Terra, Tempo e Luta

Terra, Tempo e Luta

Foto: Thiago Walker

Declaração Urgente dos Povos Indígenas do Brasil

Nós, povos indígenas, somos o próprio tempo. Somos encantadores desse tempo que é como uma serpente, com muitas curvas, uma história que não pode ser simplificada como uma linha reta. Quem poderia imaginar que, após mais de cinco séculos de colonização e extermínio, estaríamos aqui, firmes como nossas florestas, entoando nossos cantos e tocando nossos maracás, em resistência pela vida e pelo bem viver de toda a sociedade. 20 anos de Acampamento Terra Livre! O primeiro, realizado em 2004, reuniu 240 indígenas. Hoje, em Brasília, estamos aqui com cerca de 9 mil pessoas, representando mais de 200 povos, que vieram de todas as regiões e biomas desse território brasileiro para dizer: ‘NOSSO MARCO É ANCESTRAL! SEMPRE ESTIVEMOS AQUI!’

Entre os dias 22 e 26 de abril, estivemos na capital federal mobilizados para reivindicar nossos direitos! Nós da da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), em conjunto com todas as nossas organizações regionais de base, Apoinme, Arpinsul, Arpinsudeste, Aty Guasu, Comissão Guarani Yvyrupa, Coiab e o Conselho do Povo Terena, buscamos medidas efetivas que assegurem a proteção e o fortalecimento dos direitos indígenas, alinhadas com a dignidade e a justiça reivindicadas por nossos povos.

Começamos nossa mobilização histórica reivindicando 25 pontos, que estão na ‘Carta dos Povos Indígenas do Brasil aos Três Poderes do Estado’, com exigências para medidas urgentes. E finalizamos nossa mobilização reafirmando essas urgências!  NOSSO TEMPO É AGORA! Já não podemos esperar mais tempo e precisamos de respostas concretas! 

A decisão deliberada dos poderes do Estado de suspender a demarcação das terras indígenas e de aplicar a lei 14.701 (Lei do Genocídio Indígena) equivale a uma DECLARAÇÃO DE GUERRA contra nossos povos e territórios. Isso representa uma quebra no pacto estabelecido entre o Estado brasileiro e nossos povos desde a promulgação da Constituição de 1988, que reconheceu exclusivamente nossos direitos originários, anteriores à própria formação do Estado brasileiro. 

Alertamos que essa ruptura intencional resultará no aumento das violências e das políticas e práticas de genocídio historicamente promovidas tanto pela sociedade quanto pelo próprio Estado contra os povos indígenas. Desde os períodos mais remotos da história até os dias atuais, incluindo o legado sombrio da ditadura militar, cujas consequências ainda ecoam em nossas vidas.

Também ressaltamos que, assim como fizeram nossos ancestrais, resistiremos até o fim, mesmo que isso signifique colocar em jogo nossas próprias vidas, para proteger o que é mais sagrado para nós: nossa Mãe Terra. Estamos comprometidos com o direito de viver com dignidade e liberdade, buscando o bem viver das gerações atuais e futuras dos nossos povos e da humanidade.

O que nos preocupa não é a morte. Esta, nós conhecemos de perto. Morte e vida são parte dessa serpente do tempo que transita sobre a terra, dentro das águas e na copa das árvores mais altas. O que nos preocupa é a covardia de quem tenta dominar o tempo indomável e busca lucrar com as nossas mortes. Nesta declaração afirmamos: NÃO HÁ MAIS TEMPO PARA VOCÊS! 

Rejeitamos veementemente qualquer tentativa do governo federal de retomar políticas públicas sem garantir o essencial: a demarcação, proteção e sustentabilidade dos territórios indígenas em primeiro lugar. Qualquer iniciativa que não priorize esses aspectos será apenas uma medida paliativa e insuficiente. É fundamental que a demarcação de terras seja respeitada e protegida, sem desvios ou manipulações, incluindo ações que visem desvirtuar esse processo, como as declarações recentes do presidente Lula. Os direitos territoriais dos povos indígenas são INEGOCIÁVEIS e devem ser preservados a todo custo.

No primeiro dia de mobilização do ATL, uma decisão do Ministro Gilmar Mendes, relator de ações sobre a Lei do Genocídio Indígena (14.701), evidenciou mais uma vez sua parcialidade favorável aos ruralistas e historicamente anti-indígena. Apesar de reconhecer que a Lei contraria decisões feitas pelo STF sobre terras indígenas, Mendes, ao invés de anular a Lei, ele suspendeu todas as ações que visam garantir a manutenção dos direitos indígenas. Além disso, ele submeteu ao núcleo de conciliação do Tribunal a questão dos direitos fundamentais dos povos indígenas e mais uma vez afirmamos:

NOSSOS DIREITOS NÃO SE NEGOCIAM! O ministro quer assim dar sinal verde para os que querem invadir nossas terras passarem a boiada sobre nossas vidas. Diante dessa decisão anti-indígena que foi feita por um único ministro, RESTA SABER SE TODOS OS DEMAIS MINISTROS E MINISTRAS DO STF IRÃO SE ACOVARDAR OU IRÃO SER CONTRÁRIOS A ESSA DECISÃO DE MORTE! 

Jamais aceitaremos a legalização do genocídio contínuo de nossos povos. Da mesma forma, repudiamos veementemente a abertura de nossos territórios a empreendimentos que contrariam a urgência da crise climática e do aquecimento global. Tais empreendimentos representam uma ameaça direta à mãe natureza, às florestas, aos nossos rios, à biodiversidade, à fauna e à flora, assim como a todas as riquezas e formas de vida que preservamos ao longo de milênios. Se há recursos disponíveis para compensar invasores, por que não utilizá-los para demarcar as Terras Indígenas? Se houver necessidade de comprar terras, que seja para reassentar os invasores, e não deslocar nossos povos de suas terras originárias. PRESIDENTE LULA, NÃO QUEREMOS VIVER EM FAZENDAS! É preciso impedir que Rui Costa, Ministro Chefe da Casa Civil, siga “mandando” sobre as homologações de Terras Indígenas. 

