09/abr/2025
Em homenagem aos 20 anos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, a embaixada da Noruega e a Apib, realizaram um jantar, na noite desta terça-feira, 08/04. A embaixada foi a primeira parceria institucional na articulação do movimento nacional indígena.
Além da coordenação executiva da Apib e regionais, participaram a ministra dos povos indígenas, Sonia Guajajara, a deputada Célia Xakriabá, o embaixador Odd Magne Ruud e Marianne Karlsen, negociadora chefe da Noruega para a COP30.
O coordenador executivo da Apib, Alberto Terena, apresentou nossas expectativas para os próximos anos. “Esperamos que os demais países sigam este exemplo de confiança na capacidade das organizações indígenas como protagonistas na proteção de seus povos e na defesa dos nossos territórios e biomas, sendo atores centrais no debate contra as mudanças climáticas”.
Marianne Karlsen, reforçou o compromisso com os povos indígenas afirmando a construção, na COP 30, de um espaço que realmente importe para o clima e para as pessoas, concebendo uma plataforma necessária para a vida e para o combate ao aquecimento global.
Já a ministra Sonia Guajajara, afirmou que seu papel é “trazer todas as vozes coletivas dos povos indígenas do Brasil” e alertou que estamos prestes a realizar a COP do Brasil, mas ainda “não estamos conseguindo acordos suficientes para evitar o aumento da temperatura global. A gente continua dizendo que nós temos a solução, apresentamos a demarcação de terras indígenas como uma das soluções, a melhor solução para isso”, garantiu.
09/abr/2025
Foto: Agência Câmara de Notícias
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), por meio de seu departamento jurídico, irá protocolar no Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) com o objetivo de exigir do Estado brasileiro a proibição da pulverização aérea de agrotóxicos em território nacional.
A ação aponta que a ausência de uma regulamentação eficaz sobre a pulverização aérea configura omissão inconstitucional do Estado, violando direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal, como o direito à saúde, ao meio ambiente equilibrado e à vida digna.
Segundo estudos citados na petição, o Brasil lidera o ranking mundial no uso de agrotóxicos por hectare plantado, com evidências robustas dos danos causados pela exposição a essas substâncias, especialmente através da pulverização aérea, que alcança até 32 km além da área de aplicação. Entre as consequências estão o aumento da mortalidade infantil, a contaminação de fontes de água e alimentos e danos irreversíveis à biodiversidade.
A APIB denuncia que a pulverização aérea de agrotóxicos afeta desproporcionalmente populações vulneráveis – sobretudo indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, agricultores familiares, mulheres e crianças – configurando um caso de discriminação indireta. Em muitos casos, como apontado na ADO, o uso de agrotóxicos chega a ser empregado como instrumento de conflito territorial e de violência ambiental contra os povos originários.
“Esta ação representa um marco na luta pela saúde e pela vida no Brasil. Estamos falando de um modelo agrícola tóxico que adoece nosso povo, contamina nossa água, destrói nossas florestas e empurra comunidades inteiras para o adoecimento e a morte. É hora do STF se posicionar diante dessa omissão estrutural”, afirma Maurício Terena, coordenador jurídico da APIB.
A iniciativa da APIB é pioneira: uma ação constitucional liderada pela advocacia indígena com potencial de impacto nacional. Ela busca não apenas proteger os povos indígenas, mas garantir um futuro mais saudável para toda a população brasileira, enfrentando o uso indiscriminado de substâncias comprovadamente perigosas e já proibidas em diversos países.
09/abr/2025
Foto: Yasmin Velloso/Mídia NINJA
O ato faz parte da programação do Acampamento Terra Livre 2025, em Brasília
Nesta quarta-feira, 9, às 19h, o Coletivo Tybyra realizará, pelo segundo ano consecutivo, um manifesto em defesa da comunidade indígena LGBTQIA+. A ação faz parte da 21ª edição do Acampamento Terra Livre, que acontece em Brasília desde segunda-feira, 7.
