Cerca de 60 representantes de sete organizações regionais que compõem a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), participaram do Fórum Nacional de Lideranças Indígenas em Brasília. Entre os dias 3 e 5 de novembro, as lideranças discutiram ações importantes que balizaram a criação de um plano de governança indígena para os 100 primeiros dias de Governo Lula a partir de janeiro de 2023.

O plano é o primeiro passo para a reconstrução da agenda indígena no Estado Brasileiro e deve servir como orientação para recuperar e fortalecer os direitos dos povos indígenas que foram atacados e enfraquecidos no mandato de Jair Bolsonaro. 

O documento norteador tem como base as propostas apresentadas na Carta aberta do Acampamento Terra Livre 2022 a Lula, à época pré-candidato à presidência do Brasil, bem como o documento Brasil 2045 – Construindo uma Potência Ambiental, Vol 1 – propostas para política Ambiental Brasileira, elaborado pelas organizações que fazem parte do Observatório do Clima, dentre elas a Apib.

O Plano de governança indígena – 100 primeiros dias de Governo é dividido em seis eixos, sendo eles: 1. Direitos Territoriais Indígenas: Demarcação e Proteção Territorial; 2. Re-estabelecimento de/ou criação de instituições e políticas sociais para povos indígenas; 3. Retomada e/ou criação de instituições e espaços de participação e/ou controle social; 4. Agenda Legislativa: interrupção de iniciativas anti-indígenas no congresso e ameaças no judiciário; 5. Agenda ambiental e 6. Articulação e incidência internacional e composição de alianças e parcerias

“Após o fim do processo eleitoral, há uma avaliação super positiva do movimento indígena. Tivemos em pauta durante a campanha e agora é essencial que o próximo governo entenda a importância de ter um diálogo próximo do movimento. Assim, vamos poder avançar ainda mais e contribuir com as políticas indigenistas brasileiras. Estamos juntos para ajudar a enfrentar tudo o que foi sucateado no nosso país e a Apib quer colaborar com o governo de transição e com Lula a partir de 1º de janeiro”, diz Kleber Kariupuna, coordenador executivo da Apib. 

Além da construção do plano de governança, no encontro as lideranças estabeleceram a criação de um grupo de trabalho que irá acompanhar a transição presidencial e subsidiar na transição com as propostas do movimento. 

O grupo será composto inicialmente por 10 indígenas, todos representantes do movimento indígena, e planeja apresentar para a equipe de transição do Governo Lula a importância da presença dos povos originários no governo federal. A Apib também enviou uma carta a Geraldo Alckmin, vice-presidente da República eleito e Coordenador da Comissão de Transição do Governo Lula, indicando três lideranças indígenas que podem compor o governo de transição. 

“Durante os últimos quatro anos vimos a política indígena e ambiental brasileira ser desmontada. Queremos a revogação das leis e a paralisação dos PLs que nos atacam e incentivam a invasão dos territórios ancestrais. Queremos ser ouvidos e consultados, algo que está previsto na Convenção n. 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e não foi respeitado por Bolsonaro”, afirma a coordenadora executiva da Apib, Eunice Kerexu.