Zeca do PT respeite as lutas e lideranças do movimento indígena

Zeca do PT respeite as lutas e lideranças do movimento indígena

O Deputado usou a tribuna da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul para criminalizar e perseguir lideranças indígenas, que lutam pelo direito a Terra. Conselho Terena, Aty Guasu e a Apib e todas as suas organizações de base exigem respeito.

O Conselho do Povo Terena, a Assembleia Geral do Povo Guarani e Kaiowá (Aty Guasu) e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), em conjunto com todas as suas organizações regionais de base, exigem respeito do Deputado Estadual Zeca do PT, de Mato Grosso do Sul. No dia 9 de março, o parlamentar usou a tribuna da Assembleia Legislativa de MS para criminalizar lideranças Guarani Kaiowá, que lutam pelo seu direito à terra, e está perseguindo o secretário executivo do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Luiz Eloy Terena, por exercer seu dever de defender os povos indígenas.

“Durante a campanha eleitoral o deputado percorreu todo o território tradicional em busca de votos, nos chamando de amigos e até ousou dançar nossas danças tradicionais. Foi eleito com expressivo voto dos povos indígenas e hoje se posiciona na tribuna contra os nossos direitos. Exigimos respeito”, ressaltou a coordenadora executiva da Apib, Val Terena.

O povo Guarani e Kaiowá segue na resistência, retomando o território Laranjeira Nhanderu. Na manhã deste 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, os indígenas voltaram para a sede da fazenda Inho, que sobrepõe a Terra Indígena (TI) localizada no município de Rio Brilhante, MS.

Na primeira ação de retomada, realizada no dia 03 de março, o cerco policial obrigou os indígenas a recuarem para a mata, porém com o avanço na perícia antropológica para a demarcação, eles puderam ocupar novamente o espaço e assim, garantir que os fazendeiros não enviem pistoleiros para a área, que se passam por segurança privada.
“É a segurança do povo aqui, porque é onde centraliza a segurança privada e sempre eles acham um jeito de atacar a comunidade. Então a única segurança do povo é de nós recuperarmos a posse da sede para a comunidade”, explica Kunumi Verá Ndy Juy, coordenador executivo da Apib.

Confira nota completa da Aty Guasu sobre a retomada da TI Laranjeira aqui.

O Conselho Terrena classificou como irresponsável a atividade do deputado Zeca do PT, que segue atacando o direito dos povos indígenas. “irresponsabilidade é pôr em risco a vida dos povos indígenas, em nome da proteção de seus aliados e de interesses pessoais. Irresponsabilidade é ser deputado estadual no estado mais anti-indígena do país e tentar deslegitimar nossos direitos originários. Irresponsabilidade é não se informar, mas ocupar uma tribuna como representante do povo e apenas representar interesses próprios.”,

Confira nota completa aqui.

Exigimos que o deputado faça uma retratação pública e atue para garantir direitos dos povos e diminuir os conflitos na região. Nos solidarizamos com as lideranças Guarani e Kaiowá e com o secretário executivo do MPI, Eloy Terena, diante dos ataques do parlamentar que usa de forma indevida seu poder político enquanto parlamentar.

Histórico
A truculência da polícia militar na região levou ao Massacre de Guapoy, em Amambai e matou dois indígenas em menos de um ano, em 2022. Dessa vez, durante a retomada, três lideranças indígenas foram presas e agredidas fisicamente enquanto estavam sob custódia da polícia. Elas foram liberadas no dia seguinte, após a intervenção dos advogados indígenas.

Os indígenas já foram despejados três vezes dessa mesma área. A Apib e Aty Guasu aguardam a presença do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e exigem celeridade do processo de demarcação para que o conflito possa ser solucionado.

Povo Kaiowá e Guarani retoma novamente a sede da Fazenda Inho

Povo Kaiowá e Guarani retoma novamente a sede da Fazenda Inho

O povo Guarani e Kaiowá segue na resistência, retomando o território Laranjeira Nhanderu. Na manhã deste 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, os indígenas voltaram para a sede da fazenda Inho, que sobrepõe a Terra Indígena (TI) localizada em Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

Durante a retomada realizada na sexta-feira, 03/03, o cerco policial obrigou os indígenas a recuarem para a mata, porém com o avanço na perícia antropológica para a demarcação, eles puderam ocupar novamente o espaço e assim, garantir que os fazendeiros não enviem pistoleiros para a área, que se passam por segurança privada.

“É a segurança do povo aqui, porque é onde centraliza a segurança privada e sempre eles acham um jeito de atacar a comunidade. Então a única segurança do povo é que nós recuperássemos a posse da sede para a comunidade”, explica Kunumi Verá Ndy Juy, coordenador executivo da Apib.

A truculência da polícia militar na região levou ao Massacre de Guapoy, em Amambai e matou dois indígenas em menos de um ano. Dessa vez, durante a retomada, três lideranças indígenas foram presas e agredidas fisicamente enquanto estavam sob custódia da polícia. Elas foram liberadas no dia seguinte, após a intervenção dos advogados indígenas.

