Lula, não queremos fazenda, queremos a demarcação das nossas terras

Lula, não queremos fazenda, queremos a demarcação das nossas terras

O presidente Lula sugeriu ao governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), que compre terras para salvar os indígenas da etnia guarani que vivem “na beira da estrada” em Dourados (MS). “Eu quero lhe dizer que se você encontrar as terras para que a gente recupere a dignidade desse povo, o governo federal será parceiro na compra e no cuidado para que eles voltem a viver dignamente. O que eles não podem é ficar na beira da estrada mendigando”, afirmou.

A proposta foi feita nesta sexta-feira, 12/04, durante um ato de comemoração pela habilitação (permissão para funcionar) de frigoríficos da JBS, em Campo Grande (MS). A carne será exportada para a China. A produção de carne no Brasil é um dos expoentes da agropecuária, ou do agronegócio, junto a soja, a cana-de-açúcar, o café e o milho. Também é uma das maiores ameaças às florestas. Em 2021, a produção de gado impulsionou sozinha 75% do desmatamento e0m terras públicas (Dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Ipam).

Com a afirmação, Lula endossa a posição do governador de direita, que gravou um vídeo para redes sociais reiterando a ideia de que assim, solucionaria o conflito fundiário que se estende há anos no MS. “Esse é um caminho que a gente está propondo há muito tempo”, disse Riedel.

A proposta de “comprar uma terra” para os indígenas é tão contraditória quanto o evento escolhido para fazer tal anúncio.

A compra de terras para assentar. povos indígenas afronta o direito originário de ocupação tradicional assegurado pela Constituição Federal de 1988. A Carta Magna (Art. 231) não manda comprar terras e sim demarcar e proteger as terras tradicionalmente ocupadas, assegurando sua posse permanente e o usufruto exclusivo para os povos. Terras essas, que são inalienáveis e indisponíveis, sendo os direitos originários sobre elas imprescritíveis. O que tornam nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras indígenas.

Lula, erra ao assumir o discurso presente na Lei do Marco Temporal, uma Lei inconstitucional, que foi imposta no final do ano passado pelo Congresso ruralista, e certamente, será mais uma vez derrubada no STF.

O mais grave é que o governo Lula está manchando a sua trajetória histórica. Desde a campanha do seu primeiro mandato em 2002, o presidente se comprometeu a demarcar o passivo das terras indígenas, mas foi um dos governos que menos demarcou. E agora, como outros velhos e conservadores governos, em nome do progresso e do desenvolvimento econômico do país, rifa a base de existência dos povos indígenas, tornando-se refém do mercado, do Centrão, do Agronegócio, dos Evangélicos e dos militares.

Ao admitir a “compra de fazendas”, Lula está renunciando a seu programa de viés social e popular, faltando com sua palavra e aderindo a injustiça histórica que até hoje coloca os povos indígenas à beira da extinção física e sociocultural, pois sem terra e território, perdemos a razão mais sagrada de nosso existir e bem viver.

Em todo o Brasil, até o momento, foram criados nove assentamentos de reforma agrária, no terceiro governo Lula e apenas seis Terras Indígenas foram homologadas. O investimento do governo no agronegócio foi de R$ 363 bilhões em 2023. Já a agricultura familiar recebeu R$ 71 bilhões, um total cinco vezes menor. Já o orçamento do Ministério dos Povos Indígenas foi de R$ 813 milhões e do INCRA, órgão responsável pela Reforma Agrária, foi inferior a R$ 500 milhões.

Os números mostram as prioridades do governo petista, um governo de coalisão de forças contraditórias. Alianças que foram necessárias para eleger e manter Lula no páreo, desde seu primeiro mandato e, agora, frente aos avanços fascistas do Bolsonarismo e ao Congresso mais conservador da história da legislatura brasileira

Os povos do campo, das florestas e das águas, como tudo indica, estão longe de ser considerados pilares estruturantes para as políticas dos próximos anos. No entanto, conhecemos de perto essa lição. O projeto popular para o Brasil se tornará realidade à medida de nossa força para organizar, formar consciências, lutar e comunicar. São as lutas que garantem as nossas conquistas. É a luta que garante a democracia, o Estado Democrático de Direito e respeito aos direitos fundamentais, num país em que reina a autocracia de uma burguesia covarde e submissa ao capital internacional, como já dizia Florestan Fernandes.

