A humanidade vai enfrentar seus piores momentos desde a 2ª Guerra Mundial. Epidemias são terríveis para a sociedade, mas sabemos que para os povos indígenas o impacto é ainda maior. A gripe, a varíola e o sarampo foram algumas das doenças introduzidas em nossos territórios por não indígenas e que exterminaram muitos dos nossos antepassados.
O coronavírus é mais uma dessas ameaças. É preciso ter um olhar direcionado aos povos indígenas com o aumento da pandemia mundial. Os efeitos para nós podem ser devastadores! O nosso modo de vida comunitária pode facilitar a rápida propagação do vírus em nossos territórios caso algum de nós seja contaminado.
Doe agora para a APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, com o valor arrecadado vamos comprar alimentos, remédios e material de higiene para as nossas aldeias.
Por Luiz Eloy Terena (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil)
Considerando a de situação de pandemia do novo coronavírus reconhedico pela Organização Mundial da Saúde – OMS, o Conselho Nacional de Justiça expediu a recomendação n. 67/2020 dispondo sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do novo coronavírus.
O documento traz recomendações aos Tribunais e magistrados para a adoção de medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo coronavírus – Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo.
Dentre elas, algumas destinadas à indígenas presos:
• Recomenda aos magistrados competentes para a fase de conhecimento na apuração de atos infracionais nas Varas da Infância e da Juventude a adoção de providências com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de disseminação do vírus, a aplicação preferencial de medidas socioeducativas em meio aberto e a revisão das decisões que determinaram a internação provisória, notadamente em relação a adolescentes: gestantes, lactantes, mães ou responsáveis por criança de até doze anos de idade ou por pessoa com deficiência, assim como indígenas, adolescentes com deficiência e demais adolescentes que se enquadrem em grupos de risco;
• Recomenda aos magistrados com competência para a fase de conhecimento criminal que reavaliem as prisões provisórias, nos termos do art. 316, do Código de Processo Penal, priorizando-se: a) mulheres gestantes, lactantes, mães ou pessoas responsáveis por criança de até doze anos ou por pessoa com deficiência, assim como idosos, indígenas, pessoas com deficiência ou que se enquadrem no grupo de risco;
• Recomenda aos magistrados com competência sobre a execução penal que consideram a concessão de saída antecipada dos regimes fechado e semiaberto, nos termos das diretrizes fixadas pela Súmula Vinculante no 56 do Supremo Tribunal Federal, sobretudo em relação às: a) mulheres gestantes, lactantes, mães ou pessoas responsáveis por criança de até 12 anos ou por pessoa com deficiência, assim como idosos, indígenas;
• Recomenda aos magistrados que, no âmbito de suas atribuições, informem à Fundação Nacional do Índio – Funai, à Secretaria Especial de Saúde Indígena – Sesai, ao Ministério Público Federal e à comunidade interessada a respeito da adoção de medidas que afetem diretamente pessoas indígenas privadas de liberdade, especialmente quanto ao diagnóstico de Covid-19 e à concessão de liberdade provisória ou medidas em meio aberto, observando-se o tratamento jurídico-penal diferenciado a que fazem jus e os procedimentos descritos na Resolução CNJ no 287/2019.
ACoordenaçãodasOrganizaçõeseArticulaçõesdosPovosIndígenasdo Maranhão – COAPIMA, esteve reunida nos dias 01 e 02 de março de 2020 na aldeiaMaçaranduba,TerraIndígenaCaru,BomJardim–MA,realizandoanossa VI AssembleiaOrdinária.
Nossa assembleia contou com significativa representação dos povos indígenasdoMaranhão,somandomaisde300participanteslegítimosdosPovos Ka’apor, Gavião, Mermotumré-Kanela, Apãnjekra-Kanela, Guajajara, Awá Guajá, Krikati, Tremembé, e Krenyê, representando dessa maneira os seus Territórios e os povos indígenas do estado do Maranhão. Contamos ainda com a participação de parceiros e aliados históricos do Movimento Indígena, de InstituiçõesIndigenistas,deDefesadosDireitosHumanos.Estiverampresentes conosco representantes da COIAB, e UMIAB e Secretaria de Direitos Humanos e participaçãopopular.