Os indígenas já foram despejados três vezes dessa mesma área. A Apib e Aty Guasu aguardam a presença do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e exigem celeridade do processo de demarcação para que o conflito possa ser solucionado.

Em nota, a Aty Guasu, afirma “esperamos das autoridades competentes, a garantia de nossos direitos constitucionais e tratados internacionais (ao qual o Brasil é signatário) sobre a referida terra tradicional Kaiowá e Guarani e a garantia da segurança e saúde de nosso povo Kaiowá e Guarani frente a essa decisão [de retomar a terra]. Pois não queremos ser acometidos da violência brutal e letal que o Estado vem causando a nossas famílias”.

Confira a nota completa da Aty Guasu.

 

 

Ka’aguy Rusu – Estado de Mato Grosso do Sul

Aty Guasu – Grande Assembléia Guarani e Kaiowa 08/03/2023.

Diante ao último ataque arbitrário e ilegal da Polícia Militar do MS no dia 03 de Março de 2023 no município de Rio Brilhante/MS, o qual as Terras indígenas Nhanderu Laranjeira – 1, Nhanderu Laranjeira – 2, Nhanderu Laranjeira e Tekoha Yvyrarapo fazem parte;

Diante aos três últimos despejos de nosso povo na região tradicional; Diante dos quatro últimos ataques que nosso povo Kaiowá e Guarani sofreu nos últimos anos na região originária;

Diante de ameaças e perseguições;

Depois do plantio coletivo de árvores tradicionais, plantas medicinais milenares e árvores frutíferas. Após ouvir a memória coletiva ancestral Kaiowá e Guarani dos mais velhos sobre o território tradicional e a origem da vida do nosso povo Kaiowá e Guarani no dia 07/03/2023. Conforme a Lua e a Terra, conectados à cosmologia Kaiowá e Guarani;

A Grande Assembleia do povo indígena Guarani e Kaiowá – ATY GUASU, junto de suas lideranças, juntamente com seu povo Guarani e Kaiowá, decidiu coletivamente, ocupar o território tradicional Tekoha Laranjeira Nhanderu no dia de hoje 08 de Março de 2023. Portanto, por meio desta, informamos a todas as autoridades de Justiça e Segurança Pública, agentes Federais e locais da força do Estado, autoridades Indígenas e Indigenistas, autoridades de Saúde e Saúde indígena, autoridades dos Direitos Humanos e demais autoridades do Direito e Direito Indígena, sobre nossa decisão coletiva.

Desta forma, esperamos das autoridades competentes, a garantia de nossos direitos constitucionais e tratados internacionais (ao qual o Brasil é signatário) sobre a referida terra tradicional Kaiowá e Guarani e a garantia da segurança e saúde de nosso povo Kaiowá e Guarani frente a essa decisão. Pois não queremos ser acometidos da violência brutal e letal que o Estado vem causando a nossas famílias.

Atenciosamente, Aty Guasu

Povo Guarani e Kaiowá avança na demarcação da Terra Indígena Nhanderu Laranjeira, no Mato Grosso do Sul

Povo Guarani e Kaiowá avança na demarcação da Terra Indígena Nhanderu Laranjeira, no Mato Grosso do Sul

Após a retomada de parte da Terra Indígena Nhanderu Laranjeira, nesta sexta-feira, 03/03, e o cerco realizado pela Polícia Militar do Mato Grosso do Sul, a juíza Monique Rafaele Antunes Krieger, determinou o avanço no processo de demarcação. Com o laudo antropológico concluído e apresentado à justiça, o próximo passo será a perícia antropológica. O responsável, Dr. Homero Ferreira de Lima local, já se encontra na TI para realizar esta parte dos estudos.  Portanto, os indígenas se mantêm na área da sede da fazenda Inho, no município de Rio Brilhante, que se sobrepõe ao território reivindicado.

Os indígenas já foram despejados três vezes dessa mesma área. A Apib e Aty Guasu aguardam a celeridade do processo de demarcação para que o conflito possa ser solucionado.

Três lideranças indígenas foram presas em uma ação truculenta da PM, que chegou ao território acompanhada de homens em caminhonetes privadas, atirando com balas de borracha e bombas de efeito moral.

As lideranças foram liberadas e retornaram, neste sábado, para a retomada, no entanto, apresentam escoriações, vários hematomas e dores na cabeça devido a agressão da polícia. Os Guarani e Kaiowá solicitam a presença de um médico da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) para realizar o corpo de delito.

Cenário de guerra
Dez camburões cercaram os indígenas e avançaram contra as pessoas, derrubando os barracos que os indígenas haviam erguido na mesma manhã. O Cacique Adalto tentou dialogar com as autoridades, mas foi atropelado por um camburão. Quatro policiais renderam a liderança e o algemaram.