A demarcação das Terras Indígenas Guarani, Kaiowá, Nhandeva e demais será conquistada pela nossa organização, pela mobilização do movimento indígena, através da luta. Nossos corpos-territórios, a vida das nossas atuais e futuras regionais, não estão em mesa de negociação.

Lula, se tem recursos, demarca e desintrusa as terras indígenas, acaba com as organizações criminosas que intimidam os nossos povos e comunidades, perseguem e assassinam as nossas lideranças. Destine fazendas para a reforma agrária e demarque nossas terras, secularmente invadidas e esbulhadas pelos invasores que aqui chegaram, há 524 anos, e seus atuais descendentes.

O nosso marco é ancestral. Sempre estivemos aqui.

Demarcação Já!

Leia a nota da nossa organização de base, Aty Guasu, sobre o caso.

 

ATL 2024: Credenciamento de Imprensa

ATL 2024: Credenciamento de Imprensa

Foto: Jacqueline Lisboa

Atenção imprensa!

O credenciamento para cobrir o 20° Acampamento Terra Livre já está liberado! Acesse o link e cubra a maior mobilização indígena do Brasil

No dia 22 de abril, primeiro dia do ATL, a coordenação executiva irá receber a imprensa para falar sobre a programação e as expectativas para o Acampamento. A coletiva irá ocorrer a partir das 10h no ATL.

Link de credenciamento: https://bit.ly/imprensaATL2024

Manual de boas práticas aqui

Nosso Marco é Ancestral, Sempre Estivemos Aqui!

Contato: (85)98228 5022 – Luan de Castro Tremembé / Coordenação de imprensa ATL 2024

ATL 2024: Chamado para Cobertura Colaborativa

ATL 2024: Chamado para Cobertura Colaborativa

O Acampamento Terra Livre 2024 está chegando, então corra para fazer sua inscrição para contribuir na cobertura colaborativa da maior mobilização indígena do Brasil!

Se você faz parte de organizações e/ ou coletivos de comunicação, e vai estar no Acampamento Terra Livre, faça seu credenciamento para a cobertura colaborativa para receber informações e orientações da comunicação do ATL.

O 20º Acampamento Terra Livre acontece entre os dias 22 e 26 de abril, no espaço da Funarte em Brasília.

Link de inscrição: https://forms.gle/BcsWq7u144uotLvq7

Doe para o ATL2024: https://bit.ly/DoarApib

Nosso Marco é Ancestral, Sempre Estivemos Aqui!

Assassino de Ari Uru-Eu-Wau-Wau irá a julgamento na próxima segunda-feira

Assassino de Ari Uru-Eu-Wau-Wau irá a julgamento na próxima segunda-feira

“Nós temos certeza absoluta que tudo é ligado à invasão das terras dos Uru-Eu-Wau-Wau, que tudo é ligado a falta de proteção do território, a falta de proteção aos povos indígenas”, exclamou a fundadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Ivaneide Bandeira.

O suspeito de matar Ari Uru-Eu-Wau-Wau irá a julgamento por homicídio, no entanto, conclusão da Polícia Federal afirma apenas que “o suspeito estaria incomodado com a presença de Ari na região”.

O caso vai para o Tribunal do Júri em Rondônia na próxima segunda-feira, dia 15/04. Para a liderança indígena Ivaneide, a conclusão da investigação é “revoltante”, “lamentável” e vai contra o que os povos indígenas acreditam.

O povo Uru-Eu-Wau-Wau, também conhecido como “Jupaú”, em tradução livre do idioma originário, são “os que usam jenipapo”. Eles cuidam da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, a maior do estado de Rondônia. Ela abriga cerca de nove povos indígenas, a maioria são isolados (aqueles que optaram por viver sem contato com a sociedade em geral).

