Enquanto organizamos nossa retrospectiva, outra liderança indígena foi assassinada e uma criança Yanomami foi estuprada, no Brasil. Começamos a construção da nossa memória das lutas de 2023 reforçando a nossa Emergência Indígena. Cacique Lucas Pataxó-hã-hã-hãe foi assassinado a tiros em uma emboscada, no dia 21 de dezembro, na estrada de Pau Brasil, no município de Itajú do Colônia, no sul da Bahia. Uma criança de 11 anos foi violentada por quatro pessoas, em Boa Vista, Roraima.

Basta de violência! Seguiremos mobilizados em luta, tocando nossos maracás, para ecoar nossas vozes por justiça e pelo fim das violências contra os povos indígenas.

2023 foi um ano que mesmo diante de diversos avanços nas nossas lutas, as ameaças sobre nossos direitos, culturas e territórios seguiram acirradas. Retomando o “Emergência Indígena”, pois somos obrigados a enfrentar no nosso cotidiano a violência do racismo enraizado na sociedade e nas estruturas do Estado.

O ano mais quente da história ficou marcado pelas ações de resistência e violações de direitos dos povos indígenas. Seguimos afirmando que não existe solução para a crise climática sem povos e territórios indígenas.

Mobilizações nas aldeias, nas redes sociais e nas cidades, pautaram a importância da continuidade das demarcações das Terras Indígenas e a necessidade da tese ruralista do Marco Temporal ser anulada definitivamente. 2023 também foi um período único sobre representatividade indígena nos diversos espaços de poder.

Neste balanço, destacamos as principais mobilizações, ações jurídicas e incidências políticas, que envolveram a Apib e suas organizações regionais dentro e fora do Brasil.

Exaltamos os trabalhos da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste (Arpinsudeste), da Comissão Guarani Yvyrupa, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), do Conselho do Povo Terena e da Assembléia Geral do Povo Kaiowá e Guarani (Aty Guasu).

A Apib junto com suas regionais promoveram cerca de 300 mobilizações em todo o Brasil durante o ano. Mais de 21 milhões de pessoas foram alcançadas nas redes sociais e mais de 17 mil matérias foram publicadas durante o ano, em 93 países.

Confira nossa retrospectiva ‘DIGA AO POVO QUE AVANCE’!

Leia também a retrospectiva feita pelo coordenador jurídico da Apib, Mauricio Terena, e a Carta de fim de ano para um Brasil que nunca quis ser indígena do coordenador executivo da Apib Dinamam Tuxá e do professor Felipe Tuxá.

Mobilizações

Marco Temporal

Conseguimos uma vitória no Supremo Tribunal Federal (STF) com o término do julgamento, que decidiu decretar a ilegalidade do Marco Temporal, mas o grito de vitória não durou muito tempo.

Setores ligados ao agronegócio seguiram travando uma queda de braço no Congresso Nacional com o STF. Parlamentares aprovaram, no dia 14 de dezembro, a derrubada dos vetos de Lula ao PL 2903 e transformaram o Marco Temporal e outros crimes contra os povos indígenas, em lei.

Agora será novamente o STF quem deve decidir, em 2024, sobre a legalidade da lei 14.701/2023 (antigo PL 2903). A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) vai entrar no STF com uma ação para pedir a anulação da lei aprovada pelo Congresso Nacional.

Acampamento Terra Livre

O Acampamento Terra Livre deste ano reuniu, em Brasília, entre os dias 24 e 28 de abril, mais de 6 mil indígenas de todos os cantos do Brasil. A 19ª edição do nosso acampamento, foi a primeira grande mobilização, na capital federal, após os atos golpistas do dia 8 de janeiro e mais uma vez a Apib e todas as organizações do movimento indígena deram uma lição de luta democrática.

Com o tema “O FUTURO INDÍGENA É HOJE. SEM DEMARCAÇÃO NÃO HÁ DEMOCRACIA”, o movimento indígena decretou EMERGÊNCIA CLIMÁTICA e promoveu alertas e incidências contra os projetos de morte que estão no Congresso Nacional. O novo ciclo de mobilizações contra a tese do marco temporal foi iniciado durante o ATL 2023 e foi no último dia de mobilização que o Governo Federal atendeu uma reivindicação histórica do movimento.