Outro camburão tentou acertar o Nhanderu Olímpio, de 83 anos, que foi defendido por sua filha, professora Clara Barbosa Almeida. Ela entrou na frente do carro, foi rendida por outros quatro policiais e jogada dentro do camburão.
Em seguida a PM tentou atropelar outro barraco, dessa vez, onde estavam as crianças. Lucas, um jovem indígena de 25 anos, ficou na frente do camburão, que acelerou ameaçando passar por cima. Ele caiu no chão e as seis crianças que estavam no barraco correram para o mato, enquanto ele foi algemado. Lucas gritou para as mulheres e crianças se esconderem.

Mais tarde os indígenas presos foram jogados, um na ambulância e outros dois no carro do corpo de bombeiros. Pistoleiros e polícia militar se moveram em direção aos indígenas, que foram recuando devagar. Uma das lideranças desmaiou de fome. Ela estava há três dias sem se alimentar direito, pela tensão no local. Ela e Nhanderu Olímpio foram atingidos de raspão na perna.

Truculência contínua
A violência da Polícia Militar no Mato Grosso do Sul é reincidente. Em junho do ano passado, o Massacre de Guapoy deixou vários indígenas feridos e o jovem Vitor Fernandes foi assassinado, em outra retomada dos Guarani e Kaiowá, no município de Amambai. Já o indígena Vitorino Sanches, foi alvejado no centro da cidade. Os agressores seguem impunes.

Os Guarani e Kaiowá denunciam que integrantes das forças de segurança e policiais têm atuado para incriminar as vítimas da violência. “A polícia ataca, o Estado permite, o público e o privado funcionam em uma única direção. Ampliar a monocultura sobre os cemitérios que um dia foram nossas terras”, denuncia a Aty Guasu.

A relação de promiscuidade entre instituições de segurança, pistolagem e fazendeiros criou campanha nacional de extermínio dos povos indígenas, promovida largamente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que discursou inúmeras vezes incitando o agro banditismo e autorizando invasores de Terra Indígenas a propagarem o terror para assegurar os territórios dos quais se apropriaram indevidamente. A Apib exige providências das autoridades, que a integridade dos indígenas seja assegurada e que o Estado tenha agilidade para efetivar a tão esperada demarcação do território.

Polícia ameaça povo Guarani Kaiowá no nova retomada Laranjeira Nhanderu, no Mato Grosso do Sul

Polícia ameaça povo Guarani Kaiowá no nova retomada Laranjeira Nhanderu, no Mato Grosso do Sul

Na madrugada desta sexta-feira, 03/03, o povo Guarani e Kaiowá retomou a sede da fazenda Inho, em Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul, no território Laranjeira Nhanderu. Imediatamente a polícia cercou os indígenas e está ameaçando realizar um despejo sem ordem judicial. Três lideranças indígenas foram presas. A violência da Polícia Militar da região já foi denunciada inúmeras vezes. O exemplo mais recente foi o assassinato do jovem Vitor Fernandes em junho do ano passado, na TI de Guapoy, em Amambai.

Os indígenas já foram despejados três vezes da fazenda, que faz parte da Terra Indígena (TI) e deverá integrar a área após a demarcação. De acordo com Kunumi Verá Ndy Juy, coordenador executivo da Apib, com o recuo dos Guarani e Kaiowá, os fazendeiros seguem privando os indígenas da sua terra originária. “Eles estavam apenas dentro do mato, mas os fazendeiros continuam usando a terra deles. Agora eles começaram a retornar para o território deles. Estamos vendo o que fazer para segurar a terra na posse e não acontecer como o que aconteceu em Guapoy, porque é uma terra que sempre foi deles. Então não tem que fazer massacre novamente”, defende o coordenador executivo da Apib.

A defensoria pública, a sexta câmara do ministério público e demais autoridades responsáveis já foram acionadas. O Ministério Público atendeu ao chamado da Apib e já se encontra no local. A Aty Guasu – Grande Assembleia Guarani e Kaiowá – vem cobrando as autoridades a demarcação imediata da TI para amenizar os conflitos e ataques contra os indígenas na região.

Histórico de massacre

No ano passado, o indígena Vitorino Sanches, foi alvejado no centro do município de Amambai. No dia 24 de junho, durante o violento e ilegal despejo executado pela PM do Mato Grosso do Sul, o indígena Vitor Fernandes foi assassinado e dezenas de indígenas foram feridos, inclusive crianças e idosos. Os agressores seguem impunes. Os Guarani e Kaiowá denunciam que integrantes das forças de segurança e policiais têm atuado para incriminar as vítimas da violência. “A polícia ataca, o Estado permite, o público e o privado funcionam em uma única direção. Ampliar a monocultura sobre os cemitérios que um dia foram nossas terras”, denuncia a Aty Guasu.

A relação de promiscuidade entre instituições de segurança, pistolagem e fazendeiros criou campanha nacional de extermínio dos povos indígenas, promovida largamente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que discursou inúmeras vezes incitando o agro banditismo e autorizando invasores de Terra Indígenas a propagarem o terror para assegurar os territórios dos quais se apropriaram indevidamente. A Apib exige providências das autoridades, que a integridade dos indígenas seja assegurada e imediata demarcação do território.