O corpo de Ari Uru-Eu-Wau-Wau, 33 anos, foi encontrado com sinais de espancamento próximo a uma das entradas da Terra Indígena. Ele era professor e muito conhecido no estado por trabalhar registrando e denunciando extrações ilegais de madeira dentro de sua terra.

Inicialmente, as investigações apontaram indícios de que o crime tinha ligação com o trabalho de Ari em denunciar o desmatamento e a venda ilegal de madeira em seu território, mas não foi o que a PF registrou, ocultando a motivação levantada pelos indígenas.

Exigimos justiça, a condenação do executor é apenas o primeiro passo. A TI precisa de uma desintrusão, que garanta a proteção à vida e ao território contra madeireiros e grileiros.

Povo Guató critica proposta de Estatuto do Pantanal

Povo Guató critica proposta de Estatuto do Pantanal

O Conselho de Lideranças do Povo Guató no Guadakan/Pantanal, nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, publicou neste domingo, 07/04, uma nota sobre o Projeto de Lei n° 5.482/2020, chamado de Estatuto do Pantanal, de autoria do Senador Wellington Fagundes (PL/MT). No texto, a comunidade se manifesta por uma maior atenção aos povos originários da região na elaboração da lei.

O povo do Guadakan, palavra da língua mãe para designar o Pantanal profundo e seus rios, habita a região há mais de 8 mil anos. “Somos conhecidos como especialistas na arte de construir e navegar em canoas de um pau só, mas também sabemos cultivar florestas e roças, construir solos férteis(…) Apesar de toda a nossa contribuição para o Brasil, atualmente temos apenas duas terras indígenas demarcadas: uma em Barão de Melgaço, Mato Grosso, chamada Terra Indígena Baía dos Guató, e outra em Corumbá, Mato Grosso do Sul, denominada Terra Indígena Guató. Outras áreas tradicionalmente ocupadas aguardam o processo de identificação, delimitação e demarcação por parte do governo federal”, afirmam as lideranças, que reivindicam doze questões a serem consideradas no PL.

Para eles, a ideia de preservar o Pantanal é incompatível com o propósito de aprofundar a exploração econômica para “dar lucros infinitos aos não indígenas”, através da pecuária, turismo, pesca, mineração etc. “Não somos nós que poluímos o mundo a ponto de levar a humanidade ao precipício do fim do mundo”, aponta a nota.

Entre os pontos destacados estão o respeito à convenção 169 da OIT; o entendimento do Guadakan como sujeito de direitos, como é percebido o meio ambiente em outros países; que seja assegurada a participação indígena, indicada por suas comunidades, em todos os conselhos consultivos e deliberativos, e nas demais instâncias da tomada de decisões; que a regularização fundiária de propriedades privadas da terra seja precedida de estudos antropológicos e históricos oficiais para saber se houve ou não a remoção forçada ou o esbulho de coletivos indígenas; que sejam incluídos princípios da filosofia indígena do bem viver nos fundamentos das políticas públicas e da macroeconomia destinadas para o bioma Pantanal: solidariedade superlativa, equilíbrio nas relações com o meio ambiente, reconhecimento e respeito às diferenças étnicas e socioculturais, valorização dos saberes ancestrais, construção de consensos, viver com simplicidade na vida em sociedade.

Leia a nota completa e conheça os doze pontos aqui: NOTA DO POVO GUATÓ SOBRE O ESTATUTO DO PANTANAL

Comunidade da TI Comexatibá denuncia crime ambiental no Rio da Barrinha

Comunidade da TI Comexatibá denuncia crime ambiental no Rio da Barrinha

A comunidade indígena Pataxó, pescadores e moradores da Vila de Cumuruxatiba, área urbana da Terra Indígena Comexatibá, localizada em Prado, extremo sul da Bahia, se reuniu na manhã desta quinta-feira, 04/04, para denunciar o crime ambiental cometido por Rui Magalhães Henriques. O pousadeiro, na intenção de ampliar a metragem de um lote, aterrou a cerca de um metro do Rio da Barrinha, que nasce dentro da TI, na Aldeia Tibá, corre por entre as casas dos bairros Canta Galo e Morro da Fumaça e deságua próximo ao centro da cidade.

