A Polícia Federal anunciou nesta quarta-feira, 13/07, que o assassino de Ari Uru-Eu-Wau-Wau foi preso preventivamente numa ação conjunta com o Ministério Público Federal, chamada de Guardião Uru. A Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau Jupaú e a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, no entanto, questionaram sobre a confirmação de dados fundamentais como a identidade do homem e a motivação da morte.

A nota das entidades afirma que “o crime ocorreu em meio à falta de fiscalização, invasões de terras por grileiros, garimpeiros e madeireiros” e espera-se que esta operação ajude a solucionar outros crimes cometidos na região.

As organizações que representam o povo Wau-Wau ressaltaram que esta prisão ocorre um mês após a morte de Bruno Pereira e Dom Phillips, e é importante porque “pode ser vista como um sinal para aqueles que praticam ilegalidades nos nossos territórios de que a Polícia Federal não será leniente”. Elas destacam que o governo Bolsonaro “utiliza uma política de morte, genocida, que atenta contra a vida dos povos indígenas” e estes assassinatos “reforçam a necessidade de proteção das Terras Indígenas e de seus habitantes”, sendo urgentes medidas políticas que “garantam a proteção territorial, cultural e da vida dos povos originários”.

Entenda o caso

Em abril de 2020, Ari foi encontrado morto, com lesões no pescoço e na cabeça, na margem esquerda da RO 010, km 12, em Jaru, Rondônia, enquanto sua moto preta e sem placa estava do outro lado da pista.

De acordo com a PF, as investigações apontam que o motivo do assassinato está relacionado à venda ilegal de madeira no território, onde ele atuava como guardião da floresta e era referência no grupo de vigilância indígena contra a exploração ilegal na região.

Inicialmente o caso foi conduzido pela polícia civil de Jaru, mas devido ao caráter, foi transferido para a alçada federal, no município de Ji-Paraná. Em nota à imprensa, a PF afirma que “as lesões, os vestígios e as circunstâncias apontaram para a ocorrência de morte violenta”. Também foi constatado que não havia sinais de autodefesa, o que aponta o uso de algum tipo de substância que deixou o indígena desacordado. Após as agressões, o criminoso teria movido o corpo para outro local.

A perícia mostrou que a morte ocorreu entre 01h e 3hs da madrugada do dia 18/04. Maiores detalhes ainda serão apurados com a realização da reprodução simulada dos fatos, mas a polícia indicou que o mesmo suspeito já responde a um outro mandado de prisão pela prática de outro homicídio, ocorrido, aproximadamente, oito meses após a morte do indígena.

A família de Ari continua ameaçada e afirma que as invasões de grilagem aumentaram na região. Além disso, alguns parentes foram infectados pela Covid-19 pela intensa circulação de intrusos no entorno da aldeia. No período do crime, ambientalistas declararam que o território Uru-Eu-Wau-Wau é alvo de um número crescente de invasões e que Ari “vinha sofrendo ameaças havia meses por parte de grileiros”. Ainda de acordo com a nota da PF, o nome da operação é uma homenagem a ele, que “sempre lutou pela proteção da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau”.