APIB pede, no STF, que senador Chico Rodrigues comprove que seguiu as condições da Funai e Sesai para visitar a TI Yanomami

APIB pede, no STF, que senador Chico Rodrigues comprove que seguiu as condições da Funai e Sesai para visitar a TI Yanomami

Foto: Reprodução/CNJ

Portaria conjunta entre Funai e Sesai prevê o cumprimento de requisitos específicos para  ingresso no interior da terra indígena, enquanto perdurar o estado de emergência na saúde do povo Yanomami. Por esse motivo, a APIB por meio de seu departamento jurídico, informou ao Ministro Barroso a necessidade do parlamentar apresentar os comprovantes de esquema vacinal completo e teste de COVID-19 com resultado negativo antes da visita ao território.

Nesta quinta-feira, 02 de março, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) ingressou com uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o senador Chico Rodrigues (PSB-RR) comprove que seguiu as condições estabelecidas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) antes de visitar a Terra Indígena Yanomami, em Roraima, no dia 20 de fevereiro.

Conforme a portaria da Funai e Sesai, publicada no dia 30 de janeiro, a APIB solicita que o senador apresente o comprovante de esquema vacinal completo (incluindo a vacina contra a COVID-19) e um atestado de avaliação médica que certifique a não existência de doença infectocontagiosas. A portaria também pede a apresentação de um termo de compromisso assinado e um teste de COVID-19 com resultado negativo. O teste deve ser realizado em até 24 horas antes da data da visita ao território indígena.

O parlamentar é presidente da Comissão Temporária Externa do Senado, criada para acompanhar a situação do povo Yanomami no Brasil, e esteve na TI sem que houvesse um acordo prévio com o Centro de Operação de Emergências (COE), sem o aval da Funai e da presença de outros membros da comissão. Ao desembarcar na comunidade Surucucu, a liderança Júnior Hekurari Yanomami — chefe do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY) e presidente da Urihi Associação Yanomami — alertou os indígenas que Chico Rodrigues apoia os garimpeiros e pediu que ele se retirasse do local.

Na petição, a APIB manifesta a sua preocupação com o cenário e ressalta que Rodrigues não está apto para presidir a comissão do Senado. Em 2020, ele foi flagrado com dinheiro na cueca, durante operação da Polícia Federal, e teve apreendida, em sua casa, uma pedra suspeita de ser uma pepita de ouro.

Além disso, no dia 27 de fevereiro, a Agência Pública divulgou uma reportagem em que mostra que o senador assinou, junto com Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e “Dr.” Hiran (PP-RR), três senadores pró-garimpo de Roraima, um ofício pedindo perdão criminal para garimpeiros em Roraima. A APIB classifica a decisão de Chico Rodrigues de presidir a comissão como “imoral, incoerente, absurda e tendenciosa”.

“O Senador, ao se deslocar para a Terra Indígena Yanomami sem nenhum plano de trabalho no território indígena, revela sua total incapacidade política e técnica em estar à frente desta comissão, configurando-se como um desserviço aos Povos Indígenas Yanomamis e gerando um mal estar coletivo na sociedade brasileira, a qual assiste perplexa à crise humanitária vivida pelos povos indígenas e ainda testemunha tamanha falta de humanidade e ética por parte desde Senador”, afirma um trecho da petição. O documento faz parte da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 709, protocolada pela organização indígena no STF em 2020.

Nos últimos quatro anos, o garimpo ilegal avançou na Terra Indígena Yanomami e a situação foi denunciada diversas vezes pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, além de organizações de base como a Hutukara Associação Yanomami e Urihi Associação Yanomami, tendo todos os pedidos de ajuda ignorados pelo Governo Bolsonaro.

No dia 30 de janeiro, o STF determinou que a Procuradoria-Geral da República (PGR), o Ministério Público Militar (MPM), o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJ) e a Superintendência Regional da Polícia Federal de Roraima investiguem a participação do Governo Bolsonaro nos crimes de genocídio e omissão de socorro do povo Yanomami, em Roraima. A decisão ocorreu após a APIB pedir ao STF o cumprimento da desintrusão no território Yanomami, que já tinha sido determinada nos autos da ADPF Nº 709, mas não foi cumprida pelo Governo Bolsonaro.

Vale do Javari: Univaja recebe comitiva do Governo Federal e firma compromissos para proteção dos povos indígenas

Vale do Javari: Univaja recebe comitiva do Governo Federal e firma compromissos para proteção dos povos indígenas

Foto: Leo Otero | Ascom MPI

Na visita, o Ministério dos Povos Indígenas e a Univaja assinaram um termo de cooperação para proteção do território indígena do Vale do Javari. A Organização indígena doou uma unidade básica de saúde flutuante para SESAI atender povo Korubo, de recente contato. 

