Foto Bruno Kelly/Amazônia Real
Lideranças e Caciques do povo Kayapó, no sul do Pará, reuniram na aldeia Kayapó Kanhkro, município de Ourilândia do Norte, para pedir o fim da cooperativa Kayapó Ltda, fundada em 2018 pelo cantor e ex-deputado federal Sérgio Reis e pelo empresário João Gesse.
As lideranças denunciam que a cooperativa apenas visa explorar as terras indígenas, com grande extração, exploração agroindustrial, produção e comercialização comum de essências nativas por meio do manejo sustentável da floresta da reserva Kayapó.
Madeireiro desde os anos 80, João Gesse bate continência para Bolsonaro, nutre esperança de prosperidade e lista os culpados pelo atraso na região. Em diversos discursos, declarou que a cooperativa tem o objetivo de “desmascarar as ONGs”, “tirar a Funai” e irá ensinar os indígenas da região “aprender a administrar suas coisas igual a índio americano”.
Não bastasse isso, João Gesse ainda quer acabar com a Associação Floresta Protegida e outras instituições indígenas. Tal absurdo fez com que as lideranças e caciques dos municípios de São Félix do Xingu, Tucumã, Ourilândia do Norte, Pau D’arco, Cumaru do Norte e Bannach se mobilizassem e pedissem a imediata saída da Cooperativa de suas terras.
“Não precisamos de cooperativas comandadas por brancos (não indígenas), temos nossas organizações para nos representar”, declara lideranças em carta – O povo kaiapó tem mais de 11 associações e entidades que representa as aldeias da região e cobram uma urgente intervenção contra a cooperativa.
Desde 2014 os Kayapó convivem com garimpeiros e madeireiros numa vasta área territorial, entre as cidades de Redenção e Tucumã. Em 2019, novos garimpos desmataram 330 hectares de floresta, segundo dados do Sirad-X, da rede Xingu+. É o dobro do registrado em 2018. Estradas ilegais ligam áreas de garimpos distantes mais de 80 quilômetros uma da outra. A exploração madeireira no percurso completa o quadro de devastação.
Além dos principais impactos e crimes já anunciados a cooperativa Kayapó Ltda. pressupõe corromper lideranças, difamar e atacar quem se opõe à destruição da floresta, estratégia que se torna mais fácil diante da inação deliberada do poder público. “O Dia do Fogo”, combinado por fazendeiros pelo WhatsApp sem que o Ibama pudesse impedir, é só um aspecto, o mais visível, do problema. A omissão expõe lideranças comunitárias à violência e ao risco de morte.
Leia a Carta enviada pelas lideranças: CARTA CONTRA COOPERATIVA