Foram dois dias de intensos debates, para análise da atual conjuntura política, memória do movimento indígena no Maranhão, fortalecimento das alianças com outros movimentos sociais do campo e cidade .
Asrepresentaçõesindígenasreafirmaramaimportânciadofortalecimento da autonomia indígena, da valorização de suas culturas, de seus processos de gestão ambiental e territorial com base nas economias indígenas, em oposição aos planos desenvolvimentistas e integracionistas que estão sendo programadas e executadas pelo atual governo, vindos principalmente pelo governo federal e seus aliados noCongresso.
Muitas falas se referiram ao intenso assédio promovido por agentes governamentais junto aos nossos parentes, baseados em mentiras, falácias e promessas vazias de desenvolvimento, que objetivam exclusivamente à usurpação de nossas terras e dos bens comuns. Nesse sentido, reafirmamos categoricamente que os povos indígenas do Maranhão não vão pactuar com esse modelo extremamente predatório que destrói nossas territórios, nossas florestas, nossa biodiversidade, nossos encantados, nossas culturas.
Portanto, sabemos de nossa relevância para além de nossas aldeias e porissomesmonãoaceitaremosquenosdesrespeitemcomprojetosnocivosde mineração e de exploração desenfreada de nossas matas, seja para o agronegócio, seja para pecuária extensiva, ou qualquer outra medida que busque acabar com nossas culturas e meios devida.
Também reafirmamos que continuaremos reagindo não somente às políticas destruidoras que estão sendo impostas pelo governo Bolsonaro, mas também contra seus insultos, suas ofensas, seu racismo explícito e suas mentiras que buscam ferir nossas honras e nossas dignidades.
Vivemosesomospartedademocraciabrasileiraelutaremosatéofimpor ela, junto aos demais movimentos sociais e segmentos da sociedade que estão sendo igualmente atacados covardemente pelo atual governo, que não se propõe em nenhum momento a um diálogo justo e igualitário, veiculando mentiras, confundindo e tentando dividir nossospovos.
Reafirmamos que não adianta insistir pois não vão conseguir nos dividir, secularmente estamos juntos, discutindo e debatendo nossos problemas e encontrando nossas soluções sempre no coletivo. E assim continuaremos. Nesse sentido, nos solidarizamos com as comunidades quilombolas, às mulheres, aos movimentos de luta pela reforma agrária, comunidades tradicionais, à classe trabalhadora do campo e da cidade, às comunidades extrativistas, aos movimentos LGBTs e todos que estão sob forte ataque desse governo que age contra a democracia e contra os direitos e dignidades das pessoas que formam esse país.
Venceremos o discurso e as atitudes de ódio desse governo com mais união, com mais luta, com mais solidariedade entre os povos. Queremos deixar bem claro que saímos mais fortalecidos dessa Assembleia, uma força que não dependededinheiro,massimdonossocompromissocomavida,comorespeito aos nossos antepassados e aos nossosencantados.
Aproveitamos para nos comprometer em apoiar a luta dos parentes que estão com os processos de demarcação de terra interrompidos pelo atual governo e lutaremos juntos até que todos os povos tenham seus direitos territoriais garantidos pela Constituição de 1988 respeitados.
Também repudiamos veementemente o PL 191/2020, que pretende adoecernossasterrascomaexploraçãodesenfreadaderecursosminerais.Não negociaremos 1 milímetro de terra para a exploração de minérios, que vão favorecer grandes empresas do Brasil e do exterior, enquanto para os povos indígenas fica apenas um grande rastro dedestruição.