Não admitimos esta situação. Estaremos vigilantes para que o Presidente Lula cumpra o compromisso de instalar, em um período de 15 dias, uma Força-Tarefa, composta por Ministério da Justiça, Ministério dos Povos Indígenas, Secretaria-Geral da Presidência e Advocacia Geral da União, para dialogar com os Três Poderes e demarcar definitivamente todas as nossas terras. Esperamos, ainda, que essa Força-Tarefa conte com participação efetiva de nossos povos e organizações. 

Lutamos pela terra, porque é nela que cultivamos nossas culturas, nossa organização social, nossas línguas, costumes e tradições. E, principalmente, está nas nossas terras e territórios o nosso direito de permanecermos indígenas. Somos cidadãos de direitos, somos nossos próprios representantes, aldeamos a política e continuaremos a demarcar o Brasil.

NOSSO MARCO É ANCESTRAL. SEMPRE ESTIVEMOS AQUI. E SEMPRE ESTAREMOS AQUI! SEM DEMARCAÇÃO NÃO HÁ DEMOCRACIA!

Acampamento Terra Livre, Brasília, 26 de abril de 2024

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)

Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme)

Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul)

Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste (Arpinsudeste)

Assembleia Geral do Povo Kaiowá e Guarani (Aty Guasu)

Comissão Guarani Yvyrupa

Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) 

Conselho do Povo Terena







Apib mobiliza grande marcha de luta pela terra, em Brasília

Apib mobiliza grande marcha de luta pela terra, em Brasília

Foto: Thiago Walker

O presidente Lula vai receber comitiva de 40 lideranças indígenas. Mais de 9 mil pessoas são esperadas para marcha na Esplanada dos Ministérios nesta quinta-feira

Uma marcha histórica tomará a Esplanada dos Ministérios nesta quinta-feira (25), às 15h em Brasília. Com o lema “Nosso Marco é Ancestral: Sempre Estivemos Aqui!”, a mobilização da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) receberá o apoio de pelo menos três grandes movimentos sociais por uma luta única: o acesso à terra e ao território.

Após a marcha, o presidente Lula vai receber uma comitiva de 40 lideranças indígenas, às 16h no Palácio do Planalto, onde será apresentada a carta de reivindicações do movimento com 25 demandas endereçadas ao governo.

São esperadas mais de 9 mil pessoas na mobilização, entre integrantes do movimento indígena nacional e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) e do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).

“A luta pela terra não é só dos povos indígenas”, afirma Dinamam Tuxá, coordenador-executivo da Apib. “O que estamos pedindo é o direito ao acesso à terra e ao território, não só dos povos indígenas, mas também de outros segmentos que fazem essa luta. Então essa marcha, o dia de amanhã, vai marcar um momento histórico dessa união de forças que lutam pela vida, que são todos os movimentos sociais que estão lutando e militando em favor da vida”.

Percurso e visual da marcha

A mobilização sairá do Eixo Cultural Ibero-americano (Complexo Cultural Funarte), onde acontece a 20ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), e seguirá até a Praça dos Três Poderes. No percurso, os manifestantes devem parar em Ministérios chave para o movimento indígena, como o Ministério dos Povos Indígenas.

A marcha terá um visual forte para marcar os 20 anos de mobilização indígena em Brasília. Uma cobra de 100 metros de comprimento será carregada pela esplanada para simbolizar a trajetória de lutas e diversidade dos povos indígenas.

 

Aty Guasu e Apib repudiam tentativa de difamação de missionário do Cimi

Aty Guasu e Apib repudiam tentativa de difamação de missionário do Cimi

A Grande Assembleia Guarani e Kaiowá (Aty Guasu) emitiu uma nota denunciando e repudiando a circulação de uma notícia falsa sobre Matias Rempel, do Conselho Indigenista Missionário do Mato Grosso do Sul. A informação mentirosa dizia que o missionário estaria perseguindo mulheres, adotando práticas homofóbicas e machistas contra lideranças e pessoas do povo Guarani e Kaiowá.

A Aty Guasu e a Apib repudiam quaisquer mentiras e tentativas de descrédito dos nossos aliados. De acordo com a nota, a fake news “tem objetivo de utilizar criminosamente nossa organização, nossas mulheres, para atingir nossos apoiadores e enfraquecer a relação histórica que existe entre o Cimi e nosso povo”.

A nota destaca que a relação dos integrantes do CIMI com os povos e comunidades “sempre aconteceu com muito respeito, amizade, compromisso e seriedade” e que a prática de propagar mentiras da extrema direita tem objetivo de “impedir nossa luta contra o genocídio e pela demarcação de nossos territórios”.

A aliança entre Apib, Aty Guasu e Cimi segue forte, na busca pelos direitos do povo Guarani e Kaiowá, em especial na luta pela demarcação de nossos territórios tradicionais e sagrados.

Confira a nota completa aqui. 

Resistência: Coiab comemora 35 anos de luta pelo progresso dos direitos indígenas da amazônia brasileira

Resistência: Coiab comemora 35 anos de luta pelo progresso dos direitos indígenas da amazônia brasileira

Ao longo das décadas várias pessoas e organizações fizeram parte de uma grande história

Por Robson Baré

Em 15 de janeiro de 1989, o Ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega lança o Plano Verão e uma nova moeda no país, o cruzado novo. Já em 18 de março do mesmo ano, é inaugurado em São Paulo o Memorial da América Latina, um projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer com o conceito e o projeto cultural desenvolvido pelo antropólogo Darcy Ribeiro. Na Amazônia brasileira, era fundada a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, mais conhecida como Coiab. São 35 anos de história ligados ao protagonismo do movimento indígena, trabalhando com e para os povos indígenas da amazônia brasileira, movimentando a pauta no cenário regional, nacional e internacional. 