Fundado em maio de 2019, o Coletivo Tybyra é referência nacional na defesa dos direitos das pessoas indígenas LGBTQIA+. Durante o manifesto, os representantes do movimento prestarão uma homenagem às pessoas indígenas LGBTQIA+ que já faleceram. Entre os homenageados estão o indígena Tybyra Tupinambá, assassinado em 1614, no estado do Maranhão, cuja memória faz referência ao nome do movimento. Também serão homenageados (a) nomes como o de Brenda Kogue, da etnia Bororo, Ana Karoline, da etnia Kariri, Jorge, da etnia Dessano, e Raquel Pitaguary, da etnia Pitaguary, entre outros indígenas LGBT+ vítimas de violência.
“Neste ano, organizamos um ato que vai além da homenagem. Será também uma forma de denúncia. Vamos relembrar as pessoas indígenas LGBTQIA+ que foram assassinadas e suicidadas nos últimos anos”, afirma Danilo Tupinikim, cofundador do Coletivo Tybyra.
Para Danilo Tupinikim, o ato tem um significado que vai além da visibilidade dentro do movimento indígena. “É um momento de denúncia contra os crimes de ódio, assassinatos e suicídios de indígenas LGBTQIA+ nos últimos anos. Precisamos mostrar que estamos aqui e que nossa pauta existe”, diz.
04/abr/2025
“Krenak não era um povo, mas uma cadeia. Até hoje o povo Krenak tem seu nome vinculado a um aspecto negativo, embora seja um nome sagrado (kren: cabeça; nak: terra)”, lembra Douglas Krenak. O depoimento consta no processo do Ministério Público Federal contra o Estado, aberto em 2015. Há anos o povo indígena Krenak cobra justiça pelas violações de direitos, torturas, trabalho forçado e maus tratos da ditadura, entre 1957 e 1980. O julgamento finalmente foi marcado para a próxima semana, dia 8 de abril de 2025.
O processo relata que os governos militares se caracterizaram pelo desrespeito às instituições indígenas, pela sistemática expulsão dos indígenas de suas terras, e pela vulnerabilização, destruição biológica e cultural de comunidades.
Uma das ferramentas do etnocídio e genocídio criadas pela ditadura foi o Reformatório Agrícola Indígena Krenak, mais conhecido como Presídio Krenak, para onde eram sequestrados indígenas de vários povos. “Ninguém podia falar a língua indígena; só podia falar a língua “do branco”; se falasse língua indígena, apanhava e ficava preso. […] Não podia beber, não podia ir em festa”, relembra Dejanira Krenak. O presídio dentro do território transformou a vida de todo o povo Krenak, que passava os dias em constante vigilância, sendo submetidos a torturas de acordo com a vontade dos militares.
O Presídio Krenak foi criado em 1969, dentro da Terra Indígena Krenak, na área do Posto Indígena Guido Marlière, na margem esquerda do Rio Doce, entre os municípios de Resplendor e Conselheiro Pena, no estado de Minas Gerais. Povos de todo o país foram aprisionados. Porém, no dia 15 de dezembro de 1972, todos os Krenak e todos os confinados no presídio foram forçados a se deslocarem para a Fazenda Guarani, no município de Carmésia (MG), outro centro de detenção arbitrária. O episódio é chamado pelo povo de Exílio.
As terras do povo Krenak foram demarcadas em 1920, pelo Estado de Minas Gerais. Com o tempo, fazendeiros foram cercando a terras indígena, tanto por meio de arrendamentos incentivados pelo SPI (Serviço de Proteção aos Índios), como por meio de invasões. O aumento de não-indígenas foi acompanhado por conflitos com os fazendeiros que pressionavam pela retirada do povo de sua própria terra.
Os Krenak ganharam na justiça, através da Funai, o direito de reintegração de posse na área do PIGM contra os posseiros da região, em 1970. Contudo, os fazendeiros invasores se mobilizaram e enviaram até telegramas ao presidente Médici. O governo militar atendeu prontamente aos pedidos dos invasores. O povo Krenak foi conduzido para a Fazenda Guarani, que havia sido doada pela PM de Minas à Funai, com o objetivo de que a Fundação repassasse a área do Posto Indígena no município de Resplendor para o governo estadual para que esse, por sua vez, as doasse para os fazendeiros.
No município de Carmésia, o povo Krenak foi obrigado a conviver com etnias rivais, poucas terras férteis, clima frio a que não estavam habituados, a falta do cipó, que era matéria prima para a artesanato, e a ausência do Rio Doce, que era o centro de suas atividades culturais. Eles passaram fome, sobrevivendo à custa de banana verde cozida ou assada com angu e farinha.