GostaríamosdeinformaraogovernoBolsonaroeseusapoiadoresqueos povos indígenas possuem modelos de economia própria, não somos, entraves ao desenvolvimento do país. Pelo contrário, lutamos pela valorização das nossaseconomias,nossosjeitosdeproduzireutilizarnossosrecursosnaturais, pois temos convicção que são elas que trarão o real desenvolvimento do país: geraçãoderendasemdestruirnossasterraseomeioambiente,apartirdeuma relaçãoquenãosebaseianapropriedadeindividual,masdarelaçãocomo
sagrado,aplenamanifestaçãodapróprianaturezaquejuntaosvárioselementos essenciais às nossas vidas e das nossas futuras gerações. São inúmeros os projetos indígenas que caminham nesse sentido em todo o país e também no Maranhão. A sociedade brasileira pode aprender com a gente, estamos dispostos aensinar.
Concluímos a nossa Assembleia afirmando que não temos nenhuma dúvida do que queremos desenvolver em nossos territórios que conservam e preservam a biodiversidade do Maranhão, não temos dúvidas que ajudamos a equilibrar o clima no planeta, não temos dúvidas que a nossa segurança alimentarésagradaevemdosnossosalimentostradicionais,queanossasaúde estáligadaanossamedicinatradicional,queanossaespiritualidadeéancestral, que somos povos originários, e que toda a nossa reprodução física e cultural só é possível se tivermos os nossos territórios respeitados, livres de invasões, ameaças eviolências.
A Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão vem manifestar a sua posição relacionada a conjuntura política brasileira, a qual vem desrespeitando, ameaçando e afetando gravemente os nossos direitos.
Fizemos um denso e aprofundado diálogo sobre a conjuntura política nacional por ocasião da realização de nossa IV assembleia geral.
Não foram poucas as falas que relataram o quanto a conjuntura política nacional, e os Três Poderes do Estado Brasileiro, têm sido nocivos aos nossos modos de vida, nos criminalizando, ameaçando rever os limites dos nossos territórios, estimulando o avanço do agronegócio, a mineração e o desmatamento dentro dos nossos territórios. Dia a dia tem buscado retroceder os nossos direitos constitucionalmente conquistados desde 1988.
Nossa assembleia realizada nos dias 28 e 29 de fevereiro de 2020 na aldeia Maçaranduba, Terra Indígena Caru, Bom Jardim – MA que contou com a efetiva representação de mais de 160 participantes do Povo Ka’apor, Gavião, Mermotumré-kanela, Apãjnekra-kanela, Guajajara, Awá Guaja, Krikati, Tremembé e Krenyê. Contamos também com a participação de importantes parceiros e aliados do Movimento Indígena, de Instituições Indigenistas, de Defesa dos Direitos Humanos, em âmbito local, regional e nacional. Estiveram presentes conosco nossas parentes aliadas do Povo Baré, Wapichana e Taurepang.
Caciques, lideranças que não estiveram presentes, também importantes na nossa trajetória, foram aqui lembrados, nossos ancestrais foram evocados.
Muitas de nós expressamos de várias formas o quanto é orgulhoso fazer parte dessa caminhada de luta das Mulheres Indígenas, uma caminhada que não é fácil, que é marcada por muitos desafios, por muitos sacrifícios, mas sobretudo marcada por muitas inspirações, espiritualidade e respeito.
Não temos nenhuma dúvida do que queremos desenvolver em nossos territórios que conservam e preservam a biodiversidade do Maranhão, não temos dúvidas que ajudamos a equilibrar o clima no planeta, não temos dúvidas que a nossa segurança alimentar é sagrada e vem dos nossos alimentos tradicionais, que a nossa saúde está ligada a nossa medicina tradicional, que a nossa espiritualidade é ancestral, que somos povos originários, e que toda a nossa reprodução física e cultural só é possível se tivermos os nossos territórios respeitados, livres de invasões, ameaças e violências.
Nos preocupamos também com os povos que ainda não possuem os seus territórios garantidos, e vamos lutar juntas por isso.
