07/maio/2021
Caros parentes,
Como vocês sabem, estamos sofrendo uma ofensiva duríssima por parte do Governo Federal que quer deslegitimar a nossa luta pela vida.
Depois de perseguir e tentar criminalizar nossas lideranças, o governo de Jair Bolsonaro, através da gestão do delegado da Polícia federal Marcelo Xavier à frente da FUNAI, tenta agora pressionar os servidores das Coordenações regionais do órgão e lideranças locais a fornecerem informações sobre doações feitas pela APIB, organizações ambientalistas e indigenistas no período da pandemia.
É com repúdio absoluto que recebemos essas denúncias! Ao invés de se mover para minimizar os martírios impostos pela pandemia e retomar os processos de demarcações, esse governo age para coagir aqueles que estão incessantemente em busca de assegurar as vidas indígenas e proteger o meio ambiente.
É com grande preocupação que observamos uma profunda mudança de rota nas ações do órgão federal, que deveria zelar, cuidar, proteger e promover os direitos dos povos originários. Agora sob o comando de um presidente delegado, a ‘nova FUNAI’ vem se comportando como uma espécie de polícia política que busca intimidar, criminalizar e coagir as lideranças indígenas em claro flagrante persecutório.
De acordo com informações da própria ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), a agência está sendo utilizada para levantar informações das entidades que atuam nos territórios indígenas, evidenciando, assim, a sanha policialesca da FUNAI. O resultado é que essa atitude ajuda na disseminação do vírus da Covid-19, aumenta os conflitos entre os parentes e ainda isenta o órgão indigenista de exercer sua responsabilidade constitucional. Lembramos que a FUNAI gastou apenas 52% dos recursos para o enfrentamento da pandemia entre indígenas.
É hora de intensificarmos nossa unidade em luta para que essa importante instituição do Estado Brasileiro retome seu papel constitucional e responda aos povos indígenas e ao Brasil as consecutivas negligências.
Não nos curvaremos à sanha desse governo anti-indígena. Seguiremos na resistência, como nossos ancestrais fizeram até aqui.
APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, 07 de maio de 2021
Organizações regionais de base:
APOINME – Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
ARPIN SUDESTE – Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste
ARPINSUL – Articulação dos Povos Indígenas do Sul
ATY GUASU – Grande Assembléia do povo Guarani
Comissão Guarani Yvyrupa
Conselho do Povo Terena
COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
07/maio/2021
Lideranças e movimentos sociais enfrentam processos de criminalização e perseguição pelo governo de Jair Bolsonaro.
“Nós não nascemos pra morrer, nós nascemos pra viver e lutar”, partilhou Geneci diretamente do Quilombo Flores em Porto Alegre (RS), durante o Encontro da Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais, que ocorreu entre os dias 4 e 5 de maio de 2021, em plataforma digital.
Organizar a resistência, articular a diversidade, defender a vida nos territórios: esses são alguns dos objetivos que norteiam a Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais, que realizou um encontro virtual, em função da pandemia de covid-19, mais um dos desafios enfrentados pelos diversos povos e comunidades que resistem aos projetos e ataques que avançam sobre seus territórios em todo o país.
O encontro foi organizado pela Articulação das Pastorais do Campo com o intuito de reunir lideranças e movimentos sociais, trazendo uma pluralidade de povos e partilhas. Dentre os temas apresentados, processos de criminalização e ameaças a lideranças, movimentos sociais e agentes pastorais foi predominante.
Diante do atual governo, que vem promovendo um desmonte de políticas sociais, redução do orçamento de órgãos ambientais e intensa militarização das instituições públicas, os processos de criminalização, ameaça e perseguição a lideranças de movimentos sociais têm sido recorrentes. No último mês, lideranças como Sônia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e Almir Suruí foram intimadas para depor na Polícia Federal, acusadas de propagar mentiras sobre o atual governo.
Frente a essas graves ocorrências, a Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais e Pastorais do Campo emitem Manifesto Público, em denúncia ao governo de Jair Bolsonaro e em solidariedade às lideranças e agentes pastorais criminalizados pela atual conjuntura política.
Acompanhe o manifesto a seguir:
Manifesto Público contra a criminalização de lideranças de movimentos que lutam em defesa dos direitos dos povos e comunidades tradicionais.