AS RAÍZES DE UMA COORDENAÇÃO AMAZÔNICA

Com surgimentos de associações indígenas do Alto Rio Negro e movimentação de assembleias no triângulo tukano no distrito de Pari-Cachoeira no município de São Gabriel da Cachoeira, deram o impulso a mais pessoas estarem envolvidas em temáticas indígenas, como o caso dos professores da região do Amazonas e Roraima que se reuniram para debater sobre educação indígena, se juntando mais tarde a região do Acre. Assim acontece a primeira assembleia da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), em abril de 1989. Um ano após ser implantada a constituição mais recente do Brasil, em 1988, onde os povos indígenas são reconhecidos com sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições. Além de os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, começar a ser competindo à união demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. A Coiab surge vendo que os povos indígenas da amazônia brasileira ainda estavam em falta na educação, saúde e principalmente o direito à terra. 

Orlando Baré, um dos fundadores e 1º coordenador geral da Coiab lembra “Chico Mendes ainda estava vivo até então, muitos dos nossos colegas, lideranças do Acre,  mantiveram contato com Chico Mendes na época. E eles tinham um pensamento muito parecido conosco na construção das reservas extrativistas naquela região. Isso tudo veio para um debate aqui para Manaus, quando em exatamente, abril de 1989 acontecia a 1ª Assembleia dos Povos e Organizações Indígenas da Amazônia.”

Neste início a Coiab tinha uma organização definida como coletiva e itinerante, que se deu por meio de 9 pessoas: 1. Jacir José Souza Macuxi 2. Manuel Moura Tukano 3. Amarildo Machado Tucano 4. Orlando Melgueiro da Silva Baré 5. Orlandino Melgueiro da Silva Baré 6. Alirio Ticuna 7. Pedro Mendes Ticuna 8. José Severino da Silva Manchineri 9. Paulo Roberto da Silva Galibi Maroorno. 

Nos anos 90 a Coiab começa a ter uma estrutura similar com a que temos hoje, porém perde alguns cargos que eram na época foco central e hoje recebem o apoio ou atenção diferenciada pela Coiab. Como, por exemplo, o cargo de coordenador de saúde, tarefa hoje que se faz fiscalizando e apoiando órgãos como o DSEI. Em 1992 a instituição tem seu primeiro coordenador geral, na pessoa de Orlando Baré, como citado mais acima, assim começa um legado e caminhos traçados por muitos povos e muitas mãos. 

Linha do tempo dos coordenadores gerais da Coiab:

Orlando Baré – Coordenador-geral 1992 (Do Povo Baré)

Claudio Pereira – Coordenador-geral 1993 (Do Povo Mura)

Sebastião Alves Manchineri – Coordenador-geral 1994 (Do Povo Manchineri)

Gersen Santos – Coordenador-geral 1996 (Do Povo Baniwa)

Euclides Pereira – Coordenador-geral 1998 (Do Povo Makuxi) 

Jecinaldo Cabral – Coordenador-geral 2002-2006 (Do Povo Sateré Mawê)

Marcos Apurinã – Coordenador-geral 2009 (Do Povo Apurinã)

Maximiliano Correia Menezes – Coordenador-geral 2013 (Do Povo Tukano)

Francinara Soares Martins – Coordenadora-geral 2017-2022 (Do Povo Baré)

Toya Manchineri – Coordenador-geral 2022-2026 (Do Povo Manchineri)

MULHERES INDÍGENAS: DO ACOLHIMENTO AO RENASCIMENTO

Desde sua criação, as mulheres têm papel determinante na Coiab, se muitas de suas atividades fazem a diferença nas lutas e conquistas, a razão é em parte sobre as mulheres, que com seus olhares e apoio foram essenciais para o crescimento da Coiab. Com o exemplo da Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (AMARN), onde na época era coordenado por Deolinda Freitas Prado, nome sempre lembrado pelos fundadores e atuais coordenadores. Dona Deolinda Dessana faleceu em julho de 2023, deixando um legado e símbolo de resiliência para todos que a conheceram. Foi em sua gestão que a AMARN, foi uma das primeiras instituições a apoiar o surgimento da Coiab, como surgiu antes ela tinha uma base já estabelecida, diferente da Coiab, que ainda engatinhava. Silvio Cavuscens, assessor jurídico da época da fundação, ressalta que a associação das mulheres foi de grande importância pela forma acolhedora, como uma mãe “A Coiab não tinha nada, então quando tinha que receber alguém, chegar em algum lugar, alimentação, a AMARN foi esse espaço de refúgio e de início de caminhada da nossa luta”.

Angela Tukano, em entrevista para esta reportagem, fala como representante da AMARN da época e lembra do início da Coiab “A AMARN é uma das mais antigas de acordo com os registros, então o Manoel Moura, Orlando e Orlandino Baré procuravam a Dona Deolinda e falavam que a maior dificuldade era a falta de capital e naquela época ser liderança significava se despir do poder aquisitivo. Então eles tinham que se virar, pedir apoio de quem poderia ajudar, durante essa temporada um dos outros desafios era permanecer na capital (Manaus), sem dinheiro. É por isso que a AMARN os ajudou, desde hospedagem e alimentação. Então eles contam que para continuar a organização deles. ” lembra. 

Ao decorrer dos anos as mulheres compuseram a coordenação executiva. A primeira mulher na coordenação foi Maria do Carmo Serra Wanano, como secretária em 1996. Seguindo a seguinte ordem: 2. Maria Miquelina Barreto Machado Tucano, como Secretária-Geral em 2002 3. Sonia   Bone   Guajajara como Vice-Coordenadora em 2006 e 4. Francinara Soares Baré, como Tesoureira em 2013.