A nossa relação com os nossos territórios não é uma relação de propriedade, mas sim uma relação com o sagrado, a plena manifestação da própria natureza que junta os vários elementos essenciais às nossas vidas e das nossas futuras gerações.
Nesses dois dias rememoramos a nossa trajetória desde a constituição da AMIMA até os dias atuais, discutimos e identificamos desafios da nossa atuação e indicamos caminhos para manter a nossa caminhada em defesa de nossos direitos.
Hoje vemos o movimento mais forte, com cada vez mais mulheres participando de espaços de mobilização tanto nas comunidades, como nacional e internacionalmente. Isso é fruto do trabalho das mulheres que lutaram antes de nós. Com o maior envolvimento das mulheres no movimento indígena vamos aprendendo cada vez mais e lutando pela nossa autonomia para que ninguém mais fale por nós.
Não queremos ser mais do que os homens, queremos nosso espaço e lutar juntos porque entendemos que a luta pelos nossos direitos é de todos nós, então temos que envolver também os jovens, os homens e desde pequenos já ir educando nossos filhos. Enfrentamos muitos desafios como o preconceito, a dificuldade de deixar nossos filhos e nossas famílias para participar das reuniões, dificuldade financeira e de deslocamento. Além disso tem muitas parentes nas aldeias que não compreendem muito bem o movimento e acabam não participando.
Desse modo, precisamos trabalhar melhor a comunicação e sensibilização para essas questões nas nossas comunidades. Também precisamos trabalhar a formação e a conscientização política para o nosso povo, homens e mulheres, definindo e divulgando nossas pautas, uma vez que muitos assuntos são tabus, como por exemplo a violência que existe contra as mulheres dentro e fora das aldeias.
Nós mulheres precisamos fazer o movimento dentro das nossas aldeias e construir essa relação com as nossas parentes. As mulheres precisam ver que o movimento não é só para fora. Precisamos nos organizar dentro da aldeia e conquistar de dentro para fora, porque se temos uma aldeia organizada conseguimos realizar muitas coisas.
Pensamos uma forma mais ampla e representativa de nossa articulação política, envolvendo ainda mais todas as terras indígenas, todos os povos e regiões onde vivemos, envolvendo toda a nossa base. Será um novo exercício que estará em curso, que nos exigirá muito diálogo, companheirismo, compreensão, dedicação, comprometimento e entendimentos comuns.
Nesses dois dias de muitos encontros e reencontros, de muitas cantorias, de muito afeto entre nós, de chamamento e encorajamento para que continuemos firmes e juntas nessa luta, que é diária e de todas nós, de reforço às nossas espiritualidades, foram marcados pela evidente resistência dos povos indígenas, sobretudo, resistência das mulheres.
Com a cabeça erguida, atentas, com muito equilíbrio e força seguimos adiante com todos os nossos e as nossas encantadas.
Em 2019, o primeiro ano do governo Bolsonaro, sentimos na pele o cruel desmonte do Estado, dos direitos sociais e das políticas públicas conquistadas ao longo dos últimos 31 anos, a partir do pacto constitucional de 1988.
O ano foi marcado pelo aumento exponencial das queimadas e do desmatamento de áreas protegidas na Amazônia e no Cerrado, envolvendo sobretudo territórios indígenas e unidades de conservação – com o envolvimento de grileiros, madeireiros, garimpeiros, pecuaristas, entre outros. Tais crimes vieram a se somar ao rompimento da barragem de Brumadinho e seguidos de assassinatos de defensores do meio ambiente, de lideranças quilombolas e indígenas, guardiões da floresta, e pelo derramamento de óleo nas praias do nordeste, sob reação tardia do governo. Nas cidades, crianças e jovens negros e mulheres continuaram morrendo em ações policiais. E os subempregados chegaram a 24 milhões, acompanhados de 12 milhões de desempregados e 4 milhões de pessoas em estado de miséria.