Oito anos após a remoção, os Krenak decidiram fugir da Fazenda e começaram a retornar às suas terras, a despeito do grande temor de serem recebido com violência pelos fazendeiros e pelos agentes do Estado.
Assim, cerca de 25 indígenas Krenak retomaram suas terras, mas encontraram um intenso processo de devastação, impossibilitando a caça e a coleta, as terras tomadas por fazendeiros com títulos emitidos pelo governo de Minas Gerais. Eles ficaram reclusos a uma pequena faixa na beira do Rio Doce.
Somente em 10 de março de 1983 a Funai ajuizou uma ação sobrea nulidade dos títulos dos imóveis locais. Em 1993, o STF julgou procedente a ação, declarando nulos os documentos dos fazendeiros. Estes, por sua vez, defenderam a posse afirmando que a “etnia” Krenak estava praticamente extinta.
Vinte cinco anos após o Exílio, em 1997, os Krenak conseguiram retomar uma pequena parte de seu território e, em 2001, por meio de Decreto de 19 de abril, foi homologada a demarcação da Terra Indígena do Povo Krenak.
Finalmente, a Comissão Nacional da Verdade, reconheceu a ocorrência da sistemática e brutal violação de direitos pelo regime militar. Agora, a ação do MPF procura o reconhecimento pelo Estado Brasileiro, através de um pedido público de desculpas e a reparação econômica coletiva, por tal desagregação social e cultural que colocou em risco a própria existência dos Krenak enquanto povo.
*Com informações do processo do Ministério Público Federal
02/abr/2025
O Ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, determinou, no dia 11/03, que os povos indígenas afetados pela Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, tenham participação nos lucros da usina.
Os lucros não serão repassados diretamente, mas chegarão às comunidades através de políticas públicas como: o incremento especial do Bolsa-Família no território afetado; projetos de produção sustentáveis que gerem benefícios diretos para a coletividade; melhoria da infraestrutura educacional e sanitária nos territórios indígenas; segurança dos territórios, e projetos de reflorestamento em terras indígenas. E uma parte dos recursos, de valor não definido, será destinada a um Fundo Nacional para demarcações.
Os povos das terras indígenas Paquiçamba, Arara da Volta Grande do Xingu e Trincheira Bacajá denunciam a diminuição da vazão do Rio Xingú; o prejuízo à pesca e à navegabilidade; diminuição da caça; a mortandade de peixes; a poluição e a impossibilidade de consumo da água.
Porém, a decisão surpreendeu o movimento indígena, ao exigir que o Congresso Nacional regulamente os artigos da Constituição Federal sobre a realização de empreendimentos hidrelétricos e minerais em terras indígenas no prazo de vinte e quatro meses.
O departamento jurídico da Apib avalia que a determinação do Ministro, embora aparente ser um benefício para os povos indígenas, não garante que os recursos financeiros dos empreendimentos, como é o caso de Belo Monte, cheguem direto até as comunidades, associações ou organizações indígenas. Ou seja, sua aplicação ficará à mercê de cada governo eleito.
A decisão é preocupante porque se amplia a novos empreendimentos e abre precedentes para o lobby de mineradoras e hidrelétricas. Ela inicia um debate sem propor que o tema seja amplamente discutido e consultado às comunidades, desconsiderando o entendimento próprio dos povos sobre o recebimento de compensação financeira oriunda da destruição/exploração dos seus territórios.
O ministro determina que o Congresso Nacional, hoje dominado pelo agrobanditismo, regulamente os artigos da Constituição Federal no tema da pesquisa e lavra de recursos minerais, recursos hídricos e potenciais energéticos. Não há ressalvas em relação aos territórios de povos indígenas isolados e de recente contato, o que os coloca seriamente em risco.
Essa determinação fragiliza a concepção de usufruto exclusivo, sem considerar qual será o impacto sobre tal instituto, com a ordem para permitir pesquisa de lavra mineral, bem como dos recursos hídricos, em terras indígenas. Esse apontamento mantém a discussão sobre “relevante interesse da União” nas mãos do Ministro Gilmar Mendes na ADO 86, o qual é amplamente desfavorável aos direitos constitucionais dos povos indígenas.