Nós, Indígenas, quilombolas, vazanteiros, ribeirinhos, quebradeiras de coco babaçu, comunidades de fundo e fecho de pasto, pescadores e geraizeiros, integrantes de Povos e Comunidades Tradicionais, que participamos do Encontro Nacional da Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais , viemos a público manifestar solidariedade e apoio às lideranças indígenas Almir Suruí, Sônia Bone Guajajara, Deoclides de Paula Kaingang, Maria Inês de Freitas Kaingang e tantos outros, que pelo Brasil, sofrem com a perseguição de agentes de estado e são criminalizados através da proposição e abertura de inquéritos policiais, flagrantemente intimidatórios.
Também repudiamos a atitude discriminatória e persecutória, posta a cabo pelo governo Bolsonaro, por meio do presidente da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Marcelo Augusto Xavier da Silva, contra as organizações indígenas APIB – Articulação de povos Indígenas do Brasil, APOINME – Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo, ARPIN SUL – Articulação dos Povos Indígenas do Sul, COIAB – Coordenação de Organizações Indígenas na Amazônia Brasileira, CGY – Comissão Guarani Yvyrupá e Conselho do Povo Terena.
Manifestamos igualmente nosso repúdio à ação movida pelo Governo do Estado do Maranhão contra o assessor jurídico da Comissão Pastoral da Terra, Rafael Silva, em retaliação à atuação na defesa da comunidade Cajueiro/São Luís – MA, contra despejos forçados e ilicitudes cometidos no projeto de implantação de projeto portuário privado de interesse do Governo do Estado.
Essas ações ameaçadoras vinculam-se a perspectiva de se promover a criminalização dos movimentos que lutam em defesa da terra, das águas e das matas, tendo em vista o favorecimento de segmentos econômicos estruturados para a exploração predatória e criminosa dos territórios originários e tradicionais de nossos povos e comunidades.
A criminalização de lideranças e movimentos sociais soma-se a um contexto alarmante de destruição socioambiental que atinge todos os biomas brasileiros, bem como territórios tradicionais e indígenas. Afirmamos, portanto, que os verdadeiros crimes são os cometidos pelo Estado Brasileiro, latifundiários, grileiros e mineradoras.
Povos e comunidades tradicionais convivem diariamente sob ameaça da destruição de seus territórios através da grilagem de terras, destruição das florestas, envenenamento dos rios, mineração, guerra química por agrotóxicos, conflitos no campo, crescimento da fome, insegurança alimentar e pela pandemia de COVID-19 que já assassinou milhares dos nossos.
Mesmo diante deste ambiente político de ameaças e intimidações, de desconstituição dos direitos e de desterritorialização, a resistência se faz necessária, organizada e articulada. Reafirmamos que seremos resistência, enraizada em nossas ancestralidades, na espiritualidade, nos encantados, nos orixás, nos encantos de luz, em Ñhanderue Tupã.
Somando-se à luta dos povos e fazendo coro com as denúncias acima citadas, a Articulação das Pastorais do Campo afirma irrevogável aliança e assina em conjunto o presente Manifesto. A presença pastoral é solidária e caminha junto aos povos e comunidades tradicionais por décadas, no enfrentamento direto ao capitalismo, fome e conflitos no campo brasileiro.
Por fim, nossa resistência está enraizada na mãe-terra e mergulhada nas profundezas das águas maternas. As formas de resistir se fazem sementes plantadas hoje, agora no presente, para florir e gerar vida de libertação no futuro.
Seguimos juntos e em unidade na luta e na esperança construindo caminhos do Bem Viver.
Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais e Articulação das Pastorais do Campo.
Maio de 2021
06/maio/2021
A pedido da Apib, a Justiça Federal determinou o trancamento do inquérito policial instaurado contra Apib e Sonia Guajajara.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) protocolou uma denúncia ontem, 5, na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as perseguições políticas do Governo Federal contra a Apib e Sonia Guajajara, uma das coordenadoras executivas da organização.
No dia 26 de abril, durante o mês da maior mobilização indígena do Brasil e na semana seguinte à reunião da Cúpula do Clima, a Polícia Federal (PF) intimou Sonia para depor em um inquérito aberto na polícia a mando da Fundação Nacional do Índio (Funai). O órgão, cuja missão institucional é proteger e promover os direitos dos povos do Brasil, acusa a Apib de difamar o Governo Federal com a websérie “Maracá” (http://bit.ly/SerieMaraca), que denuncia violações de direitos cometidas contra os povos indígenas no contexto da pandemia da Covid-19.