Demarcação Já

Ao fim do ATL 2023, a Apib e suas sete regionais destacaram a demarcação de terras como ação prioritária do movimento indígena e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, assinou os decretos de homologação de seis Terras Indígenas (TI), sendo elas:

TI Arara do Rio Amônia (AC)

TI Tremembé da Barra do Mundaú (CE)

TI Rio dos Índios (RS)

TI Avá-Canoeiro (GO)

TI Kariri-Xocó (AL)

TI Uneiuxi (AM)

O ato quebrou um jejum de quase seis anos sem a garantia deste direito fundamental dos povos indígenas. A Apib reconhece as vitórias da mobilização, com o retorno de demarcações de territórios indígenas. Um das TI, Uneiuxi, localizada no estado Amazonas, tem a presença de povos em isolamento voluntário. O processo para sua efetivação já caminhava a passos lentos, há 40 anos. A recriação do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) e a criação do Comitê Gestor da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI) somam às conquistas desta edição do Acampamento.

No dia 5 de setembro, dia da Amazônia, outras duas TIs foram homologadas:

TI Rio Gregório (AC)

TI Acapuri de Cima (AM)

A Apib e suas organizações seguem cobrando pela demarcação imediata das 6 Terras Indígenas restantes, que estão na relação de 14 Terras, que deveriam ser homologadas nos primeiros 100 dias do Governo Lula, como indicado pelo relatório do Governo de Transição.

Mulheres Indígenas

As mulheres indígenas promoveram duas grandes mobilizações nacionais, em 2023. A pré-marcha das mulheres indígenas entre os dias 29 de janeiro e 01 de fevereiro e a III Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, entre os dias 11 e 13 de setembro, mobilizados pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). Ambas atividades foram realizadas, em Brasília, e reuniram no total cerca de 8 mil mulheres, que vivem em todos os biomas do Brasil.

As mobilizações fortaleceram as lutas dos povos indígenas e também foram determinantes para as pressões contra a tese ruralista do Marco Temporal. Destacamos também as inúmeras mobilizações que aconteceram nos territórios das organizações de mulheres de todos as regiões e biomas do Brasil.

Fórum de Lideranças

Mais de 50 lideranças de todas as regiões do país, que representam as sete organizações regionais de base da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e compõem o Fórum de Lideranças, estiveram reunidas de 23 a 26 de fevereiro, na Terra Indígena Renascer Ywyty Guaçu, em São Paulo.

Foram quatro dias de atividades de planejamento estratégico para organizar as ações de 2023, olhando o presente e aprendendo com a resistência ancestral dos antepassados. Os desafios do movimento indígena pela garantia de direitos seguem vivos, por isso é necessário estar organizados.

O momento reforçou a proposta de governança indígena da Apib, que quer fortalecer as organizações de base da Apib, ampliar e qualificar a participação e controle social do movimento indígena na construção de políticas públicas.

Retomada do CIMC

Durante a programação do ATL, foi reativado o Comitê Indígena de Mudanças Climáticas (CIMC). O Comitê foi criado em 2015 mas estava paralisado desde o governo Temer, devido à redução ou eliminação dos espaços de participação social no governo federal. O CIMC pretende posicionar o movimento indígena na discussão desse tema a nível nacional e internacional, além de aumentar a interlocução com os governos.

Sinéia do Vale, do povo Wapichana, é referência na temática e está à frente da retomada e da coordenação do CIMC nacional. “A proposta da retomada está sendo construída e debatida com as organizações indígenas, mas a intenção é instituir CIMCs regionais que irão dialogar com o nacional. Agora, a discussão não se restringe mais à Amazônia. Precisamos proteger todos os biomas e territórios”, explica ela.

Juventude

A juventude indígena esteve mobilizada durante todo o ano de 2023. Foram realizadas dezenas de encontros e assembleias de juventude nos territórios de todas as regiões do Brasil. Essas ações buscaram promover debates e formações com o objetivo de fortalecer a juventude com as ações do presente que visam o nosso futuro indígena.