No caso dos povos indígenas, ficou marcado a afronta total à legislação nacional e internacional que assegura o direito ao território, a identidade e as políticas públicas diferenciadas. Na mesma direção o governo se arremeteu contra a legislação ambiental e a política nacional do meio ambiente, configurando um perfil de governo etnocida, genocida e ecocida.
As organizações e movimentos sociais, porém, resistiram. Os povos e organizações indígenas estiveram mobilizados o ano todo, inclusive em espaços de incidência internacional.
É nesse contexto que a APIB programou se reunir nos dias 20 e 21 de janeiro para aprofundar na análises do contexto nacional e da política indigenista que ameaça a existência e os direitos fundamentais dos povos originários do país.
Durante os dias de encontro serão debatidas as estratégias de luta, calendário de ações para o ano e analisar as principais ameaças hoje. Participarão os coordenadores da APIB e lideranças de todas as regiões do país.
Mais um Guajajara foi assassinado. Erisvan Soares Guajajara tinha 15 anos, era filho de Lucélia Guajajara e Luizinho Guajajara, foi assassinado no município de Amarante, onde se localiza a TI Araribóia.
A impunidade segue atropelando muitas vidas e os discursos racistas nas tribunas seguem gerando novas vítimas.
Além da força nacional como medida de emergência, precisamos urgentemente de políticas públicas adequadas para cessar essa perseguição. Precisamos de política pública de inteligência e punição aos desmatadores, aos grileiros, aos garimpeiros e a todo tipo de criminoso que se sente empoderado hoje para invadir nossos territórios, terras essas que são direito, assegurados pelo Constituição Federal.
Precisamos de políticas de fiscalização eficientes e de fortalecimento dos órgãos indigenistas, não esse conjunto de medidas que premia invasores e grileiros, como a Medida Provisória que trata da regularização fundiária no país – publicado no último dia 10. Ou ainda esse conjunto de medidas que desmantela os órgãos indigenistas e ambientais.
Precisamos de políticas de saúde que amparem os doentes e valorize a ciencia, nossas tradicões e saberes; precisamos de uma educação diferenciada aos jovens, crianças, filhos, sobrinhos e netos com mais escolas indígenas em nossas aldeias. Precisamos de investimentos na PNGATI – (Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em terras indígenas) e nas políticas desenvolvidas sob a liderança dos próprios povos indígenas.
Seguiremos lutando até o que o último indígena se mantenha em pé, assim estamos fazendo há mais de 519 anos. Nossas vidas são prestação de serviço público para a humanidade. Somos aqueles que garantem o ar que você respira, a água que você bebe, o equilíbrio do clima no planeta. Sem nós, não haverá futuro para qualquer ser humano. Portanto, lutar pela vida indígena é lutar também por aqueles que você ama. Essa luta é de todos nós: trata-se de uma luta de classe, de gênero, de raça, é uma luta ambiental, por direitos humanos, pela vida.
Precisamos de todos ao nosso lado nesta guerra que não tem hora para acabar. Hoje, em mais um dia de tristeza profunda cravada no peito, seguimos bradando: Sangue indígena: Nenhuma Gota Mais!
Madrid, 9 de Dezembro de 2019 – No início deste ano, convocamos uma campanha nacional, o Janeiro Vermelho. Com o lema Sangue Indígena: Nenhuma Gota Mais, denunciávamos o início da ofensiva na posse do presidente Jair Bolsonaro, que tentava submeter as políticas indigenistas históricas do Estado Brasileiro ao mais nefasto interesse do lobby econômico do agronegócio, além de difundir permanentemente o discurso de ódio e o preconceito contra os povos indígenas do Brasil.
No último sábado, dia 07 de dezembro, mais duas lideranças indígenas foram assassinadas, Firmino Silvino Prexede Guajajara, cacique das aldeias Silvino (Terra Indígena Cana Brava), e Raimundo Guajajara, cacique da aldeia Descendência Severino (TI Lagoa Comprida), ambos do Maranhão, estado que há 35 dias sofreu também o assassinato de Paulo Paulino Guajajara, que atuava como guardião da floresta.