Foi apenas em 2017 que um novo caminho foi tomado, uma mulher foi eleita como coordenadora-geral da Coiab, Francinara Soares Baré, que já tinha sido tesoureira na gestão anterior. Foi nessa coordenação (e única, até hoje) com uma administração paritária, com dois homens e duas mulheres, integrando junto a Nara, a tesoureira, Angela Amanakwa Kaxuyana. Nesta gestão, onde apenas duas mulheres chegaram até o final do mandato, foi a reestruturação da Coiab, que se encontrava numa dívida milionária e a dupla lutou para levantar a Coordenação, correndo atrás dos meios legais e parceiros para tirar o nome da instituição de dívidas. 

Um período tenso pelo que ocorria tanto na esfera global, quanto na nacional, já que nas eleições de 2018 quem ganhava a corrida presidencial era Jair Messias Bolsonaro, que já na sua campanha tinha um discurso anti indígena. Logo mais, em 2020, a coordenação executiva se via em outra situação catastrófica, a epidemia da COVID-19 se alastrava por todo o mundo. Uma das situações mais difíceis tendo em vista como a doença atingia os povos indígenas e como as fake news atingiram as comunidades e aldeias no período da vacinação. 

Nara Baré relembra esse momento, que a atingiu como liderança e como indivíduo “… a Coiab vinha com um trabalho formidável, o planejamento estava tão redondinho, estava tão bonito no papel. Ninguém esperava que viesse uma pandemia e nem o pandemônio (referência ao governo Bolsonaro). Então foi muito complicado, a Coiab passa por dois momentos muito difíceis e pra mim, particularmente tem um terceiro, quando meu pai fica doente e eu precisei me afastar. 2019 foi uma construção diferente, de uma ferramenta nova, que é o Fundo Indígena Podáali. E quando a gente consegue fazer o lançamento do fundo indígena Podáali, primeiro fundo indígena da amazônia brasileira feita por nós povos indígenas, pra nós povos indígenas e ser gerenciado por nós também, a gente acha que tava tudo muito bom.”, recorda ainda da do apoio da equipe “… nisso em 2019 eu precisei me afastar e se eu não tivesse todo o apoio do Mário Nicácio e da Angela Kaxuyana naquele momento com o conselho, eu não teria retornado, eu não teria condições de ter retornado e concluir o meu mandato. Então eu sou muito grata a todas as lideranças da amazônia brasileira, sou muito grata a parceria com o Mário, a parceria e irmandade da Angela.”

UNINDO, TRABALHANDO E AMPLIANDO 

Ao decorrer dos anos a Coiab foi crescendo e ganhando cada vez mais destaque, com isso comunidades, aldeias, estados foram se integrando a Coordenação e integrando a rede. Atualmente a Coiab atua nos nove estados da Amazônia Brasileira: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Está articulada com uma rede composta por associações locais, federações regionais, organizações de mulheres, professores, estudantes indígenas, e subdividida em 64 regiões de base. Suas 9 organizações de base, representando cada estado, são: 

  1. A Articulação dos Povos Indígenas do Amazonas (APIAM). 
  2. Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP)
    1. Articulações dos Povos Indígenas do Tocantins (ARPIT)
    2. Conselho Indígena De Roraima (CIR)
    3. Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA).
    4. Federação Dos Povos Indígenas do Pará (FEPIPA).
    5. Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Mato Grosso (FEPOIMT). 
    6. Movimento Indígena Do Acre (MOV ACRE).
    7. Organização dos Povos Indígenas de Rondônia, Noroeste do Mato Grosso (OPIROMA).

    Além das 9 regionais, também faz parte da base da instituição a União das Mulheres Indígenas Da Amazônia Brasileira (UMIAB). E compõe as Articulações dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e La Coordinadora de las Organizaciones Indígenas de la Cuenca Amazónica (COICA), na tradução Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica. Em 2019 a Coiab pensa em uma nova ferramenta que pode ser utilizada pelos povos indígenas, com isso é criado o Fundo Indígena da Amazônia Brasileira, também chamado de Podáali, um fundo onde foi pensado por indígenas, para os povos indígenas e gerenciado pelos mesmos.  O Podáali surgi com o propósito de apoiar planos e projetos de vida dos povos, comunidades e organizações indígenas, que reforcem a autodeterminação e protagonismo, valorizem as culturas e modos de vida, fortaleçam a sustentabilidade e promovam a gestão autônoma de territórios e recursos naturais. “Podáali”, na língua do povo Baniwa do tronco linguístico Aruak, significa “doar sem querer receber nada em troca”. É sinônimo de celebração, reciprocidade e promoção da sustentabilidade para o bem viver dos povos indígenas. Por isso seus valores circulam o respeito com os povos indígenas amazônicos, as suas demandas, prioridades, visão de mundo, formas próprias de se organizar e pensar.

    A Coiab tem a vontade e anseio de ampliar a sua rede e assim atingir mais povos indígenas, ajudando em suas demandas e  dando protagonismo à diversidade de povos existentes na amazônia brasileira. 

    PRINCIPAIS LUTAS

    A Coiab ao decorrer dos anos vem trabalhando com as mesmas pautas de sua criação e também agregando mais temas para a construção de novas visões de mundo. Promovendo articulação política e o fortalecimento das organizações indígenas, que compõem nossa rede por toda a Amazônia brasileira. Atua pela demarcação das Terras tradicionais. Lutamos pela garantia dos nossos direitos por uma saúde de qualidade e educação diferenciada digna. Desenvolvemos e fomentamos ações que fortalecem a diversidade cultural dos povos e também a sustentabilidade.

    Projetos que envolvem desde formação de jovens comunicadores até projetos de PGTA’s os Planos Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas, envolvendo gerências da Coiab: Projetos, Povos Isolados e Recente Contato, Gerência de Comunicação, Gerência de Monitoramento, Gerência de Financeiro, Gerência do Centro Amazônico de Formação Indígena. 

