Mulheres indígenas lotaram a tenda principal no primeiro dia do Acampamento Terra Livre (ATL) 2018, na tarde desta segunda-feira (23). Lideranças de diversos povos falaram sobre a importância de sua participação na política, luta pela terra, saúde de qualidade e educação diferenciada. Foram mais de três horas de plenária e dezenas de mulheres se revezaram ao microfone.

Lideranças das diferentes regiões do país deverão encaminhar propostas e reivindicações discutidas na plenária e que deverão ser incluídas no documento final do ATL.

As falas foram duras: exigiram a demarcação imediata das Terras Indígenas e o fim do ataque aos  direitos indígenas. Se os povos indígenas estão entre os mais vulneráveis sob governos que não acolhem às políticas públicas diferenciadas e de garantias constitucionais, é entre as mulheres que os efeitos do problema podem ser piores.

Carolina Rewaptu, cacique da aldeia Madzabzé, da Terra Indígena Marãiwatsédé (MT) – uma das mais desmatadas no Brasil -, frisou a importância das mulheres indígenas ocuparem os espaços de decisão política: “A gente tem que falar na presença dos políticos. Eles querem acabar com a nossa cultura, as nossas religiões, as nossas histórias. A gente tem que falar na presença deles”. É a primeira vez que a cacique vem ao ATL e prometeu levar as discussões para os parentes que ficaram na aldeia.

Muitas mulheres fizeram coro à fala de Carolina Rewaptu. Tal desejo se encarna no atual calendário eleitoral em Sônia Guajajara, pré-candidata à co-presidência pelo PSOL, ao lado de Guilherme Boulos, que frisou:

“Não viemos aqui porque gostamos de ficar dois dias no ônibus, deixando nossos filhos. Ou porque gostamos de tomar chuva e ficar acampados. Viemos para ocupar os espaços. Quem mais sofre com os empreendimentos, com esse modelo econômico predador, somos nós mulheres indígenas. Precisamos estar nos espaços que tomam as decisões”, apontou.

 

Sonia Guajajara durante plenária das mulheres no ATL. Foto: Mobilização Nacional Indígena

A expectativa diante da candidatura de Sônia, no entanto, é um fruto maduro de uma luta da mulher indígena mais antiga. Não é a primeira vez que dona Isabel Xerente vem ao acampamento. Ao pegar o microfone, a liderança aponta para seus cabelos: “Quantas vezes os parentes já me ouviram falar no ATL? Já estou de ‘cabeça’ branca de tanto caminhar e deixar meus filhos e filhas. Lutamos e vamos atrás da nossa floresta, da nossa árvore, do nosso mato, para pisar em cima da terra. Se a gente tivesse com medo, nós não estava aqui”.

O grande número de mulheres presentes surpreendeu Suzana Xokleng, que atua na luta pela garantia dos direitos da mulher indígena desde a década de 1990, sendo ex-presidente da Associação Nacional das Mulheres Indígenas. “Eu vejo muitas mulheres presentes na plenária, acompanhando a política indígena. Antes não era assim”, contou, de mãos dadas com Tuíre Kayapó, outra grande liderança do movimento das mulheres indígenas. “Somos avós e bisavós e estamos aqui. Vamos nos unir, mulheres, para cuidar das nossas terras tradicionais!”, disse Suzana.

O ATL 2018 acontece vai até a próxima sexta, 27/4, no Memorial dos Povos Indígenas, na Praça do Buriti, em Brasília. Ele é a 15ª edição do ATL