Internacional

A Apib mobilizou agendas de denúncia internacional, em conjunto com suas organizações de base, em agendas centrais para os povos indígenas.

Em meio ao cenário a cada ano mais desafiador para reverter o descaminho que afasta a todos da meta mundial de limitar o aquecimento do planeta em 1.5ºC, os povos indígenas foram mais uma vez reconhecidos como lideranças globais para a sonhada transformação que levaria ao alcance das metas do Acordo de Paris, nos discursos de abertura da 9ª reunião do Grupo de Trabalho Facilitador da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas (LCIPP, na sigla em inglês), que tradicionalmente abre as atividades da Conferência do Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Técnico (SBSTA) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), em Bonn, na Alemanha. A atividade aconteceu entre os dias 31 de maio e 3 de junho.

O coordenador executivo da Apib, Dinamam Tuxá, esteve, em Genebra, no final do mês de junho, para denunciar as ameaças do Marco Temporal, durante a 138ª Sessão do Comitê de Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas (ONU). Na sequência, Dinamam realizou agendas de incidência junto ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, para mobilizar aliados internacionais contra a proposta do marco temporal e para dialogar sobre a lei Anti Desmatamento do Parlamento Europeu, que viola o direito dos povos indígenas e não reconhece os diversos biomas do Brasil, ameaçados com o desmatamento.

A Apib tem realizado um trabalho de litigância estratégica perante Tribunais Internacionais, nesse sentido a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil tem eleito a Corte Interamericana de Direitos Humanos como um espaço fertil para denunciar as violações de Direitos Humanos que ocorrem no país em desfavor aos povos indígenas, o JUR/APIB atua nas medidas cautelares do povo Pataxó, Guarani Kaowá, Yanomimi, Munduruku e Guajajara. Além disso, o Departamento Jurídico mantém uma comunicação no Tribunal Penal Internacional, que visa condenar Bolsonaro pelo crime de genocio.

A Semana do Clima, em Nova York, e a COP 28, em Dubai, também foram espaços importantes de incidência política internacional da Apib e suas organizações. Nos Estados Unidos a comitiva indígena reforçou mobilizações contra o Marco Temporal e pela continuidade da demarcação das Terras Indígenas. Já nos Emirados Árabes, a Apib cobrou demarcação como principal compromisso climático e denunciou os riscos de exploração de petróleo em Terras Indígenas.

Vivenciamos com mais frequência eventos climáticos extremos, que afetam em cheio nossos povos. Somos nós, os protetores de 80% de toda a biodiversidade do planeta, segundo dados da ONU. E acessamos diretamente menos de 1% do financiamento climático global.
A responsabilidade da preservação não pode ficar apenas com os povos indígenas. Devemos cobrar os países colonizadores e ricos, mas não podemos esperar que eles façam por nós o que nunca fizeram. Se eles são desenvolvidos, foi às custas das nossas riquezas e do nosso sangue.

Por isso a Apib participa dos principais eventos globais sobre as mudanças climáticas para afirmar: NÃO EXISTE SOLUÇÃO PARA A CRISE CLIMÁTICA SEM POVOS E TERRITÓRIOS INDÍGENAS!

Governança, participação e controle social

Em janeiro de 2023, retomamos os trabalhos do GT de Governança Indígena reafirmando seu caráter autônomo. Para além do período de transição governamental e dos 100 primeiros dias do novo Governo Federal, o GT propõe-se a monitorar permanentemente a implementação das políticas públicas para povos indígenas. Avaliamos que a participação do movimento indígena nas políticas públicas tem se dado de forma reativa, em consequência do cenário de constantes ameaças aos nossos direitos, de intensificação da violência, e de degradação ambiental dos nossos territórios. Assim, esperamos que haja o efetivo comprometimento político para implementação de nossos direitos e que possamos colaborar de forma mais propositiva.

Reconhecemos, portanto, o início de um novo cenário para a política indigenista com a instituição do Ministério dos Povos Indígenas, assim como a nomeação de indígenas para o cargo de presidente da Funai e para a Sesai. Nossa expectativa sobre a presença dos povos indígenas nas instituições de governo, é que possam transformar estes espaços e garantir o fortalecimento de mais uma frente aliada para o avanço na implementação de políticas públicas.