    Seguindo nossos eixos de atuação, por anos definidos no estatuto, seguindo as determinações das assembleias. Visamos o protagonismo indígena, a formação de líderes indígenas e a inclusão social e digital com projetos que levam internet para os lugares sem conexão. Eixos de atuação:   

    1. Gestão, fortalecimento político e desenvolvimento institucional da Coiab;
    2. Defesa dos direitos indígenas e políticas públicas prioritárias;
    3. Autonomia e sustentabilidade dos povos e territórios indígenas;
    4. Formação política e técnica;
    5. Gênero, infância e juventude indígena na amazônia;
    6. Defesa dos direitos dos povos indígenas isolados.

    Um destaque para as lutas da organização são referentes aos povos isolados, onde a Coiab se destaca por estar a frente de atividades que monitoram e lutam para proteção dos povos, realizando esforços para apoiar as estratégias e ações das organizações e comunidades indígenas para a proteção dos territórios e vidas dos povos indígenas isolados. A atenção às políticas de recente contato e as incidências junto aos povos nessa situação é um desafio que se coloca na mobilização entre as organizações indígenas da Rede Coiab, parceiros indigenistas e o Estado brasileiro. A gerência de povos isolados e recente contato também reconhece e promove as diversas políticas indígenas de proteção e o debate sobre o tema, ao mesmo tempo, em que busca incidir e monitora a efetividade da aplicação de políticas públicas de proteção para os Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato , seus territórios, em conjunto com as equipes multidisciplinares da Coiab, sua Rede nos nove estados da Amazônia brasileira, articulação para a Bacia Amazônica entre as organizações indígenas dos 9 países e parceiros da sociedade civil e setores públicas.

    DESAFIOS DA LUTAS INDÍGENAS 

    Logo de início, as maiores dificuldades se encontravam no que tinha de mais rico: a diversidade étnica. A Amazônia possui 180 povos, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com maior população de povos indígenas do Brasil, são mais de 200 mil indígenas. Falando mais de 160 línguas, por isso essa diversidade dos povos indígenas foi um grande empecilho para o diálogo e entender que os povos são diferentes em seu modo de vida, tanto em questões culturais até suas organizações. Uma das características principais da região amazônica é a sua geografia, com lugares que só podem ser acessados por vias fluviais, fazendo viagens dias ou semanas. Por estarem distantes, em áreas remotas, o acesso à internet tem uma limitação, existindo alguns lugares que nem conseguem chegar, tal que a comunicação também tem seus desafios, sendo utilizada a língua padrão, o português. Essa dificuldade se estendia para a criação de  assembleia, e contatos extraordinários que estão sendo cessados por projetos que a Coiab realiza junto a parceiros.  

    Na questão de execução de projetos o confronto direto é em questões de proteção territorial, como os grandes empreendimentos como a exploração do potássio no Território Mura, petróleo na região do Amapá. O projeto  Ferrogrão que trata da criação de ferrovia entre Pará e Mato Grosso. Indo para pautas da BR 319 oficialmente Rodovia Álvaro Maia, mais conhecida como Rodovia Manaus–Porto Velho, a exploração do gás no estado do Maranhão até as atividades da empresa Eneva (empresa de energia) com impactos em áreas de povos isolados.

    O MARCO TEMPORAL

    Desde seu início, tem como um dos seus objetivos a luta pelo território. Foi ela uma das primeiras, se não a primeira, a usar a frase destaque “DEMARCAÇÃO JÁ!” usadas até os dias atuais. Ao longo dos últimos anos o tema do Marco temporal tomou espaços em veículos de comunicação da grande massa, com isso o debate dentro e fora das lutas indígenas começaram a ficar em evidência. A missão da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira é reproduzir e amplificar essa demanda que é de suma importância para lutas indígenas. 

    A Coiab entende que o Marco Temporal (Lei 14.70123), prejudica não só os indígenas que lutam por anos pela demarcação de terra, mas os indígenas que estão afastados dessa tema, todavia são parte dessa discussão, os povos em isolamento voluntário, uma vez que as terras que eles habitam estão em jogo.  Prejudicando seu modo de vida que é voluntário, com a lei do marco temporal esses povos podem estar a mercê de perigos como a grilagem, o desmatamento e garimpo ilegal.

    O atual coordenador geral da Coiab fala sobre a importância da demarcação para os povos indígenas “Nós sabemos da importância dos territórios para a proteção da floresta, para a proteção da vida, para o equilíbrio do clima do planeta, para a proteção dos seres humanos que vivem na terra”, afirma. 

    ATUALIDADE E ANSEIOS PARA O FUTURO 

    Atualmente a Coiab tem como coordenador geral, Toya Manchineri, do Povo Manchineri do estado do Acre, que é filho de um dos fundadores da Coiab, o senhor José Severino Manchineri, que aos 18 anos já era considerado articulador dentro da sua comunidade, foi liderança por 20 anos e pajé, um dos únicos conhecedores vivos dos cantos antigos dos Manchineri. Participou também do processo de demarcação da primeira terra indígena do Acre. Zé Severino relembra sobre o pensamento inicial da Coiab “… de organizar todas as organizações menores, de base, que já atuavam no movimento indígena, mas não tinham nome nem uma estrutura formalizada. O primeiro grande desafio da Coiab e que se mantém até hoje é a demarcação de Terras Indígenas”. Esse pensamento cruzou décadas e ainda se mantém em seu filho, hoje como coordenador geral da Coiab. Com projetos que atuam com proteção territorial, a Coiab se junta a outras organizações para falar sobre pautas envolvendo essa temática tão importante que atravessa gerações. O coordenador geral fala sobre sua inspiração e sua motivação para seguir no movimento indígena “Meu pai me motiva, por toda a trajetória dele. Com ele que aprendi sobre o movimento. E meus netos porque como existiu um passado, vai ter novas gerações e tudo que fazemos hoje é para que eles tenham um futuro melhor. Livre dos temas negativos que estamos trabalhando hoje”. 