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) recebeu uma comitiva do Governo Federal no Vale do Javari, em Atalaia do Norte, no Amazonas, na última segunda-feira (27/02). O encontro foi proposto pela organização indígena com o objetivo de garantir a proteção dos direitos e territórios indígenas, além da segurança daqueles que atuam na fiscalização da segunda maior terra indígena do Brasil, onde vive o maior número de povos isolados do mundo. 

A comitiva era formada pela ministra dos povos indígenas Sonia Guajajara, Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama, Joenia Wapichana, presidenta da Funai, e pelo secretário especial de saúde indígena, Weibe Tapeba. Além de representantes dos Ministérios de Direitos Humanos e Cidadania, Defesa e Segurança Nacional, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Força Nacional, da Secretaria de Segurança do estado do Amazonas e da Embaixada Britânica.

Na agenda, Funai e a Univaja assinaram um termo de cooperação de proteção do território indígena do Vale do Javari. A ministra Sonia Guajajara também anunciou a criação do Comitê Permanente de Proteção Territorial do Vale do Javari (CPPT), que deve ser composto pelo MPI, Funai, Ministério da Justiça, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Força Nacional, PF, PRF e a própria Univaja. 

A Univaja tem denunciado a insegurança de indígenas e servidores da Funai na região, que estão sendo afetados pelo aumento da pesca ilegal e tráfico de drogas. No dia 23 de fevereiro, um funcionário do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) e um auxiliar foram amarrados e assaltados por piratas no Vale do Javari.

Em junho de 2022, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram assinados no território. “As mortes de Bruno e Dom não foram em vão. Nós precisamos cuidar daqueles que estão aqui. É preciso que existam políticas de apoio social na nossa região, que cuidem das nossas crianças e que apontem alternativas econômicas sustentáveis. É necessário seguirmos lutando por justiça, segurança e bem estar para garantir que todos possam viver em paz na nossa terra”, reforçou o procurador jurídico da Univaja, Eliesio Marubo. 

Durante a agenda, o secretário especial de saúde indígena, Weibe Tapeba, recebeu pela Univaja a doação de uma unidade básica de saúde flutuante (balsa) para que a SESAI possa atender o povo Korubo, de recente contato.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) afirmam que o Estado precisa estar presente e combater o ciclo de violência vivido na região. “A visita do Governo Federal, muito bem articulada pela Univaja, é o primeiro passo. O movimento indígena vai continuar acompanhando e cobrando mais ações”, disse Kleber Karipuna, coordenador executivo da APIB. 

Chico Rodrigues visita TI Yanomami sem autorização e Urihi Associação pede que senador seja impedido de entrar sozinho

Chico Rodrigues visita TI Yanomami sem autorização e Urihi Associação pede que senador seja impedido de entrar sozinho

Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

O senador esteve na Terra Indígena no dia 20 de fevereiro sem autorização da Funai e do COE

Na última sexta-feira (24/02), a Urihi Associação Yanomami pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o senador Chico Rodrigues (PSB-RR) seja impedido de entrar sozinho na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. O senador esteve na TI no dia 20 de fevereiro sem que houvesse um acordo prévio com o Centro de Operação de Emergências (COE) e sem o aval da Funai, algo previsto pela situação de emergência declarada pelo governo federal.

Defensor do garimpo, Rodrigues é presidente da Comissão Temporária Externa para apurar a crise sanitária na Terra Indígena Yanomami no Senado, porém, a visita ao território ocorreu sem a presença de outros membros da comissão. 

O senador esteve no posto de saúde na comunidade Surucucu e a liderança Júnior Hekurari Yanomami — chefe do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY) e presidente da Urihi Associação Yanomami — alertou os indígenas que Chico Rodrigues apoia os garimpeiros e pediu que ele se retirasse do local. 

Para o jornal Folha de São Paulo, a Funai afirmou que o Ministério dos Povos Indígenas já foi comunicado das irregularidades da visita e o Ministério Público Federal cobrou explicações.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) repudia a visita do senador a TI e classifica como “imoral, incoerente e tendenciosa” a escolha de Chico Rodrigues como presidente da comissão no Senado.

Apib realiza planejamento estratégico para organizar próximos passos da luta indígena

Apib realiza planejamento estratégico para organizar próximos passos da luta indígena

Foto: Apib

Mais de 50 lideranças de todas as regiões do país, que representam as sete organizações regionais de base da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e compõem o Fórum de Lideranças, estiveram reunidas de 23 a 26 de fevereiro, na Terra Indígena Renascer Ywyty Guaçu, em São Paulo.

Foram quatro dias de atividades de planejamento estratégico das ações futuras, olhando o presente e aprendendo com a resistência ancestral dos antepassados. Os desafios do movimento indígena pela garantia de direitos seguem vivos, por isso é necessário estar organizados.

A Apib recebeu, durante a programação, a ministra dos povos indígenas Sônia Guajajara, a presidente da Funai, Joenia Wapichana, o secretário especial de Saúde Indígena, Weibe Tapeba e a deputada federal, Célia Xakriabá.