Assim, Dino parece ignorar os entendimentos sobre memória, verdade e reparação, tendo em vista que a construção de hidrelétricas ocorreu, principalmente, durante a ditadura cívico-militar brasileira, de forma a ser necessária, também, a discussão sobre indenização e não somente sobre recebimento de royalties (o que, inclusive, é o que determina a Convenção 169 da OIT).
A decisão aparenta ser benéfica, mas estamos diante da possibilidade de fragilização de diversos direitos fundamentais dos povos indígenas a partir da maior oferta de exploração econômica dos territórios, como a vida e segurança pública (aumento da violência, incremento do garimpo ilegal), saúde (contaminação de rios e perda da caça), usufruto exclusivo do território (pelos impactos gerais e o trânsito de não indígenas no território), dentre diversos outros salvaguardados na Constituição Federal.
A Apib segue comprometida com a mobilização contínua frente a tantas tentativas de fragilizar nossos direitos fundamentais previstos na constituição. Compreendemos que somente a atuação jurídica é insuficiente para barrar o lobby predatório e destrutivo de mineradoras com interesses nos territórios tradicionais.
01/abr/2025
Foto: @webertdacruz
O Acampamento Terra Livre ocorrerá entre os dias 7 e 11 de abril, em Brasília (DF)
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) divulgou, na última sexta-feira, 28 de março, a programação do 21º Acampamento Terra Livre, que ocorrerá entre os dias 7 e 11 de abril, na Funarte, em Brasília (DF). A mobilização está estruturada em cinco eixos: “Apib Somos Todos Nós”, “Resistência e Conquista”, “Desconstitucionalização de Direitos”, “Fortalecendo a Democracia” e “Em Defesa do Futuro – A Resposta Somos Nós”.
Em 2025, o ATL tem como tema “APIB Somos Todos Nós: Em Defesa da Constituição e da Vida” e destaca o empenho dos povos indígenas na garantia dos seus direitos previstos na Constituição Federal, além de celebrar a união e a resistência da Apib, que completa 20 anos de luta e conquistas.
Entre os temas debatidos na plenária principal do ATL estão os conflitos em territórios indígenas, a criação da Comissão Nacional da Verdade Indígena, a Câmara de Conciliação do Supremo Tribunal Federal (STF), a transição energética justa e a resistência LGBTQIA+.
Nos dias 8 e 10 de abril, os povos indígenas marcharão pelas ruas da capital federal nos atos “Apib Somos Todos Nós: Nosso Futuro Não Está à Venda” e “A Resposta Somos Nós”. Além disso, serão lançados um documentário sobre os 20 anos da Apib e a Comissão Internacional Indígena para a COP30. Confira a programação no site do ATL 2025.
O Acampamento Terra Livre é organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e suas sete organizações regionais de base: Apoinme, ArpinSudeste, ArpinSul, Aty Guasu, Conselho Terena, Coaib e Comissão Guarani Yvyrupa. Segundo a Apib, são esperados entre 6 e 8 mil indígenas de mais de 200 povos para a mobilização.
A organização informa que jornalistas e comunicadores indígenas que desejam cobrir o ATL 2025 devem realizar um credenciamento preenchendo o formulário. Em seguida, é necessário comparecer à tenda da Comunicação no acampamento para finalizar o cadastro.
Credenciamento de Imprensa: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScOyeSqY3g4uOK8hapyNE87Oh3GvDnHbMK2lX8VixfDJMyplQ/viewform
Credenciamento para Cobertura Colaborativa: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSeWHysiLTJXD23mKFNmga_3L8HfSeKGADECENW5qFhFipMIqQ/viewform?fbclid=PAZXh0bgNhZW0CMTEAAaZfz5EImmUVP9ZLam9lDtTTVTEH8Kl8tKB58p_A3IBdNz5eJIzEvXENIXk_aem_FyL-Q8IRL-1SUAct5M3UbQ
11/mar/2025
Na noite que antecedeu a Audiência Pública para debater os direitos territoriais dos povos Pataxó e Tupinambá, no Ministério Público Federal, pistoleiros assassinaram o jovem Vitor Braz, da Terra Indígena Barra Velha de Monte Pascoal, no município de Porto Seguro, no extremo sul baiano.
Outros dois indígenas estão desaparecidos e um carro foi incendiado. O conselho de caciques do Povo Pataxó emitiu uma nota na manhã desta terça-feira, 11.