    A Coordenação Executiva da Coiab sonha com a participação efetiva e nas tomadas de decisões na Conferência das Nações Unidas pelo Clima, a COP30, que será realizada no ano de 2025 em Belém do Pará, no Brasil. Movimentando organizações, federações e articulações indígenas de toda a amazônia, podendo ser um momento de união para falar sobre as suas próprias existências e realidades. Falar sobre mudanças climáticas da perspectiva dos povos indígenas e levar a pauta desse olhar para o mundo. 

    Nesta gestão a Coiab voltou a usar o lema “Unir para organizar, fortalecer para conquistar!”, como memória de um passado que deve estar sempre presente, como lembra Toya Manchineri “Lá atrás, a Coiab juntou as organizações de base com o intuito de orientá-las e fortalecer as bases e juntos conquistarem espaços”. De 1989 até 2024, quando a Coiab completa seus 35 anos, com a essência do passado e novas visões para seu futuro, dando o protagonismo para todos os povos indígenas da amazônia  brasileira.

    MENÇÃO HONROSA

    Esta reportagem é dedicada aqueles que se empenharam na construção e apoio para que a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira pudesse existir e fazer a diferença na região amazônica

    Fundadores

    Manoel Moura Tukano

    Paulo Roberto da Silva Galibi Maroorno

    Apoiadora

    Deolinda Freitas Prado 

    (AMARN)













No Dia dos Povos Indígenas, Apib cobra ações contra o garimpo no território Munduruku

No Dia dos Povos Indígenas, Apib cobra ações contra o garimpo no território Munduruku

A incidência faz parte das ações do Abril Indígena e antecede o Acampamento Terra Livre 2024

No Dia Nacional dos Povos Indígenas (19/04) a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), por meio do seu departamento jurídico, protocolou uma manifestação no Supremo Tribunal Federal (STF), no qual cobra ações contra o garimpo no território Munduruku. O documento foi protocolado pela Apib na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709.

A manifestação faz parte das ações do Abril Indígena e  antecede o Acampamento Terra Livre (ATL) 2024, que ocorrerá entre os dias 22 e 26 de abril em Brasília (DF). No documento a Apib cobra a realização de ações urgentes de comando e controle que busquem conter o garimpo nos territórios tradicionalmente ocupados pelo povo Munduruku.

A organização também pede ao STF que o Ministério da Saúde crie uma política nacional de saúde de pessoas afetadas pelo mercúrio e inclua uma série de contaminação humana por mercúrio no sistema DATASUS, além do protocolo para coleta de dados e alimentação do sistema.

As terras indígenas Munduruku estão entre as cinco terras com maior área de garimpo devastados pela atividade ilegal, conforme estudo do MapBiomas publicado em 2023. Porém, a presença do garimpo ilegal em terras Munduruku não é novidade. Em 2020, a TI Munduruku foi a segunda com maior registro de garimpo no Brasil. No ano seguinte a posição se manteve a mesma, mas com expressivo aumento da área garimpada, que subiu de 1.592 ha, em 20205, para 4.743 ha, em 2021.

“Vamos ao STF informar a situação de calamidade que os povos indígenas Munduruku vem vivenciando em seus territórios. Diversos estudos sinalizam que a contaminação pelo mercúrio tem começado a prejudicar toda saúde dos indígenas quanto da biodiversidade do território, tudo isso devido ao garimpo ilegal que tem operado dentro da terra indígena. Por esse motivo, dentro da manifestação a gente pede que diferentes instâncias do governo brasileiro tomem para si essa situação. O Brasil é signatário da Convenção de Minamata e o Ministério de Relações Exteriores precisa começar a implementar essa convenção e fazer dela uma ferramenta de combate ao garimpo”, afirma Maurício Terena, coordenador jurídico da Apib.

Veja a lista completa de pedidos da Apib:

  1. Em regime de urgência, a realização de ações de comando e controle destinadas à contenção da atividade garimpeira nos territórios tradicionalmente ocupados pelo povo Munduruku;

  2. Sejam o Ministério da Saúde e, especificamente, a SESAI, instados a se manifestarem sobre os dados aqui apresentados, bem como sobre o estágio de cumprimento das ações previstas no Plano Setorial de Implementação da Convenção de Minamata, particularmente em seu Eixo 4;

  3. Manifesta-se o Ministério da Saúde sobre a criação de uma política nacional de saúde de pessoas afetadas pelo mercúrio.

  4. O Ministério da Saúde seja instado a apresentar, em prazo razoável, alternativa qualificada – via SINAN ou novo sistema – para a inclusão de dados, incluída a série histórica, de contaminação humana por mercúrio no sistema DATASUS, bem como protocolo para coleta de dados e alimentação do sistema;

  5. A determinação de inclusão, pela Secretaria do Meio Ambiente do
    Estado do Pará, de dados conhecidos sobre as áreas de risco expostas ou potencialmente expostas a contaminantes químicos, notadamente em territórios indígenas, em razão de mineração, no Sistema de Informação de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado (SISSOLO), do Ministério da Saúde, nos termos do recomendado pelo Ministério Público Federal na Recomendação no 2, de 08 de fevereiro de 2024;

  6. Inste o Ministério das Relações Exteriores para que apresente plano de trabalho e qual a metodologia eleita para implementar a convenção de minamata no Brasil.

  7. Inste o Ministério do Meio Ambiente para que apresente as medidas que estão sendo adotadas internamente no órgão para recuperar o território munduruku.

20 anos de Acampamento Terra Livre

Cerca de 5 mil indígenas de mais de 200 povos devem ocupar a Fundação Nacional de Artes (Funarte), em Brasília, no Acampamento Terra Livre 2024. A mobilização ocorre entre os dias 22 e 26 de abril e tem como tema principal “Nosso marco é ancestral. Sempre estivemos aqui!”, uma oposição à tese ao marco temporal.