As lideranças, que compõem a Articulação, dialogaram com as autoridades indígenas que estão compondo espaços estratégicos para a política indígena no Governo Federal e na Câmara dos Deputados.

Foto: Apib

A Apib é composta pela Arpinsudeste, articulação dos povos indígenas que vivem nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro; pelo Conselho do Povo Terena; pela Apoinme, que reúne os povos indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo; pela ArpinSul, Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul, uma organização que desde 2006 tem como o intuito desenvolver meios para articular o movimento indígena da região Sul e busca unir os povos indígenas Kaingang, Xokleng, Xetá e descendentes de Charrua, com o intuito de acumular forças políticas para se contrapor a avalanche de ameaças e agressões dos setores anti indigenistas.

Compõe também a Apib, a CGY, Comissão Guarani Yvyrupa, organização indígena que desde 2006 congrega coletivos do povo guarani das regiões Sul e Sudeste do Brasil na luta pelo território; a Aty Guasu, Grande Assembleia do Povo Kaiowá e Guarani, organização mais antiga do movimento indígena, tendo iniciado sua atuação durante os anos 70, no estado do Mato Grosso do Sul, uma importante força de articulação dos povos Guarani e Kaiowá na recuperação e defesa de suas tradicionais terras indígenas (tekoha). Já na Amazônia, nossa representação é da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB).

“Imoral, incoerente, absurda e tendenciosa”, afirma APIB sobre presidência da comissão externa criada para acompanhar a situação na TI Yanomami

“Imoral, incoerente, absurda e tendenciosa”, afirma APIB sobre presidência da comissão externa criada para acompanhar a situação na TI Yanomami

Vaga é ocupada pelo senador Chico Rodrigues (PSB-RR) que classificou povo Yanomami como “primitivo”

A coordenação executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) classificou como incoerente, imoral e tendenciosa a escolha do senador Chico Rodrigues (PSB-RR) como presidente da Comissão Temporária externa criada para acompanhar a situação na TI Yanomami. Declaradamente favorável ao garimpo, o parlamentar foi flagrado com dinheiro na cueca, em 2020, durante operação da Polícia Federal, e teve apreendida, em sua casa uma pedra que suspeitava ser uma pepita de ouro. Ele foi indiciado, em agosto de 2021, por participação em suposto esquema de desvio de dinheiro de combate à pandemia em Roraima.

“Quando o Senado valida alguém que se declara favorável à legalização do garimpo em terras indígenas para a comissão que vai identificar os responsáveis pelo incentivo a essa atividade dentro da TI Yanomami, cuja tragédia humanitária está exposta e evidente ao mundo todo, é um escárnio e falta de respeito para com os povos indígenas”, afirma Kleber Karipuna, coordenador executivo da Apib. 

Karipuna afirmou ainda ser absurda e indecorosa a declaração do senador que classificou os Yanomami como ‘primitivos’, durante entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews, nesta quinta-feira, 16.02.23. “Está caracterizado o racismo étnico-racial, o que fere o princípio democráticos de defesa dos direitos humanos”, disse ao informar que a Apib está tomando as providências cabíveis. 

Rodrigues chegou a ser vice-líder do ex-presidente Jair Bolsonaro no Senado em 2020. Antes de ser eleito senador em 2018, foi secretário estadual de Agricultura, vereador por Boa Vista e deputado federal por cinco mandatos consecutivos. Em 2010, foi eleito vice-governador de Roraima. Em abril de 2014, chegou a assumir o governo do estado, após o pedido de afastamento do governador Anchieta. 

Conforme revelou uma matéria do site Repórter Brasil, em março de 2021, um avião que pertencia ao senador circulou em garimpo ilegal na Terra Yanomami no ano de 2018. 

À época, ele alegou já ter transferido a posse do avião, sem, no entanto, ter documentos que comprovassem a informação à reportagem.   

Além de Rodrigues, fazem parte do grupo instalado ontem a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), como vice-presidente e o senador Dr. Hiran (PP-RR) como relator.  

Foto: Agência Senado

Jerônimo Rodrigues, governador da Bahia, negou ajuda da Força Nacional na proteção do Povo Pataxó

Jerônimo Rodrigues, governador da Bahia, negou ajuda da Força Nacional na proteção do Povo Pataxó

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo exigem uma explicação.

O Povo Pataxó é alvo de uma escalada de violência desde junho do ano passado, quando os indígenas iniciaram o processo de autodemarcação nas Terras Indígenas (TI) de Barra Velha e Comexatibá, no extremo sul baiano. Desde então, três jovens foram assassinados e as ameaças, ataques, cercos às comunidades por parte de uma milícia armada comandada por fazendeiros invasores dos territórios não cessaram. O governador do estado, Jerônimo Rodrigues, rejeitou o apoio da Força Nacional de Segurança, que deveria realizar uma operação para proteger a vida dos indígenas.