O rio é sagrado para indígenas e pescadores locais, para a sobrevivência e preservação do modo de vida local. “Vamos pedir ao Ministério Público para interditar esse lote e fazer uma área de preservação, para plantarmos mudas de árvores”, apontou uma das lideranças, que não vamos identificar por questões de segurança. É de conhecimento da comunidade que Rui tem costume de andar armado e fazer ameaças a quem o afronta.

Os conflitos ambientais relacionados à Rui são recorrentes. Em setembro de 2023, a comunidade indígena interditou a extração ilegal de areia empreendida por ele dentro do território, na vizinhança da mesma aldeia.

A contenção do rio gera desastres ambientais quando há chuvas fortes.

“Não é deixar essas pessoas acabar com nossa Vila de Cumuruxatiba. Porque a chuva não é brincadeira. Esses pneus que ele estava colocando, ia fazer o maior impacto ali. Ele é ousado mesmo, esse camarada viu. A gente não pode ficar parado não, tem que manifestar mesmo. Deixar ele fechar esse rio, aí é demais! É isso que preocupa a gente, a gente procura os órgãos e não resolve nada. Aí a comunidade tem que partir pra cima”, afirmou outro cacique que acompanhou a manifestação.

A TI Comexatibá está delimitada e reconhecida pela Funai desde 2015. O povo Pataxó anseia pela demarcação e proteção da área, desde 2005, quando iniciou o processo. A morosidade do Estado em prosseguir com os trâmites, no entanto, têm acentuado os conflitos.

Além da ameaça dos crimes ambientais e assassinatos de indígenas, a especulação imobiliária, os empreendimentos turísticos e ruralistas avançam sobre o território, que possui o maior número de contestações à demarcação do Brasil. Ao todo são cerca de 180 contestações e 78 ocupações irregulares.

Entre elas, está o Sítio Areal, cadastrado sob a posse de Magalhães Henriques. Outro invasor que se destaca é Zilmar Marianelli, pai do prefeito de Linhares (ES), Bruno Margotto Marianelli (Republicanos), que detém a posse da fazenda Flor do Norte, com 273,27 hectares sobrepostos à TI.

Projeto de Assentamento e o areal

Antes de ser reconhecido como território Pataxó, as terras da região foram colonizadas pelo INCRA, que criou o Projeto de Assentamento Cumuruxatiba, em 1987. Foram distribuídos lotes da reforma agrária da beira da praia até a mata, totalizando 4.500 hectares.

Mais tarde, esse mesmo PA foi utilizado pela mídia para desqualificar toda a política de reforma agrária, através de denúncias de corrupção de servidores e vendas ilegais de lotes a fazendeiros e milionários. Assentados que não receberam a política completa de implementação do assentamento foram coagidos a vender terras ou as entregaram em maus negócios, diante da falta de assistência do Estado. Conta-se na vila que lotes foram entregues em troca de uma televisão e uma bicicleta. E os invasores utilizam-se desse argumento para justificar a especulação sobre as terras.

O Sítio Areal está dentro do lote 92 A, do PA Cumuruxatiba, sobreposto à Terra Indígena. Localiza-se a menos de mil metros de distância da sede da Aldeia Tibá/ Parque Nacional do Descobrimento, a menos de 20 metros da Escola Estadual Indígena Kijetxawê Zabelê, anexo Tibá. A mineração impacta diretamente a comunidade, estudantes, professores, a escola e o meio ambiente.

Mesmo diante da irregularidade e do impasse de ordem federal, a Secretaria de Meio Ambiente do Município, Hideraldo Beline Silveira Passos, concedeu a licença ambiental para extração da areia. Uma violação da convenção 169 da OIT, que prevê a consulta prévia aos povos indígenas em caso de qualquer empreendimento dentro das TIs.

