeita de CoVID-19 na mesma região, onde vivem cerca de 4 mil indígenas.

Os casos de morte e contaminação da Covid-19 entre indígenas seguem aumentando a cada dia no Brasil. Hoje, 26 povos estão afetados diretamente pela pandemia, o caso mais mais recente é a confirmação da chegada do vírus na região Sul. Um casal do povo Kaingang que vive na Terra Indígena Serrinha, nos municípios de Ronda Alta e Três Palmeiras, Rio Grande do Sul, testou positivo para o novo coronavírus. Segundo informações da Frente Indígena e Indigenista de Controle e Combate ao Coronavírus na Região Sul existem outros casos suspeitos na região, que não estão sendo acompanhados e diagnosticado pela falta de testes o que aumenta os riscos de contaminação.

Para nós, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), não são apenas números, são vidas que perdemos e tantas mais que estão em risco. Vivemos tempos alarmantes em que Governo Federal está no centro do agravamento desta crise social e sanitária.

Os povos indígenas vivem a ameaça de um novo ciclo de genocídio no Brasil porque temos comprovada vulnerabilidade em contextos de disseminação de vírus. Na nossa história muitos povos foram dizimados pela propagação de doenças muitas vezes realizada de forma intencional, como no período da ditadura militar.

A Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), organizaçao de base da Apib, tem recebido diariamente denúncias da falta de assistência e testagem para casos suspeitos. Os estados de Pernambuco e Ceará, que concentram a maior quantidade de casos confirmados na região nordeste, estão com os sistemas de saúde colapsados.

A Amazônia segue sendo a região, no Brasil, com a maior quantidade de casos de indígenas infectados e mortos por Covid-19. A doença já chegou a 18 povos na Amazônia, 5 povos que vivem na região Nordeste, 2 povos no Sudeste e 1 povo na região Sul do país.