A Apib e suas organizações regionais de base participam dos seguintes espaços de conselhos/comitês como forma de participação e controle social nas políticas voltadas aos povos indígenas:

  • Gabinete de Crise / Povo Pataxó
  • Fórum de Presidentes de CONDISI
  • Conselho Nacional de Meio Ambiente
  • Comitê Gestor da PNGATI
  • Conselho Deliberativo do Fundo Nacional de Meio Ambiente
  • Comitê de Assessoramento do Grupo Gestor do Programa de Aquisição de Alimentos
  • Conselho Nacional de Política Indigenista
  • Comitê Gestor do Fundo Clima
  • Fundo Biomas Indígenas
  • Composição do Comitê Interministerial de Coordenação, Planejamento e Acompanhamento das Ações de Desintrusão de Terras Indígenas
  • Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA)
  • Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf)
  • Conselho Consultivo Sobre Gestão Pública, Saúde e Mudanças Climáticas – Fiocruz
  • Conselho Nacional de Direitos Humanos

Emergência Indígena

2023 foi marcado pela violência contra os povos indígenas. Uma realidade que impõe o empenho e aprofundamento de ações e políticas de defesa dos nossos povos e nesse sentido a Apib relançou a campanha Emergência Indígena.

Luta Guarani Kaiowá

Com a violência sistemática contra os povos indígenas Guarani e Kaiowá, em Mato Grosso do Sul (MS), a Apib apresentou no dia 17 de abril uma nova Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal (STF). A medida é histórica e tem como objetivo combater a violência e as violações de direitos dos povos indígenas no Estado. O protocolo ocorreu após a prisão de dez indígenas dos povos Guarani, Kaiowá e Terena durante a retomada de parte do território ancestral tekoha Yvu Vera, no município de Dourados (MS), que aguarda a demarcação pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

A taxa de homicídios praticados contra a população indígena no estado de Mato Grosso do Sul é alarmante. De acordo com dados do Atlas da Violência de 2021, em 2019 a taxa contra indígenas era de 44,8 para 100 mil habitantes, representando uma média superior à média geral do Estado de 17,7 e mais que o dobro da média nacional de 21,7.

Casal rezadores Kaiowá e Guarani morreram carbonizados em incêndio criminoso, em setembro de 2023. Invasões, torturas e casos de racismo seguiram acontecendo ao longo de todo o ano.

Em 2022, a Apib denunciou ao menos dois casos de homicídios contra os Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul. O primeiro deles foi no dia 24 de junho quando o indígena Vítor Fernandes foi morto na retomada do território ancestral Guapoy, atualmente registrada como uma fazenda. Vítor foi vítima de uma ação violenta da Polícia Militar, que deixou cerca de dez feridos e ficou conhecido como Massacre de Guapoy.

Semanas depois, Márcio Moreira foi assassinado em uma emboscada no dia 14 de julho. Lideranças Guarani Kaiowá apontam que o crime foi uma retaliação contra a ação de retomada e a repercussão do massacre.

Luta Pataxó

As violências contra o povo Pataxó, na região sul da Bahia, seguiram intensas nos primeiros meses de 2023. Um processo agravado das violencias nos últimos quatro anos e que levaram ao assassinato de diversos indígenas seguiu no inicio do primeiro semestre. A Apib, Apoinme e diversas organizações indigenistas promoveram denúncias nacionais e internacionais para reverter essa situação e realizaram articulações em instâncias do Governo Federal e Estadual.

Samuel Divino, 25 anos, e Inauí Brito, 16 anos, ambos do povo Pataxó, foram perseguidos e assassinados no dia 17 de janeiro. Este é mais um crime da milícia que tem espalhado o terror entre os indígenas da região. Há meses as comunidades dos Territórios Indígenas de Barra Velha e Comexatibá vem denunciando a atuação dos criminosos, que ameaçam o povo Pataxó diariamente, disparam tiros contra suas casas, impedem a livre circulação no território e matam jovens.

Em setembro de 2022, Gustavo Silva, uma criança de 14 anos, foi executado com um tiro na cabeça pelos mesmos milicianos, no município vizinho, Prado. No dia 27 de dezembro de 2022, a aldeia “Quero Ver”, do povo Pataxó, foi invadida por homens armados e encapuzados que metralharam casas na comunidade.