Esses crimes refletem a escalada de ódio e barbárie incitados pelo governo perverso de Jair Bolsonaro, que segue nos atacando diariamente, negando o nosso direito de existir e incitando a doença histórica do racismo do qual o povo brasileiro ainda padece.
Estamos à deriva, sem a proteção do Estado brasileiro, cujo papel constitucional está sendo negligenciado pelas atuais autoridades. O governo federal é um governo fora da lei, criminoso em sua prática política e opera de maneira genocida com vistas a nos expulsar de nossos territórios, massacrando nossa cultura, fazendo sangrar nossas raízes.
O clima de tensão, insegurança e perseguição contra os povos indígenas do Brasil só aumenta. Estamos sendo atacados, dizimados e criminalizados. Um ataque à vida indígena é um ataque contra a humanidade uma vez que somos, povos indígenas de todo mundo, os defensores de 82% de toda biodiversidade global. No Brasil somos quase um milhão de indígenas. Preservamos 13% dos ecossistemas brasileiros. Estamos no país inteiro. Somos a mais rica cultura do planeta, representada em 305 povos e 274 línguas e ainda as mais de 180 referências de povos em isolamento voluntário.**
Muito se fala sobre combater as mudanças climáticas, mas é preciso entender que a nossa sobrevivência é garantia de preservação ao que mais importa para o futuro da humanidade. A mãe terra não aguenta por mais 50 anos esse modelo econômico predatório. Sabemos que estamos em perigo e que não há mais tempo.
Exigimos que providências sejam tomadas imediatamente e que faça valer a Justiça! Exigimos que as autoridades competentes esclareçam os fatos, punindo rigorosamente esses criminosos, para que a sensação de impunidade não motive mais ações criminosas contra nossa gente, ceifando brutalmente vidas indígenas.
Aqui nesta COP 25, em que estamos com uma delegação histórica de mais de 20 indígenas de todo o Brasil presentes, exigimos que os direitos dos povos indígenas sejam respeitados na total implementação do Acordo de Paris.
Aos amigos e aliados da sociedade civil de todo mundo, pedimos também ajuda. Este será o Dezembro Vermelho! Conclamamos uma mobilização global em todas as partes do mundo. Nosso povo já ocupa a BR 216 no estado do Maranhão no Brasil em busca de justiça por todos esses assassinatos e precisamos que todos se somem a essa luta, que é uma luta coletiva.
Este será o Dezembro Vermelho da luta dos povos indígenas e dos povos do planeta pelo nosso direito de existir. Sangue Indígena: Nenhuma Gota Mais.
C’est avec un profond chagrin et indignation que j’exprime mes plus sincères et vives condoléances aux familles de Firmino Silvino Guajajara et de Raimundo Guajajara qui ressentent en ce moment la douleur et la tristesse d’avoir perdu des êtres chers avec une telle brutalité qui a fait des victimes au sein du peuple Guajajara.
Les indigènes assassinés vivaient dans les villages de Silvino (Terre Indigène Cana Brava) et de Descendência Severino (Terre Indigène Lagoa Comprida), les deux dans le Maranhao, État où s’est également produit, il y a 35 jours, l’assassinat de Paulo Paulino Guajajara qui travaillait comme gardien de la forêt.
Je ressens un mélange de douleur et de révolte pour ce nouveau crime qui s’abat sur mon peuple Guajajara. Ce crime reflète l’escalade de haine et de barbarie incités par le spectre politique néfaste du gouvernement raciste et pervers de Jair Bolsonaro qui continue à nous attaquer quotidiennement, récusant notre droit d’exister et entretenant la maladie historique du racisme dont le peuple brésilien pâtit encore.