Apesar das denúncias, durante a audiência pública, o ataque continuou com o incêndio da casa de um cacique, na Terra Indígena Comexatibá, vizinha à Barra Velha.
De acordo com a Funai, os territórios em debate nesta manhã, Terra Indígena Barra Velha de Monte Pascoal, do Povo Pataxó, TI Tupinambá de Olivença e TI Tupinambá de Belmonte estão com os Relatórios Circunstanciados de Identificação e Delimitação (RCID) prontos, ou seja, em estágio avançado para a demarcação.
Porém, a região é marcada pela presença do agrobandistimo, organizado através do movimento neofascista invasão zero, que assassinou a Pajé Nega Pataxó, em janeiro de 2024.
As vidas dos povos indígenas que resistem desde o início da colonização estão em risco! A solução para toda essa violência é a demarcação e proteção das Terras Indígenas Pataxó e Tupinambá.
Confira a nota do conselho de caciques:
Conselho de Caciques Pataxó TI Barra Velha de Monte Pascoal (CONPACA)
TI Barra Velha de Monte Pascoal, 11 de Março de 2025.
NOTA DE REPÚDIO – NEM UMA GOTA DE SANGUE A MAIS
O Conselho de Caciques Pataxó (CONPACA) vem, por meio desta, manifestar seu mais profundo repúdio e indignação diante de mais um ato de violência brutal contra nosso povo no Território Indígena Barra Velha de Monte Pascoal.
No amanhecer deste dia, que marca a realização da audiência pública sobre a demarcação de nosso território em Brasília, a terra amanheceu manchada pelo sangue de mais um de nossos jovens. Vitor Braz foi cruelmente assassinado por pistoleiros em um ataque orquestrado por fazendeiros, e outros dois adolescentes seguem desaparecidos.
Essa nova tragédia se soma a um histórico de violações, ameaças e ataques sistemáticos contra o povo Pataxó, que luta incansavelmente pela defesa de seu território e de seu direito à vida. Não aceitaremos que nossas terras sejam tomadas e que nossas vidas sejam ceifadas impunemente. Não entregaremos nosso território a invasores que, com suas mãos manchadas de sangue, tentam nos exterminar.
Exigimos providências imediatas das autoridades competentes! Exigimos justiça para Vitor Braz e a localização urgente dos adolescentes desaparecidos! Não permitiremos que mais uma gota de sangue indígena seja derramada sem resposta.
Conselho de Caciques Pataxó TI Barra Velha de Monte Pascoal
26/fev/2025
Foto: @richard_wera_mirim
A declaração ocorre após um pedido da APIB, que tem alertado para os perigos que a proposta representa para os povos indígenas
Em nota publicada na terça-feira, 25 de fevereiro, três relatores especiais da ONU – sobre o Direito Humano a um Meio Ambiente Limpo, Saudável e Sustentável, sobre Mudanças Climáticas e sobre Tóxicos e Direitos Humanos – manifestaram preocupação com os retrocessos discutidos na câmara de conciliação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a Lei do Genocídio Indígena (Lei 14.701/2023). Eles pediram a suspensão da proposta apresentada em 14 de fevereiro pelo ministro Gilmar Mendes, que preside a comissão, e que libera a mineração em terras indígenas.
“Expressamos nossa profunda preocupação com a proposta apresentada pela Comissão Especial de Conciliação do STF, que contradiz diretamente a Constituição do Brasil, as decisões do próprio Supremo Tribunal Federal e o direito internacional dos direitos humanos. Em julho de 2024, os Procedimentos Especiais da ONU já haviam expressado preocupação com relação à Lei 14.701/2023, pedindo às autoridades brasileiras que respeitassem os direitos dos povos indígenas, de acordo com a legislação internacional existente”, diz o comunicado. Leia a íntegra da declaração: https://x.com/SREnvironment/status/1894512155791081860.
A declaração dos relatores ocorre após um pedido da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), organização de referência do movimento indígena, que tem alertado para os perigos que a proposta da câmara de conciliação representa para os povos indígenas. Para a APIB, o espaço tem sido usado para negociar direitos fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988.
“O que está em jogo na câmara de negociação é a reescrita do ‘Capítulo dos Índios’ da Carta Magna, o que enfraquece direitos conquistados com muita luta pelos povos indígenas. Essa proposta claramente atende a interesses privados, e não ao interesse público. A liberação da mineração em TIs é resultado de manobras do Centrão e do lobby do setor mineral”, diz Kleber Karipuna, coordenador executivo da Articulação.