Em setembro de 2022, após o assassinato do menino Gustavo Silva da Conceição – morto com um tiro nas costas, enquanto tentava fugir dos pistoleiros que atacaram a retomada Vale rio Cahy – uma Força-Tarefa composta por policiais militares, civis e bombeiros começou a atuar na região sob comando da Secretaria de Segurança Pública do governo do estado da Bahia. No entanto, os moradores das comunidades denunciam a pouca disposição dos enviados para cumprir sua função de conter a violência, garantir a segurança e a proteção do povo Pataxó.

“Tive que sair da minha casa por medo, porque eles passam aqui, revistam as pessoas, as casas, param as motos, deixa todo mundo assustado. Não sabemos o que eles estão fazendo. Fiquei com medo de me pegarem, levar pro mato e fazer alguma coisa ruim”, conta em sigilo de identidade um dos moradores de um distrito vizinho a TI Barra Velha.

Mesmo com a presença da Força-Tarefa, outros dois jovens morreram em 17 janeiro. Samuel Cristiano do Amor Divino, de 25 anos, e o adolescente Nauí Brito de Jesus, de 16 anos, foram perseguidos e executados quando saíram para comprar alimentos no distrito de Montinho, na margem oposta da BR-101, que delimita o território indígena.

Ambos foram mortos na estrada, onze dias depois de iniciada a retomada das fazendas Condessa e Veneza, localizadas dentro dos limites da TI Barra Velha. “Eles mataram os parentes covardemente aqui dentro do próprio território”, indigna-se uma liderança Pataxó.

Força-tarefa defende fazendeiros

Os indígenas têm reforçado que a atuação da milícia ocorre com a conivência e a participação de parte da Polícia Militar da Bahia. Tanto o assassinato de Gustavo como de Samuel e Nauí resultaram na prisão de policiais militares, suspeitos de atuarem como pistoleiros a mando de fazendeiros. Três PMs foram presos, em outubro, e outro foi preso em janeiro, acusado de assassinar os outros dois jovens.

A Força-Tarefa não dialoga com os indígenas. “Eles chegaram dizendo que vieram para apaziguar o conflito. Mas antes de sentar com os indígenas para saber o que estava acontecendo, eles foram primeiro sentar com os fazendeiros”, relata uma liderança.

Declarações recentes de integrantes do governo estadual mostram que não há clareza na atuação do grupo. O secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Felipe Freitas, afirmou, no final de janeiro, que “no extremo sul [da Bahia] não existe demarcação, há um litígio, uma disputa”.

Somente após muita cobrança e pressão começaram os insuficientes diálogos com a comunidade Pataxó. “Eles passam na porta das ocupações indígena, das áreas de autodemarcação, mas não entram nas fazendas para prender os pistoleiros que estão atirando todas as noites no indígena”, denuncia outa liderança.

“Hoje, quem anda matando nosso povo na nossa região, fazendo pistolagem, é uma parte da Polícia Militar do estado da Bahia. Por isso, nós queremos a presença da Polícia Federal dentro da área indígena. É dever da Polícia Federal intervir, tomando pé dessas investigações referente à morte de Samuel e Nauí”, reivindica.

Pedidos em Brasília

Os indígenas foram até o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), em Brasília, no dia 7 de fevereiro, para entregar uma carta pedindo novas providências. O Secretário Nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, prometeu levar ao ministro do MJSP, Flávio Dino, os pedidos de federalizar a investigação dos crimes na região. “É muito importante essa escuta e vou levar todas essas reivindicações ao ministro da Justiça para que essas deliberações possam ser feitas”, garantiu Botelho.

O povo também cobrou, novamente, a presença da Força Nacional nos territórios Pataxó. “Deixamos bem encaminhado [com o secretário do ministério da Justiça] o pedido e eles ficaram de solicitar ao governador essa ida da Força Nacional para região. A secretaria do ministério da justiça se comprometeu também em reunir com o governador e convocar os representantes dos movimentos indígenas para levar essa pauta da Força Nacional em nossa região”.

Um Gabinete de Crise foi criado pelo Ministério dos Povos indígenas, no dia 18 de janeiro, para acompanhar a situação dos conflitos na região. A ministra Sônia Guajajara, representantes da Funai, das secretarias executiva e de direitos territoriais indígenas, do departamento de mediação e conciliação de conflitos indígenas compõe essa equipe. Outros membros convidados são os representantes do Ministério da Justiça e Segurança Pública, do Governo do Estado da Bahia, da Defensoria Pública da União (DPU), do MPF, do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Os Pataxó aguardam ansiosamente a presença da ministra Sônia Guajajara com a delegação do Comitê de Crise na região.

Morosidade do Estado e autodemarcação

Mapa dos territórios, produzido pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

 

“Nós não estamos mais aguentando a morosidade, a demora da conclusão dos processos fundiários nas terras indígenas Pataxó. Com essa morosidade está vindo a prostituição, a droga, a urbanização, a degradação ambiental, a contaminação e a descaracterização do que é terra indígena pela construção imobiliária”, explica um dos caciques.