A TI Barra Velha do Monte Pascoal abrange áreas em quatro municípios do sul da Bahia: Itabela, Itamaraju, Porto Seguro e Prado. A região desperta o interesse não apenas de empresários do setor agropecuário, mas também de empresas do setor de turismo, o que vem desencadeando muita especulação imobiliária. Entenda o histórico da sobreposição de terras AQUI.

Diante desse cenário de violência, a Apib peticionou perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e conseguiu na semana do acampamento terra livre a concessão de Medidas Cautelares para proteção do Povo Pataxó, essa incidência foi articulada por meio do departamento jurídico da Apib com organizações parceiras.

Crise Humanitária Yanomami

O ano de 2023 iniciou com uma série de ações, promovidas pelo Governo Federal, para atender às inúmeras solicitações feitas pelas organizações indígenas sobre as violências sofridas pelo povo Yanomami, no estado de Roraima. A morte de mais de 500 crianças, assassinatos, estupros, trafíco de pessoas, aumento do crime organizado dentro da Terra Indígena Yanomami e da destruição de grandes áreas do território causadas pelo garimpo ilegal, faz parte da gestao anti-indígena do governo Bolsonaro.

No dia 26 de janeiro a Apib e Coiab entraram com representaçao criminal na Procuradoria Geral da República (PGR) contra o ex-presidente do Brasil, Bolsonaro, e seus aliados: Marcelo Xavier, ex-presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Damares Alves, ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e Robson Santos, ex-secretário de saúde indígena da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), para que eles sejam responsabilizados criminalmente pelo genocídio dos Yanomamis, em Roraima.

A representação criminal da Apib também relembra que 21 ofícios com pedidos de ajuda dos Yanomami foram ignorados por Bolsonaro feitas pela Coiab e pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR). No relatório “Yanomami sob ataque”, publicado em 2021, a Hutukara Associação Yanomami e a Associação Wanasseduume Ye’kuana relataram o aumento das doenças decorrentes do garimpo.

Os conflitos seguem na região e a Apib, Coiab, Cir, Hutukara Associação Yanomami, a Associação Wanasseduume Ye’kuana e a Associação URIHI seguem agindo e cobrando ações efetivas do Estado brasileiro contra as violências contra o povo Yanomami.

“Nós ainda estamos sofrendo”. Confira o balanço realizado sobre os primeiros meses da emergência Yanomami.

Dossiê

No dia 9 de junho, o Observatório de Justiça Criminal e Povos Indígenas, iniciativa da Apib, lançou o dossiê “Povos Indígenas e Sistema de Justiça Criminal da América Latina”. “O documento joga luz na invisibilidade contra os povos indígenas dentro do sistema de injustiça. Existem diversos mecanismos legais que dão tratamento especial para os parentes e isso é negado, pois o sistema judicial ainda é muito racista. É comum a gente encontrar em decisões judiciais fundamentações como: ‘não é mais indígena porque fala português’ e ‘não é mais indígena porque usa celular’, por exemplo”, diz Maurício Terena, coordenador do departamento jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e integrante do observatório. Confira o dossiê completo aqui.

Mina de Sangue

A Apib, por meio do departamento jurídico, denunciou uma série de violações aos direitos dos povos indígenas no projeto de mineração da empresa Belo Sun em Volta Grande do Xingu, no estado do Pará. A análise foi publicada no relatório “Mina de sangue – Relatório sobre o projeto da mineradora Belo Sun”, produzido pela Apib e publicado, no dia 29 de junho.

No relatório, a Apib pontua as omissões, ilegalidades e intimidações por parte da mineradora contra os povos originários Volta Grande do Xingu, no Pará

Educação Indígena e Políticas ameaçadas

A medida provisória (MP) 1154 do governo Lula que reorganiza os ministérios, publicada no Diário Oficial da União no dia 19 de junho, não cita a educação indígena como uma das competências do Ministério da Educação (MEC) e utiliza o termo “educação geral”. Para a Apib, o termo ignora a existência da educação escolar específica, diferenciada, intercultural, bilíngue/multilíngue e comunitária para os povos indígenas, garantida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e na Constituição Federal de 1988.