Segundo reportagem da InfoAmazonia, o artigo que permite a liberação da atividade em territórios indígenas foi sugerido por Luís Inácio Lucena Adams, advogado da mineradora Potássio do Brasil, que possui aprovação estadual para instalar uma mina em um território do povo Mura, localizado no município de Autazes, no Amazonas. Caso o texto seja aprovado, a Potássio pode ser beneficiada, visto que o minério é classificado pelo Governo Federal como “essencial para a segurança econômica” do país.
Outras ameaças
O texto, composto por 94 artigos, reúne sugestões de órgãos governamentais, entidades da sociedade civil e partidos políticos que integram a câmara do STF. A APIB, em conjunto com suas organizações regionais de base, deixou a mesa no ano passado após a câmara não atender às condições de participação dos indígenas, além de ignorar os pedidos do movimento nas ações que discutem a lei no STF, como a suspensão da Lei do Genocídio.
Além da exploração de minerais em territórios indígenas, a APIB aponta mais nove ameaças aos povos indígenas previstas no texto da câmara, sendo elas: regulamentação do “Relevante Interesse Público da União” em Terras Indígenas; fragilização da Consulta Prévia, Livre e Informada; revisão e reanálise de procedimentos administrativos demarcatórios; criminalização das retomadas indígenas; indenização por terra nua a ocupantes não indígenas; ampliação da participação de entes federados no processo de demarcação; intimação de terceiros interessados antes da delimitação da ocupação indígena; mediação e arbitragem para indenizações; e redimensionamento de Terras Indígenas.
“A proposta altera as regras de demarcação, impondo novos critérios a processos ainda em andamento e enfraquecendo direitos já consolidados. Embora o texto rejeite a tese do marco temporal, ele faz diversas concessões ao agronegócio e ao setor mineral. Ele prevê indenização para invasores e a liberação de atividades dentro dos territórios ancestrais, que colocam em risco nossas famílias e tradições, o meio ambiente e a luta contra as mudanças climáticas”, afirma Dinamam Tuxá, coordenador executivo da APIB.
No dia 21 de fevereiro, o ministro Gilmar Mendes suspendeu as audiências da câmara de conciliação a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU). O órgão afirma que as partes envolvidas na mesa precisam de mais tempo para analisar a proposta apresentada pelo gabinete de Mendes. O reinício dos trabalhos foi marcado para 26 de março, e o prazo final foi prorrogado para 2 de abril.
17/fev/2025
A representante bolsonarista indicada por Gilmar Mendes para compor a mesa da Câmara de Conciliação se passa por indígena, mas não é reconhecida pelo Povo Wajãpi. Em nota das organizações indígenas, o povo afirma que ela “não representa nosso povo Wajãpi, ela não faz parte das nossas organizações representativas e não pode falar em nosso nome. Muitos Wajãpi não aceitam que ela use o nosso nome e não acreditam na sua origem indígena”.
Silvia Nobre não participou de nenhuma das reuniões da Câmara de Conciliação, sendo convidada apenas para figurar uma suposta participação indígena. Já a deputada indígena, Célia Xakriabá, que acompanha as sessões desde o início, foi barrada de participar da mesa de conciliação.
Além de usar o nome indígena para defender a mineração ilegal e o agrobanditismo, Silvia teve o mandato de deputada cassado por utilizar verba pública de campanha para fazer harmonização facial durante as eleições de 2022. E nos anos 2000, ela interpretou a personagem Crocoká na novela Uga Uga, uma sátira ofensiva e discriminatória à cultura e modo de vida dos povos indígenas.
A Câmara de Conciliação começou a votar hoje, 17/02, uma minuta do Ministro Gilmar Mendes, que deve virar proposta de Projeto de Lei complementar, para entre outros retrocessos, liberar a mineração em Terras Indígenas, semelhante ao que propunha o governo Bolsonaro.