O acirramento dos conflitos é motivado pela pressão de fazendeiros e pela especulação de empresários do turismo. Por exemplo, no entorno da cobiçada Caraíva, vila de pescadores tomada pelo turismo, se estabeleceu um bairro inteiro de invasores chamado Xandó. Há fortes interesses imobiliários sobre a venda dos lotes que ficam dentro da terra indígena.

“Esse território é nosso”. A fala se refere aos 52,7 mil hectares relativos à área de revisão de limites da TI Barra Velha e aos 28 mil hectares da TI Comexatibá. A autodemarcação desses dois territórios foi a saída encontrada pelo povo para efetivar o direito de viver e habitar suas terras. “Se a gente não fizer a nossa autodemarcação, governo nenhum vai fazer. Porque eles acham que se a gente não entrar para dentro da terra, ela não nos pertence”.

Os conflitos têm tirado a liberdade do povo para circular no próprio território e nas cidades da região. “A gente está oprimido sem poder sair, sem ir na cidade” explica o indígena. “Porque hoje a visão [dos fazendeiros] não é só matar liderança, a visão hoje é matar qualquer indígena que sair do nosso território”.

A brutalidade dos ataques, ameaças e assassinatos promovidos contra o povo Pataxó se agrava à medida que a comunidade avança sobre as áreas invadidas por fazendeiros. As marcas deixadas nas casas e escolas indígenas denotam o alto grau de violência investido contra o povo. “Eles atiram para acertar. Nós temos provas, pegamos as cápsulas de fuzil. Nós estávamos em cinco pessoas lá e eles deram mais de cem tiros na casa. Só não pegou porque corremos”, conta uma das lideranças.

Vitória jurídica

Em 2019 os Pataxó tiveram uma vitória no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e desde então não há nenhum impedimento jurídico para a emissão da portaria declaratória da TI Barra Velha pelo Ministério da Justiça. Uma pequena parte desta TI já foi identificada e demarcada. A TI Comexatibá foi identificada em 2015 e aguarda respostas da Funai às contestações de fazendeiros.

A TI Barra Velha foi reservada com uma área pequena, na década de 1980. A maior parte do território está fora da demarcação. “Esses 8.627 hectares, onde eu moro, que é a área demarcada e homologada, ela é pequenininha. E tem uma parte dela, na orla, que está sendo invadida por grileiros, com venda de terras e [especulação] imobiliária dentro do nosso território”.

Durante o governo Bolsonaro uma normativa publicada pela Funai (IN 09/2020) autorizou a certificação de fazendas aos invasores de terras indígenas não homologadas. É o caso das áreas de retomada que estão no centro dos atuais conflitos.

Meses após essa normativa, 51 fazendas, com um total de 11,4 mil hectares, foram certificadas sobre as TIs Barra Velha do Monte Pascoal e Comexatibá, a maioria delas integralmente sobrepostas às terras indígenas. Em abril de 2020 foram mais 10 certificações sobre a TI Comexatibá e 41 sobre Barra Velha.

Com ações do Ministério Público Federal (MPF), a validade da normativa foi suspensa em 13 estados, inclusive na Bahia, no entanto as certificações já concedidas não perderam a validade.

Com esse documento, os invasores podem negociar e buscar financiamento de atividades econômicas nas áreas, o que intensificou ainda mais a pressão e a devastação sobre o território. O movimento de autodemarcação iniciado pelos Pataxó é uma resposta à omissão do Estado, às investidas do bolsonarismo e uma forma de evitar a degradação ainda maior do território pelo agronegócio e por empreendimentos privados.

Confira a carta na íntegra:

Extremo Sul da Bahia, janeiro de 2023.

Ao Ministério dos Povos Indígenas,
Ministério da Justiça e
Fundação Nacional dos Povos Indígenas:
Nós, povo Pataxó do Extremo Sul da Bahia, solicitamos urgentemente ao Gabinete de Crise uma visita aos territórios Pataxó de Barra Velha do Monte Pascoal e Comexatibá para reunião presencial com nossas lideranças, para tratar da crescente escalada de violência praticada contra o povo Pataxó por seus inimigos históricos, que têm se articulado contra a demarcação dos nossos territórios, as Terras Indígenas Barra Velha do Monte Pascoal e Comexatibá.
Nos últimos meses, quatro jovens Pataxó já foram assassinados devido à luta pela demarcação territorial. Sofremos, constantemente, ameaças e invasões de nossas aldeias por grupos armados de pistoleiros milicianos contratados por fazendeiros da região.
Precisamos de medidas urgentes que garantam a proteção de nossas comunidades e a demarcação de nossas terras. Só a demarcação é capaz de resolver os conflitos de forma permanente.
O povo Pataxó pede socorro!

 

*Com informações do Cimi. **Os nomes das lideranças foram preservados por motivos de segurança.