A licença é irregular, mas a extração também não seguiu as orientações dadas pela prefeitura: “fazer a lavra em tiras, com recomposição do solo imediatamente a extração da tira; suavizar a inclinação dos taludes, para evitar quedas de animais; proporcionar a recuperação da área já minerada. Como é possível observar no registro feito pelos indígenas, nenhuma das condições acima citadas foi cumprida pelo minerador”. Assim, o povo Pataxó retomou o sítio e interditou a mineração.

Autodemarcação e assassinato de Gustavo Pataxó

Diante da complexidade que envolve o território e a demora em obter respostas concretas sobre seus direitos, um grupo de 180 indígenas Pataxó auto demarcou a Fazenda Santa Bárbara, também sobreposta à TI, em 2022. No local, havia um extenso monocultivo de eucalipto em parceria com a Suzano Celulose, que empregava o uso intensivo de agrotóxicos, afetando diretamente as áreas indígenas e qualidade dos cursos d’água.

Os fazendeiros reagiram matando Gustavo Pataxó, de apenas 14 anos, assassinado em setembro com um tiro na cabeça. Até hoje o crime não foi totalmente elucidado.

A Apib e Apoinme exigem justiça: que os acusados pela execução sejam condenados, os responsáveis paguem por seus crimes ambientais e que a Terra Indígena Comexatibá seja, finalmente, demarcada.

“Nosso marco é ancestral. Sempre estivemos aqui” é tema do Acampamento Terra Livre, que completará 20 anos em 2024

“Nosso marco é ancestral. Sempre estivemos aqui” é tema do Acampamento Terra Livre, que completará 20 anos em 2024

Fotos: Sheyden/ @1sheyden

A maior mobilização indígena do Brasil será realizada entre os dias 22 a 26 de abril em Brasília (DF)

O tema “Nosso marco é ancestral. Sempre estivemos aqui” demarca a edição de 20 anos do Acampamento Terra Livre (ATL), que será realizado de 22 a 26 de abril na Fundação Nacional de Artes (Funarte), em Brasília (DF). O ATL 2024 ocorre após a derrubada do marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF) e a aprovação da lei nº 14.701/2023, que legalizou a tese e diversos crimes contra os povos indígenas, no ano passado.

“Seguimos mobilizados e na luta. O ATL é a maior mobilização indígena do Brasil e a expectativa é que o ATL 2024 seja o mais participativo de toda a história, tanto em número de pessoas, quanto de representatividade de povos. É o momento de nos unirmos nas assembleias e debater os próximos caminhos”, diz Kleber Karipuna, coordenador executivo da Apib.

O Acampamento Terra Livre é organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e suas sete organizações regionais de base, sendo elas: Apoinme, ArpinSudeste, ArpinSul, Aty Guasu, Conselho Terena, Coaib e Comissão Guarani Yvyrupa.

Emergência Indígena

O enfrentamento ao Marco Temporal é um dos temas centrais do ATL, pois as violências contra os povos indígenas têm se intensificado. Segundo levantamento feito pelo Coletivo Proteja, no primeiro mês  da aprovação da lei nº 14.701 seis lideranças indígenas foram assassinadas no país. O dado é referente a

14 de dezembro de 2023 – data em que a lei entrou em vigor – a 21 de janeiro de 2024.  No mesmo período, também foram mapeados 13 conflitos em territórios localizados em sete estados.

Um dos assassinatos foi o da pajé Nega Pataxó, povo Hã-Hã-Hãe, durante ação criminosa da Polícia Militar do Estado da Bahia com o grupo “Invasão Zero”. A liderança foi assinada na retomada do território Caramuru-Paraguaçu, município de Potiraguá.

A Apib afirma que a lei  nº 14.701 representa o genocídio dos povos originários, pois a violência constante nos territórios são resultado da legalização do marco temporal, aprovado em 2023 pela bancada ruralista do Congresso Nacional que tem promovido diversos ataques contra os direitos dos povos indígenas. Para Articulação, a paralisação das demarcações de terras indígenas também agrava esse cenário de violência.

Em 2022, o relatório final do Grupo de Trabalho dos Povos Indígenas do Gabinete de Transição, do qual a Apib fez parte e coordenou, apresentou para o Governo Lula 14 terras indígenas em condições de terem demarcações homologadas nos primeiros 100 dias de governo. Mas, ao longo de 2023, somente 8 territórios ancestrais foram demarcados pelo presidente Lula.