Além da educação indígena, a medida retira do MEC atribuições históricas como a educação do campo, de direitos humanos e quilombolas, representando um esvaziamento da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetizada de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi) que possui uma diretoria de “Políticas de Educação do Campo, Indígena e para Relações Étnico-raciais”. A pasta foi extinta por Jair Bolsonaro e recriada por Lula.

“A educação indígena é um direito conquistado pelo movimento social. É um absurdo que isso tenha sido ignorado pelo governo, que apresentou o texto ao Congresso Nacional dessa forma”, disse o coordenador executivo da Articulação, Dinamam Tuxá.

No dia 1 de junho, o Senado Federal aprovou a MP 1154 com 51 votos a favor. A MP estava tramitando em regime de urgência no Congresso Nacional e já tinha sido aprovada pela Câmara dos Deputados. Senadores e deputados federais aprovaram o texto-base elaborado pelo deputado Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), relator na comissão mista que analisou a MP.
Com a aprovação, o Ministério dos Povos Indígenas deixou de ser responsável pela homologação de terras indígenas, que passa ser competência do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).

2023 também foi um desafio para o fortalecimento da educação indígena e reforçamos aqui a realização do VII Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena. A Fneei vem articulando a criação de importantes espaços de organização desta política fundamental para nossos povos. A Apib reforça a importância de maior atenção do Ministério da Educação para uma política diferenciada e de qualidade para os povos indígenas.

Uma Diretoria de Educação Indígena na estrutura do MEC e a criação de uma Universidade Indígena são algumas das propostas, que precisam ser atendidas e organizadas pelo Governo.

Conquistas

Advocacia Indígena

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, no dia 20 de junho, a criação de cotas para indígenas nos concursos públicos do Poder Judiciário. A medida estabelece percentual de ao menos 3% das vagas oferecidas nas concorrências e faz parte de uma luta histórica da advocacia indígena.
“Nós do Departamento Jurídico da Apib, fizemos diversas incidências junto aos conselheiros. Encaminhamos memoriais, pedimos audiência, etc… para que o percentual fosse de 5%. A luta continua para que esse percentual aumente. Nunca mais um judiciário sem nós!”, destacou o coordenador jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Maurício Terena.

Outra conquista da advocacia indígena no primeiro semestre, que possui incidência da Apib, foi a instauração, no dia 21 de junho, do Grupo de Trabalho criado para analisar o ‘Estatuto dos Povos Indígenas’ (‘Estatuto do Índio’). O ineditismo dessa ação é a representatividade, pois todo o processo será liderado por juristas indígenas. A reformulação e proposições de mudanças nessa legislação, fundamental para os povos, será analisada por advogadas e advogados indígenas. O GT é coordenado pelo MPI.

Para além, dessas articulações a advocacia indigena tem realizado um trabalho importante sobre

Gestão Territorial

A Apib promoveu, entre os dias 3 e 6 de abril, em Brasília, um seminário que pautou o retorno da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI). A atividade discutiu ferramentas de implementação e controle da PNGATI e mecanismos de financiamento, além de participar de plenárias e grupos de trabalho onde foi organizado um documento com propostas para o próximo ano da política.

“Este momento é muito importante para os povos indígenas, pois marca o retorno do debate sobre gestão territorial e ambiental de Terras Indígenas longe do desgoverno Bolsonaro. Estamos unindo forças para combater tudo o que foi negligenciado pelo Estado Brasileiro nos últimos quatro anos e construir o futuro indígena a partir da demarcação dos territórios e da garantia dos direitos ancestrais”, afirmou Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Apib.

A PNGATI é uma política pública vinculada à Funai e criada por decreto presidencial em 2012. Ela é a primeira política indigenista construída de modo participativo e representa um avanço na gestão autônoma e sustentável dos territórios indígenas no Brasil. Paralisada desde 2018, na gestão Bolsonaro. No dia 3 de julho, a Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, anunciou a volta do Comitê Gestor da PNGATI, que foi instituída via decreto, assinado em 28 de abril deste ano, durante o encerramento do ATL 2023, pelo presidente Lula.