“Alertamos a Comissão Interamericana de Direitos Humanos para a escalada autoritária em curso no Brasil. O ambiente democrático está em risco. Em nenhum Estado republicano e democrático o aparelho estatal pode ser usado sob o arbítrio de seus governantes. A livre manifestação de pensamento e a liberdade de expressão, amparadas por princípios constitucionais, convencionais e legais, não podem ser criminalizadas”, reforça o coordenador jurídico da Apib, Luiz Eloy Terena, na denúncia encaminhada à CIDH.
Leia a íntegra do documento aqui.
Todas as violações de direitos contra os povos indígenas durante a pandemia da Covid-19 expostas pela Apib na série Maracá foram apresentadas ao STF, em 2020, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 709. Na ocasião, a principal corte do país reconheceu as denúncias apresentadas e determinou que o Governo Federal adote medidas de proteção aos povos. Até o momento, a decisão do STF foi parcialmente acatada pelo governo.
“O inquérito aberto pela PF é uma nítida tentativa de limitar a liberdade de crítica, seja contra o governo ou contra seus agentes políticos, mesmo que isso também faça parte do Estado Democrático de Direito e que assuntos de interesse público e social estão sob a tutela do manto constitucional do direito à informação”, reforçou Eloy Terena em trecho da denúncia apresentada ao ministro do STF Roberto Barroso, que é relator da ADPF 709.
Leia a íntegra do documento aqui.
Inquérito trancado
No mesmo dia das denúncias feitas ao STF e CIDH, a Justiça Federal do Distrito Federal determinou na noite de ontem (5), a pedido da Apib, o trancamento do inquérito aberto pela Polícia Federal. A Apib entrou na Justiça no dia 3 de maio para anular a investigação, que é uma ação de perseguição política.
“Destaque-se também que a clara menção no ofício da FUNAI sobre supostas condutas caluniosas contra o Presidente da República deixa entrever que toda a situação narrada tem como principal fim calar manifestações políticas divulgadas por entidade que se posiciona contra o presente Governo Federal”, argumenta o juiz federal Frederico Botelho em sua decisão.
05/maio/2021
O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou no dia 30 de abril o julgamento virtual que pede a suspensão da demarcação da Terra Indígena Taunay-Ipegue, do povo Terena, no município de Aquidauana, em Mato Grosso do Sul (MS). Os ministros devem decidir final até o dia 7 de maio.
Este mandado de segurança contra o povo Terena iniciou em maio de 2016 pelo fazendeiro Osvaldo Benedito Gonçalves, com apoio de empresários e políticos locais. No dia 14 de setembro de 2016, o então ministro Luiz Fux, que era relator do processo na época, julgou em caráter liminar favoravelmente ao pedido do fazendeiro.
Em 2020, o ministro Dias Toffoli foi nomeado como novo relator do processo e no dia 17 de novembro decidiu pelo cancelamento da suspensão da demarcação da TI Taunay-Ipegue. A nova decisão permitiu o seguimento do reconhecimento legal do território do povo Terena e foi baseado em um entendimento do STF de que ‘mandado de segurança’ não é o instrumento jurídico adequado para questionar a demarcação de terras indígenas.
Os ruralistas recorreram da decisão do ministro Dias Toffoli e agora o STF julga até esta sexta, dia 7, o caso. A comunidade indígena foi aceita para participar do processo sendo representada pelo advogado indígena Luiz Eloy, originário da aldeia Ipegue e assessor jurídico da APIB. O advogado “espera que a Corte mantenha a posição da jurisprudência consolidada e confirme a decisão do relator, arquivando de vez a ação movida pelos ruralistas”.
Acesse o memorial jurídico e entenda sobre o caso
05/maio/2021
A bancada do PSOL protocolou, na manhã da terça-feira (4), uma representação junto à Procuradoria da República no Distrito Federal (DF) contra o presidente da Funai e delegado da PF, Marcelo Xavier, e contra o também delegado da PF Francisco Vicente Badenes Junior.
A ação foi motivada pela intimação feita à líder indígena Sonia Guajajara, acusada de difamar o governo federal com a websérie “Maracá”, lançada em 2020 e que denunciou violações de direitos cometidas contra os povos indígenas durante a pandemia da Covid-19.