Nous sommes à la dérive, sans la protection de l’Etat brésilien dont le rôle constitutionnel est négligé par les autorités. Le gouvernement fédéral est un gouvernement hors-la-loi, criminel dans sa pratique politique et qui opère de manière génocidaire avec pour objectif de nous expulser de nos territoires, massacrant notre culture, faisant saigner nos racines.
Le climat de tension, d’insécurité et de persécution contre les peuples indigènes du Brésil ne fait qu’empirer. Nous sommes attaqués, décimés et il faut rappeler qu’une attaque contre la vie indigène est une attaque contre l’humanité, vu que nous sommes, peuples indigènes du monde entier, les défenseurs de 82% de la biodiversité globale.
Stop aux bains de sang!
Stop à l’impunité!
Nous exigeons que des mesures soient prises immédiatement et que Justice soit faite!
Nous exigeons que les autorités compétentes clarifient les faits et punissent sévèrement ces criminels afin que la sensation d’impunité ne motive plus ces actions criminelles contre notre peuple, en aneantissant brutalement des vies indigènes.
É com profundo pesar e indignação que externo meus mais sinceros e profundos sentimentos aos familiares de Firmino Silvino Prexede Guajajara e Raimundo Guajajara que neste momento sentem a dor e a tristeza de perder pessoas queridas por tamanha brutalidade que hoje fez vítimas dentre o Povo Guajajara. Os indígenas assassinados vivam nas aldeias Silvino (Terra Indígena Cana Brava) e aldeia Descendência Severino (TI Lagoa Comprida), ambos do Maranhão, estado que há 35 dias sofreu também o assassinato de Paulo Paulino Guajajara, que atuava como guardião da floresta.
Sinto um misto de dor e revolta por mais esse crime que se debruça sobre o meu povo Guajajara. Crime este que reflete a escalada de ódio e barbárie incitados pelo espectro político nefasto do governo racista e perverso de Jair Bolsonaro, que segue nos atacando direitos diariamente, negando o nosso direito de existir e incitando a doença histórica do racismo do qual o povo brasileiro ainda padece.
Estamos à deriva, sem a proteção do Estado brasileiro, cujo papel constitucional está sendo negligenciado pelas atuais autoridades. O governo federal é um governo fora da lei, criminoso em sua prática política e opera de maneira genocida com vistas a nos expulsar de nossos territórios, massacrando nossa cultura, fazendo sangrar nossas raízes.
O clima de tensão, insegurança e perseguição contra os povos indígenas do Brasil só aumenta. Estamos sendo atacados, dizimados, e vale sempre lembrar que um ataque a vida indígena é um ataque ataque contra a humanidade uma vez que somos, povos indígenas de todo mundo, os defensores de 82% de toda biodiversidade global.
Chega de derramamento de sangue!
Chega de impunidade!
Exigimos que providências sejam tomadas imediatamente e faça valer a Justiça!
Exigimos que as autoridades competentes esclareçam os fatos, punindo rigorosamente esses criminosos, para que a sensação de impunidade não motive mais ações criminosas contra nossa gente, ceifando brutalmente vidas indígenas.
As mulheres indígenas mais diferentes povos do Brasil fazem um chamado para que todas se juntem nesta grande ação global pelo clima e pela vida no planeta. Nessa sexta-feira, 6 de dezembro, movimentos, ativistas, ambientalistas, jovens e todos aqueles que lutam contra o compreendendo a emergência climática marcharão em conjunto na Marcha do Clima que acontece em Madrid durante a COP 25. Faça parte você também, organize seus coletivos, chame amigos, ativistas e movimentos para se manifestar onde estiver nesta sexta-feira.
A ganância está matando nossas florestas, nossas matas, nossos rios; atacando o nosso direito de ser e existir em nossa diversidade. O mundo precisa de outros modelo de desenvolvimento, precisamos dar um basta a essa matança! As mulheres indígenas estão na linha de frente dessa luta pela defesa da mãe terra e pela manutenção dos seus modos de vida tradicionais! Junte-se você também.