Confira:
CARTA DE REPÚDIO CONTRA SILVIA NOBRE LOPES, POLÍTICA BOLSONARISTA QUE ESTÁ USANDO O NOME DO POVO WAJÃPI
Nós do Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina queremos divulgar para todo Brasil que a senhora Silvia Nobre Lopes, do Partido Liberal do Amapá, que usa o nome Waiãpi e está apoiando o Bolsonaro, não representa nosso povo Wajãpi, ela não faz parte das nossas organizações representativas e não pode falar em nosso nome.
Muitos Wajãpi não aceitam que ela usa o nosso nome e não acreditam na sua origem indígena. Nós acompanhamos nas redes sociais as postagens de parentes não indígenas da Silvia, que há muito tempo eles estão dizendo que ela tem sua família verdadeira em Macapá, que não é indígena. Somente alguns Wajãpi acreditaram que ela é uma menina wajãpi que desapareceu na década de 1970 e aceitaram a Silvia como parente quando ela nos procurou.
Mas todos os Wajapi são contra o governo Bolsonaro, contra sua política genocida e anti indígena e contra sua reeleição. Na nossa Terra Indígena Wajãpi o Bolsonaro teve somente 2 votos no primeiro turno, Ciro Gomes teve 3 votos e o Lula teve 378 votos. E também a Sílvia teve somente 31 votos dos Wajãpi como candidata a deputada federal.
Nós somos contra as propostas do Bolsonaro e da Sílvia de exploração das Terras Indígenas para mineração, garimpo, agronegócio, extração de madeira e outras atividades que destroem a floresta. Nós lutamos pela demarcação de todas Terras Indígenas no Brasil e contra o Marco Temporal.
Estamos junto com o movimento indígena nacional, somos parte da APOIANP (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará), COIAB (Confederação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil).
Não aceitamos que o nome do nosso povo seja usado para apoiar esse presidente genocida e as propostas da bancada ruralista no congresso.
Conselho das Aldeias Wajãpi-Apina
17/fev/2025
Nesta segunda-feira, 17/02, quando começou a votação da minuta resultante dos debates da Câmara, a deputada indígena Célia Xakriabá, que acompanha as sessões desde o início, foi barrada de participar da mesa de conciliação.
Enquanto isso, a deputada bolsonarista, Silvia Nobre, foi indicada para assumir a cadeira, mesmo não tendo participado de nenhuma das reuniões da Câmara. A deputada se intitula indígena, mas foi deslegitimada pelas organizações do Povo Wajãpi através de uma nota de repúdio: “não representa nosso povo Wajãpi, ela não faz parte das nossas organizações representativas e não pode falar em nosso nome. Muitos Wajãpi não aceitam que ela use o nosso nome e não acreditam na sua origem indígena”, afirma a nota.
A minuta foi escrita pelo Ministro Gilmar Mendes e, apesar de considerar o Marco Temporal inconstitucional, ela inclui a proposta de um Projeto de Lei Complementar para liberar a mineração em Terras Indígenas, semelhante ao que propunha o governo Bolsonaro, além de destacar interesses públicos exploratórios dentro de Terras Indígenas. Dentro do procedimento administrativo enumerado na minuta, a Consulta aos povos indígenas se torna apenas um ato de mera formalidade e menor relevância, pois eles não poderão vetar a exploração mineral em suas terras.
Os procedimentos de demarcação em andamento deverão se adequar à nova lei, o que na prática, pode inviabilizar novas demarcações até o final deste mandato de governo. A minuta criminaliza as retomadas e abre espaço para reintegrações de posse imediatas de indígenas que reivindicam o seu direito originário diante da morosidade do Estado.
O Ministro também quer que estados e municípios passem a protagonizar os processos administrativos demarcatórios desde o início. E abre margem para maiores contestações de terceiros nestes procedimentos, o que os torna ainda mais morosos. A minuta também abrange a indenização da terra nua, tomando a data da promulgação da Constituição como como parâmetro de data para pagamento de indenizações a não-indígenas, estabelecendo um marco temporal indenizatório.
O ministro está tomando decisões que vão além da sua competência individual e com uma canetada pretende criar uma Proposta de Lei complementar, que atende a todas as demandas da ganância do agrobanditismo sobre as terras indígenas.
A Apib se retirou da Câmara em agosto de 2024, por considerar que dali poderia sair um dos maiores retrocessos da política indígena desde 1988. Seguimos atentos e mobilizados para barrar as violações aos nossos direitos constitucionais. Vamos à luta, parente!
Diga ao povo que avance!
Avançaremos.