Perfis da Campanha Indígena e da Articulação dos Povos Indígenas do brasil (Apib) sofrem ataques e saem do ar 

Dois ataques ao perfil do Instagram da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e um ao perfil da Campanha Indígena foram registrados nos últimos 30 dias, a maioria após o lançamento da Bancada Indígena, composta de 30 candidaturas aos cargos de deputado federal e estadual, articuladas pelo movimento indígena de base. 

A primeira invasão ocorreu na data de 09 agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, quando houve intensa mobilização e engajamento do perfil. Os outros dois ataques – um ao perfil da Apib e outro ao da Campanha Indígena – ocorreram em 01 e 03 de setembro, respectivamente, retirando do ar as contas por aproximadamente cinco dias. 

Na manhã desta terça-feira, 06.09, as contas voltaram ao ar. A divulgação da Campanha Indígena seguiu no Facebook e em contas de instituições parceiras, além da conta dos candidatos.  

Os ataques foram confirmados pela equipe administrativa da Meta, responsável pelo Instagram. Antes de sair do ar, o perfil da Apib no Instagram registrou, em 24h, mais de 1 mil seguidores novos. No dia seguinte, em 01.09, a conta sofreu um atentado de invasão. 

Principal organização de articulação de base do movimento indígena em nível nacional, a Apib mantém atividade intensa de denúncias de violação dos direitos indígenas e mobilização política, sendo o lançamento da Bancada Indígena uma das estratégias de resistência no âmbito político partidário. 

Para o coordenador executivo da Apib, Kleber Karipuna, que também é responsável pela coordenação política da Campanha Indígena, os atos demonstram o nível de violência contra os povos indígenas ao tentarem calar um importante instrumento de comunicação da mobilização dos povos da floresta. 

“Essa violência se mostra organizada e ativa e, por que não, financiada? Percebemos um monitoramento das nossas ações que incomoda. Essa perseguição nos meios digitais é apenas um reflexo do que vivenciamos na vida real. Precisamos urgentemente de proteção e colocar um fim no genocídio contra os povos originários”, afirma.  

Perseguições que matam

Três indígenas foram assassinados e dois ficaram feridos no último final de semana, em conflitos envolvendo retomada de áreas não demarcadas, política adotada pelo Governo Federal que estimula ainda a pressão do território em áreas já regularizadas. 

Na madrugada de domingo, 04.09, Gustavo Silva da Conceição, Pataxó de apenas 14 anos, foi assassinado durante um violento ataque contra uma retomada na Terra Indígena (TI) Comexatibá, no extremo sul da Bahia. Além de Gustavo, outro indígena de 16 anos foi ferido no braço por um disparo de arma de fogo, que está hospitalizado. 

O ataque foi feito por pistoleiros fortemente armados disparando contra jovens, crianças e mulheres, munidos de armas calibre 12, 32, fuzil ponto 40 e bomba de gás lacrimogêneo, atacou o povo Pataxó.   

A morosidade do governo em demarcar o território tradicional Pataxó, que aguarda desde 2015, foi o principal fato que permitiu a invasão por diversas monoculturas, com destaque ao eucalipto e à agropecuária extensiva. 

Cansados de esperar, no mês de junho de 2022, aconteceu a retomada pacífica de uma área do território que era explorada pela monocultura de eucalipto. A partir de então, houve vários ataques aos Pataxó, conforme as denúncias feitas pelas lideranças, mas sem qualquer providência por parte dos órgãos públicos de segurança.

Na madrugada do dia 03.09, dois indígenas do povo Guajajara foram mortos no Maranhão, e outro encontra-se hospitalizado. Os três são da Terra Indígena Arariboia, sendo um deles integrante do grupo de agentes florestas indígenas “Guardiões da Floresta”. Com autonomia de gestão do território e suas formas próprias de organização, o grupo atua na defesa contra invasores.

Janildo Guajajara e um jovem de 14 anos, também indígena Guajajara, foram vítimas de disparo de arma de fogo na cidade de Amarante (MA), município limítrofe ao território, resultando na morte de Janildo.

Jael Carlos Guajajara foi morto na madrugada do dia 03.09, no município de Arame, que também é limítrofe à Terra indígena Araribóia. A morte teria sido resultado de um atropelamento e os outros indígenas reivindicam o caráter doloso do incidente.

A TI Araribóia é historicamente afetada por violências e vários assassinatos já foram registrados, sem qualquer registro de medida preventiva por parte dos órgãos responsáveis. 

No mês de junho, o Alto Comissarinado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a Relatoria Especial para os Direitos dos Povos Indígenas e os Peritos da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas receberam denúncia dos ataques contra as comunidades Guarani Kaiowá realizados pela Polícia Militar do Mato Grosso do Sul.

O jovem Vitor Fernando, de 25 anos, da Comunidade Guapoy, foi morto pelos policiais após ataques no município de Amambai (MS). Dez pessoas ficaram feridas e três indígenas foram dados como desaparecidos, sendo duas mulheres e uma criança de sete anos. 

O ataque também ocorreu durante a retomada localizada no território Dourados-Amambai Pegua II, a aproximadamente 14km do município de Naviraí (MS).