Na representação, o PSOL pede à Procuradoria que apure a prática do crime de abuso de autoridade e de improbidade administrativa e demonstra, num documento extenso e detalhado, que a disposição do presidente da Funai contra direitos dos povos indígenas vem de antes de sua nomeação para titular do órgão.
Depois da provocação da Funai, Guajajara foi intimada pela Polícia Federal no último dia 30 de abril. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), da qual Guajajara é uma das coordenadoras executivas, a Conectas e a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas também denunciaram a acusação como perseguição política e racista.
Um dia após (1) a intimação de Sonia Guajajara, outra liderança da Apib, Almir Suruí, foi intimada a prestar depoimento em um inquérito aberto sobre divulgações na internet que, segundo a Funai, propaga “mentiras” contra o governo. O inquérito investiga notícia-crime de difamação, supostamente praticada contra a Funai, por integrantes da associação Metareilá do povo indígena Suruí, representada por Almir.
Formada em Letras e em Enfermagem, especialista em Educação Especial pela Universidade Estadual do Maranhão, Sonia Guajajara já foi ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), levando denúncias às Conferências Mundiais do Clima (COP) e ao Parlamento Europeu. Ela também foi candidata à Vice-Presidência da República na chapa do PSOL em 2018, sendo a primeira candidata de origem indígena numa eleição presidencial no Brasil.
Representação – PR-DF
05/maio/2021
Pelo segundo dia consecutivo, representantes das comunidades indígenas Guarani Kaiowá e Terena permanecem no Polo Base de Saúde Indígena de Dourados e fazem a ocupação de forma pacifica e ordeira para denunciar várias situações de abandono da saúde indígena da maior Reserva Indígena do estado, com mais de 17 mil pessoas.
A situação de abandono e de sucateamento está diretamente relacionada à falta de planejamento, organização e gestão por parte da chefia local da Secretaria Especial de Saúde Indígena -SESAI que tem se agravado, especialmente nesses últimos 12 meses com a chegada pandemia da COVID-19 e demissões de funcionários que tinham funções estratégicas nas articulações e execução das ações dentro das comunidades indígenas.
Além disso, há falta de estrutura de logística para proporcionar o deslocamento das equipes até às aldeias e comunidades indígenas, bem como, falta de insumos e equipamentos de Proteção Individuais suficientes para os profissionais de saúde atender adequadamente as populações indígenas. Periodicamente tem faltado medicamentos básicos para os principais problemas de saúde da população local e até mesmo medicamentos de uso continuo de pressão alta e diabetes para centenas de pacientes cadastrado nos programas de atenção básica. As Unidades de saúde continuam em estado precário e insalubre, com iluminação péssima e ventilação precária.
Com relação ao sucateamento das estruturas de logísticas, vale destacar que em Junho de 2017 foi noticiado na imprensa local e no site da Prefeitura de Dourados em manchete de destaque “Brasil Sorridente” presente nas aldeias de Dourados com a entrega de três unidades móvel odontológica e material médico-hospitalar para atendimento nas aldeias de Dourados e hoje os veículos estão abandonados e sendo consumidos pelo mato e intempéries, e a população sendo atendidas em baixo de árvores, de formas improvisadas e até mesmo desassistidas por falta de estrutura, que estão acabando no mato na sede do Polo Base.
Diante de todas essas situações e a inércia da chefia local e da própria gestão do SESAI no estado, o Conselho Local de saúde indígena, membros do Conselho Distrital de Saúde que são instancias legítima e legalmente constituídos para representar a população juntamente com outras lideranças e usuários estão nessa mobilização na sede do Polo Base para denunciar todo esse descaso com a saúde dos povos indígena e cobrar providencias administrativas e de responsabilização situação atual, onde dezenas de famílias já perderam entes queridos e não queremos ver de novo o caos vivido em 2014, quando Dourados foi manchete internacional em função da desnutrição infantil.
Informamos ainda que todos os profissionais de saúde se encontram na sede do Polo Base prontos dispostos a prestar atendimento à população indígena, no entanto, os poucos veículos disponíveis não foram autorizados a saírem do pátio, pois no dia de ontem a chefia local, a senhora Sidneide Boa Sorte, disparou mensagens de áudio em grupos de WhatsApp dando ordem aos trabalhadores, tanto administrativos quanto da saúde, para permanecerem em suas casa até segunda ordem, e com isso trazendo mais problemas na prestação de serviços básicos exatamente nesses dias de pandemia e de vacinação do nosso povo tanto com a vacina da gripe e quanto da COVID-19, ou seja, emitindo uma ordem corroborando para a piora do quadro sanitário nas aldeias, atitudes contrarias aos nossos anseios, pois não há nenhum impedimento por parte do movimento indígena que tem uma boa relação de diálogo e respeito com todos os profissionais.