A tese foi derrubada no Supremo Tribunal Federal (STF), porém legalizada por meio da lei 14.701/2023, considerada pela Apib como lei do genocídio e aprovada pela bancada anti-indígena do Congresso Nacional.

A programação do ATL, que este ano completa 20 anos de luta e resistência, irá relembrar a trajetória da mobilização e homenagear lideranças históricas do movimento indígena. A saúde mental, a luta das mulheres indígenas e o aldeamento da política brasileira também são temas que devem ser debatidos durante o acampamento.

Fazem parte da programação as marchas “#EmergênciaIndígena: Nossos Direitos não se negociam”, prevista para o dia 23 de abril às 9h. Além da marcha “Nosso marco é ancestral”. Sempre estivemos aqui” no dia 25, às 15h.

“Esse deve ser um dos maiores acampamentos. A expectativa é que o ATL 2024 seja o mais participativo de toda a história, tanto em número de pessoas, quanto de representatividade de povos. É o momento de nos unirmos nas assembleias e debater os próximos caminhos”, diz Kleber Karipuna, coordenador executivo da Apib.

No dia 22 de abril, a partir das 10h, a coordenação executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) irá receber a imprensa para uma coletiva sobre o ATL 2024. A coletiva irá ocorrer na tenda do cinema, dentro do Acampamento Terra Livre.

Jornalistas que desejam cobrir a mobilização devem se inscrever por meio do link: https://bit.ly/imprensaATL2024

 

Assassino de Ari Uru-Eu-Wau-Wau é condenado a 18 anos de prisão

Assassino de Ari Uru-Eu-Wau-Wau é condenado a 18 anos de prisão

O comerciante João Carlos da Silva foi condenado a 18 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado cometido contra a liderança indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, ocorrido em abril de 2020. O julgamento aconteceu nessa segunda-feira, na comarca da cidade rondoniense de Jaru, distante pouco mais de 290 quilômetros da capital, Porto Velho.

A promotoria de justiça apresentou a tese de que Ari foi embriagado até ficar inconsciente no bar do acusado, depois foi espancado e teve o corpo arrastado e jogado já sem vida às margens de uma estrada distrital da cidade de Jaru.
As investigações quebraram o sigilo telefônico do réu, que

confessou ter cometido o crime para terceiros.
Ari fazia parte do Grupo de Monitoramento da Terra, responsável por fiscalizar e denunciar a invasão de terras no território. A TI Uru-Eu-Wau-Wau, localizada em Rondônia, possui mais de 1,8 milhão de hectares. A comunidade tem enfrentado a ameaça de grileiros e madeireiros, interessados em explorar a floresta e se apropriar das terras.

“Nós temos certeza absoluta que tudo é ligado à invasão das terras dos Uru-Eu-Wau-Wau, que tudo é ligado a falta de proteção do território, a falta de proteção aos povos indígenas”, exclamou a fundadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Ivaneide Bandeira sobre o crime.

Lula, não queremos fazenda, queremos a demarcação das nossas terras

Lula, não queremos fazenda, queremos a demarcação das nossas terras

O presidente Lula sugeriu ao governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), que compre terras para salvar os indígenas da etnia guarani que vivem “na beira da estrada” em Dourados (MS). “Eu quero lhe dizer que se você encontrar as terras para que a gente recupere a dignidade desse povo, o governo federal será parceiro na compra e no cuidado para que eles voltem a viver dignamente. O que eles não podem é ficar na beira da estrada mendigando”, afirmou.

A proposta foi feita nesta sexta-feira, 12/04, durante um ato de comemoração pela habilitação (permissão para funcionar) de frigoríficos da JBS, em Campo Grande (MS). A carne será exportada para a China. A produção de carne no Brasil é um dos expoentes da agropecuária, ou do agronegócio, junto a soja, a cana-de-açúcar, o café e o milho. Também é uma das maiores ameaças às florestas. Em 2021, a produção de gado impulsionou sozinha 75% do desmatamento e0m terras públicas (Dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Ipam).

Com a afirmação, Lula endossa a posição do governador de direita, que gravou um vídeo para redes sociais reiterando a ideia de que assim, solucionaria o conflito fundiário que se estende há anos no MS. “Esse é um caminho que a gente está propondo há muito tempo”, disse Riedel.

A proposta de “comprar uma terra” para os indígenas é tão contraditória quanto o evento escolhido para fazer tal anúncio.

A compra de terras para assentar. povos indígenas afronta o direito originário de ocupação tradicional assegurado pela Constituição Federal de 1988. A Carta Magna (Art. 231) não manda comprar terras e sim demarcar e proteger as terras tradicionalmente ocupadas, assegurando sua posse permanente e o usufruto exclusivo para os povos. Terras essas, que são inalienáveis e indisponíveis, sendo os direitos originários sobre elas imprescritíveis. O que tornam nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras indígenas.

Lula, erra ao assumir o discurso presente na Lei do Marco Temporal, uma Lei inconstitucional, que foi imposta no final do ano passado pelo Congresso ruralista, e certamente, será mais uma vez derrubada no STF.

O mais grave é que o governo Lula está manchando a sua trajetória histórica. Desde a campanha do seu primeiro mandato em 2002, o presidente se comprometeu a demarcar o passivo das terras indígenas, mas foi um dos governos que menos demarcou. E agora, como outros velhos e conservadores governos, em nome do progresso e do desenvolvimento econômico do país, rifa a base de existência dos povos indígenas, tornando-se refém do mercado, do Centrão, do Agronegócio, dos Evangélicos e dos militares.

Ao admitir a “compra de fazendas”, Lula está renunciando a seu programa de viés social e popular, faltando com sua palavra e aderindo a injustiça histórica que até hoje coloca os povos indígenas à beira da extinção física e sociocultural, pois sem terra e território, perdemos a razão mais sagrada de nosso existir e bem viver.