Exigimos providencias urgentes por parte dos órgãos competentes.
A nossa vida tem valor. Basta de brincadeira com nossas vidas. Exigimos respeito. Lutamos por direitos básicos. VIDAS INDÍGENAS IMPORTAM!
Dourados/MS, 04 de maio de 2021
Movimento Indígena na ocupação do Polo Base de Dourados
03/maio/2021
Nota de Repúdio
“(…) a gente se acostuma. Mas não devia.”*
A gente se acostuma a ver gente sem compromisso com a vida coletiva, sem compromisso com o SUS e com o País… A gente se acostuma a ver gente que não respeita os povos tradicionais até na Saúde indígena… A gente se acostuma com a f.alta de condições de trabalho das equipes, frágeis vínculos empregatícios, cotidiano racista e violento… A gente se acostuma a esperar pela demarcação de terras, ver barracos de lona na beira da estrada, atropelamentos e despejos… A gente se acostuma a fazer vaquinha para comprar comida, máscara e sabão em plena pandemia de covid-19… A gente se acostuma com a fome, falta de água potável nas aldeias, adoecimentos e mortes evitáveis das e dos Kaiowá, Guarani e Terena.
“(…) a gente se acostuma. Mas não devia.”
É com indignação que nós, do Mato Grosso do Sul, repudiamos o que está ocorrendo na Saúde Indígena por aqui. Recebemos a notícia da demissão de Zelik Trajber, pediatra, com 20 anos de atuação e compromisso com a vida dos e das indígenas Kaiowá, Guarani e Terena do sul do Mato Grosso Sul. Trabalhador do Polo Base de Dourados, o maior Polo em número de indígenas atendidos do Brasil, Zelik foi um dos primeiros recrutados para auxiliar no árduo trabalho de reduzir as altas taxas de mortalidade infantil em Dourados e região, no início dos anos 2000. Adotado pela comunidade, recebeu como homenagem o seu nome em uma das Unidades Básicas de Saúde Indígena da aldeia Bororó, na Reserva Indígena de Dourados, maior reserva indígena em contingente populacional por hectare do Brasil. São quase 18 mil pessoas vivendo em menos de 3600 hectares. Zelik era contratado pela Missão Evangélica Caiuá, foi demitido injustamente pelo DSEI MS no último dia 23 de abril.
Foi também com a mesma indignação que acompanhamos as demissões injustificáveis, desde o final do ano passado, da enfermeira Indianara, indígena Kaiowá, coordenadora técnica do Polo Base de Dourados e mestranda da USP; da enfermeira Liliane, responsável técnica da DIASI/DSEI MS, com 17 anos de experiência na Saúde Indígena; da Psicóloga Paula, do Polo Base de Amambai, especialista em Saúde Indígena pelo Programa de Residência em Saúde Indígena do HU-UFGD; e outros tantos trabalhadores e trabalhadoras indígenas e não indígenas do DSEI MS, comprometidos com a saúde da comunidade.
Não bastasse todo este espetáculo de arbitrariedades, a coordenação do DSEI MS tem desconsiderado o posicionamento do Conselho Distrital de Saúde Indígena do MS (CONDISI MS) que repudiou, em Ofício enviado à SESAI com cópia para o Ministério Público Federal em 27 de janeiro de 2021, estas demissões e outras tantas decisões autocráticas, ignorando a participação e controle social dentro da política indígena/indigenista.
Registramos a nossa preocupação com o cenário atual, com ausência de informações sobre a Codiv e sobre o andamento da campanha de vacinação, além do silenciamento imposto aos trabalhadores e trabalhadoras da Saúde Indígena. E por isso perguntamos: Quem ganha com o desmonte da Saúde Indígena no Mato Grosso do Sul?
–
* “Eu sei, mas não devia”, de Marina Colasanti, crônica de 1972.
Após ataque contra indígenas Guarani Kaiowá, foto de uma criança na retomada Ñhanderú Marangatú em município de Antonio João. Foto de Dionedison Terena
03/maio/2021
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) repudiam a invasão de madeireiros, da região da Reserva Extrativista (Resex) Tapajós Arapiuns, na Sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR) e a ameaça de invasão a sede do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA), no Pará, na manhã desta segunda-feira, 03 de maio.