Em todo o Brasil, até o momento, foram criados nove assentamentos de reforma agrária, no terceiro governo Lula e apenas seis Terras Indígenas foram homologadas. O investimento do governo no agronegócio foi de R$ 363 bilhões em 2023. Já a agricultura familiar recebeu R$ 71 bilhões, um total cinco vezes menor. Já o orçamento do Ministério dos Povos Indígenas foi de R$ 813 milhões e do INCRA, órgão responsável pela Reforma Agrária, foi inferior a R$ 500 milhões.

Os números mostram as prioridades do governo petista, um governo de coalisão de forças contraditórias. Alianças que foram necessárias para eleger e manter Lula no páreo, desde seu primeiro mandato e, agora, frente aos avanços fascistas do Bolsonarismo e ao Congresso mais conservador da história da legislatura brasileira

Os povos do campo, das florestas e das águas, como tudo indica, estão longe de ser considerados pilares estruturantes para as políticas dos próximos anos. No entanto, conhecemos de perto essa lição. O projeto popular para o Brasil se tornará realidade à medida de nossa força para organizar, formar consciências, lutar e comunicar. São as lutas que garantem as nossas conquistas. É a luta que garante a democracia, o Estado Democrático de Direito e respeito aos direitos fundamentais, num país em que reina a autocracia de uma burguesia covarde e submissa ao capital internacional, como já dizia Florestan Fernandes.

A demarcação das Terras Indígenas Guarani, Kaiowá, Nhandeva e demais será conquistada pela nossa organização, pela mobilização do movimento indígena, através da luta. Nossos corpos-territórios, a vida das nossas atuais e futuras regionais, não estão em mesa de negociação.

Lula, se tem recursos, demarca e desintrusa as terras indígenas, acaba com as organizações criminosas que intimidam os nossos povos e comunidades, perseguem e assassinam as nossas lideranças. Destine fazendas para a reforma agrária e demarque nossas terras, secularmente invadidas e esbulhadas pelos invasores que aqui chegaram, há 524 anos, e seus atuais descendentes.

O nosso marco é ancestral. Sempre estivemos aqui.

Demarcação Já!

Leia a nota da nossa organização de base, Aty Guasu, sobre o caso.

 

ATL 2024: Credenciamento de Imprensa

ATL 2024: Credenciamento de Imprensa

Foto: Jacqueline Lisboa

Atenção imprensa!

O credenciamento para cobrir o 20° Acampamento Terra Livre já está liberado! Acesse o link e cubra a maior mobilização indígena do Brasil

No dia 22 de abril, primeiro dia do ATL, a coordenação executiva irá receber a imprensa para falar sobre a programação e as expectativas para o Acampamento. A coletiva irá ocorrer a partir das 10h no ATL.

Link de credenciamento: https://bit.ly/imprensaATL2024

Manual de boas práticas aqui

Nosso Marco é Ancestral, Sempre Estivemos Aqui!

Contato: (85)98228 5022 – Luan de Castro Tremembé / Coordenação de imprensa ATL 2024

ATL 2024: Chamado para Cobertura Colaborativa

ATL 2024: Chamado para Cobertura Colaborativa

O Acampamento Terra Livre 2024 está chegando, então corra para fazer sua inscrição para contribuir na cobertura colaborativa da maior mobilização indígena do Brasil!

Se você faz parte de organizações e/ ou coletivos de comunicação, e vai estar no Acampamento Terra Livre, faça seu credenciamento para a cobertura colaborativa para receber informações e orientações da comunicação do ATL.

O 20º Acampamento Terra Livre acontece entre os dias 22 e 26 de abril, no espaço da Funarte em Brasília.

Link de inscrição: https://forms.gle/BcsWq7u144uotLvq7

Doe para o ATL2024: https://bit.ly/DoarApib

Nosso Marco é Ancestral, Sempre Estivemos Aqui!

Assassino de Ari Uru-Eu-Wau-Wau irá a julgamento na próxima segunda-feira

Assassino de Ari Uru-Eu-Wau-Wau irá a julgamento na próxima segunda-feira

“Nós temos certeza absoluta que tudo é ligado à invasão das terras dos Uru-Eu-Wau-Wau, que tudo é ligado a falta de proteção do território, a falta de proteção aos povos indígenas”, exclamou a fundadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Ivaneide Bandeira.

O suspeito de matar Ari Uru-Eu-Wau-Wau irá a julgamento por homicídio, no entanto, conclusão da Polícia Federal afirma apenas que “o suspeito estaria incomodado com a presença de Ari na região”.

O caso vai para o Tribunal do Júri em Rondônia na próxima segunda-feira, dia 15/04. Para a liderança indígena Ivaneide, a conclusão da investigação é “revoltante”, “lamentável” e vai contra o que os povos indígenas acreditam.

O povo Uru-Eu-Wau-Wau, também conhecido como “Jupaú”, em tradução livre do idioma originário, são “os que usam jenipapo”. Eles cuidam da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, a maior do estado de Rondônia. Ela abriga cerca de nove povos indígenas, a maioria são isolados (aqueles que optaram por viver sem contato com a sociedade em geral).

O corpo de Ari Uru-Eu-Wau-Wau, 33 anos, foi encontrado com sinais de espancamento próximo a uma das entradas da Terra Indígena. Ele era professor e muito conhecido no estado por trabalhar registrando e denunciando extrações ilegais de madeira dentro de sua terra.

Inicialmente, as investigações apontaram indícios de que o crime tinha ligação com o trabalho de Ari em denunciar o desmatamento e a venda ilegal de madeira em seu território, mas não foi o que a PF registrou, ocultando a motivação levantada pelos indígenas.

Exigimos justiça, a condenação do executor é apenas o primeiro passo. A TI precisa de uma desintrusão, que garanta a proteção à vida e ao território contra madeireiros e grileiros.