De maneira autoritária, truculenta e irresponsável, os invasores colocaram em risco a vida de homens e mulheres, lideranças da entidade sindical que estavam no local no momento da invasão. Compreendemos que quaisquer reivindicações ou contestações contra as decisões judiciais devem ser feitas de forma legal, perante a lei e aos órgãos responsáveis.
Reafirmamos que compactuamos com a Ação Civil Pública (ACP) movida pelo STTR e CITA e ratificamos a decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) que, em revisão de 30 de abril, suspendeu a decisão liminar da Justiça Federal de Santarém que autorizava a retomada dos processos de Plano de Manejo para exploração madeireira dentro da Resex, até que seja realizada uma consulta prévia, livre e informada às 78 comunidades tradicionais e aldeias que vivem na reserva.
Assim como explanado pelo CITA em sua nota de repúdio, sabemos “o quão difícil é enfrentar projetos revestidos de discursos “sustentáveis”, pela sua facilidade de convencimento, mas que sempre esconde seu real motivo, o lucro acima das vidas que existem nesse território”.
Nós, movimento indígena, nos solidarizamos com todos os homens, mulheres, e lideranças que estão tendo sua liberdade e segurança ameaçadas, de forma covarde e desonesta. Reafirmamos que continuaremos nossa luta. As intimidações não vão calar nossas vozes!
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB)
03 de maio de 2021.
03/maio/2021
Na manhã desta segunda-feira (03), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) entrou na Justiça com um pedido para anular o inquérito instaurado pela Polícia Federal (PF), a mando da Fundação Nacional do Índio (Funai), contra a Apib e Sonia Guajajara, uma das coordenadoras executivas da organização.
O órgão, cuja missão institucional é proteger e promover os direitos dos povos do Brasil, acusa a Apib de difamar o Governo Federal com a websérie “Maracá” (http://bit.ly/SerieMaraca), que denuncia violações de direitos cometidas contra os povos indígenas no contexto da pandemia da Covid-19. Denúncias essas que já foram reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) através da ADPF 709.
A petição que pede anulação do inquérito foi protocolada na Vara Federal Criminal do Distrito Federal. “Não resta dúvida de que existe farta quantidade de documentos técnicos que evidenciam a ineficiência por parte do Governo Federal em combater a pandemia nos territórios indígenas. Diante de tal omissão, a Articulação dos Povos Indígenas iniciou a campanha emergência indígena, a fim de suprir a inércia do governo federal”, destaca trecho da peça apresentada à Justiça.
No dia 26 de abril, durante o mês da maior mobilização indígena do Brasil e na semana seguinte da reunião da ‘Cúpula do Clima’, a Polícia Federal intimou Sonia, para depor na PF. O depoimento foi suspenso a pedido da assessoria jurídica da Apib e segue sem data definida até o momento.
Leia nota da Apib sobre o caso aqui
01/maio/2021
O Instituto Raoni (@institutoraoni), Instituto Kabu (@instituto_kabu) e Associação Floresta Protegida (@floresta.protegida) vêm a público manifestar o seu repúdio pela censura e tentativa de criminalização por parte da Polícia Federal da coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB – @apiboficial), Soninha Guajajara (@guajajarasonia).
A APIB, realizou ao longo do ano 2020 uma websérie denominada Maracá, onde se fizeram diversas e justas denúncias de violações aos direitos dos povos indígenas no Brasil em relação à pandemia. Inclusive, o teor dessas denúncias foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal na ocasião de seu acolhimento da ADPF 709, que instituiu o ainda pendente e urgente Plano Geral de Enfrentamento e Monitoramento da Covid-19 para os Povos Indígenas Brasileiros.
A pedido da Funai, a Polícia Federal intima Soninha para depor sob a acusação de difamar o Governo Federal. Devemos lembrar que o papel da Funai é zelar pelos direitos dos povos indígenas e jamais promover a perseguição de suas lideranças. É de conhecimento público a precariedade governamental na gestão e enfrentamento da pandemia assim como a necessidade de fazer frente a essa realidade com empenho e responsabilidade.
O povo Mẽbêngôkre manifesta sua solidariedade com Soninha e faz um alerta sobre a importância de garantir todos os direitos dos povos indígenas neste momento tão delicado.