“Em termos de demarcação, fiscalização e proteção territorial ainda falta muito a ser feito no atual governo”, diz Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Apib.

Saúde Mental

Outro tema que vai ganhar destaque na programação é sobre o suicídio entre indígenas. Um estudo feito por pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard (EUA) e do Cidacs/Fiocruz Bahia (Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fundação Oswaldo Cruz), apontou que a população indígena lidera os índices de sucídio e autolesões no Brasil, mas tem menos hospitalizações. Conforme o estudo, isso revela a precariedade no atendimento médico e no suporte à saúde mental para as famílias indígenas. A pesquisa foi feita com dados entre 2011 e 2022 e publicada na revista The Lancet.

Com isso, as lideranças demonstram preocupação com a saúde mental dos indígenas, principalmente aqueles que enfrentam invasões em seus territórios e lutam pelos seus direitos.

Com isso, as lideranças demonstram preocupação com a saúde mental dos indígenas, principalmente aqueles que enfrentam invasões em seus territórios e lutam pelos seus direitos.

“É sufocante ver isso. Há mais de 500 anos lutamos pela nossas vidas e territórios, mas a violência contra nós foi legalizada no ano passado com a aprovação da lei do genocídio. Por isso, o marco temporal é tema e o principal debate do ATL 2024. O Brasil é Terra Indígena e o acampamento irá evidenciar ainda mais isso”, diz Tuxá.

Programação

A programação do Acampamento Terra Livre está sendo construída em conjunto com as regionais e será divulgada em breve nos canais de informação da Apib. A programação do ATL vai contar com atividades prévias em todo o país de mobilização do “Abril Indígena” e “Abril Vermelho”.

Ações construídas pelo Movimento Indígena e também em conjunto com outros movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estão previstas para acontecer durante todo o mês de abril. A Apib vai divulgar um calendário de mobilizações nacional e do ATL no início do próximo mês.

Além disso, neste ano a identidade visual do ATL foi produzida com o apoio do artista indígena Denilson Baniwa. Ele, que também é responsável pela idealização do logo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, cedeu para Apib uma coleção de pinturas que foram utilizadas na criação das peças visuais.

Entre as pinturas, o destaque na identidade visual é da obra “Cobra do tempo” , que agora ganha os tons do vermelho urucum, do preto jenipapo e algodão cru e demarca os 20 anos do Acampamento Terra Livre e evidencia a história e os caminhos dos povos originários do Brasil.

Em 2023, cerca de seis mil indígenas de aproximadamente 180 povos participaram da 19a edição do ATL. “O Futuro Indígena é hoje. Sem demarcação não há democracia!” foi o lema da última mobilização, que marcou o retorno das demarcações das Terras Indígenas, após seis anos de paralisação da política.

 

Comissão de Anistia julga crimes da ditadura militar contra os povos Guarani-Kaiowá e Krenak

Comissão de Anistia julga crimes da ditadura militar contra os povos Guarani-Kaiowá e Krenak

A comissão de Anistia fará nesta terça-feira, 02/04, o julgamento de crimes cometidos pela ditadura contra povos indígenas. É a primeira vez que o órgão, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos, julga um processo de reparação coletiva. Estarão em pauta casos envolvendo os povos Guarani-Kaiowá (Mato Grosso do Sul) e os Krenak (Minas Gerais).

O povo Krenak foi torturado, preso e submetido a maus-tratos, trabalho forçado e ao deslocamento compulsório de seu território. Três episódios marcaram os ataques contra eles nessa época: a criação da Guarda Rural Indígena (Grin); a instalação do Reformatório Krenak, que era um presídio para indígenas, em Resplendor (MG); e o deslocamento forçado de índios para a fazenda Guarani, no município de Carmésia (MG), que também funcionou como centro de detenção arbitrária de indígenas após a extinção do Reformatório Krenak.

Já os Guarani e Kaiowá, da comunidade indígena Guyraroká, de Caarapó, foram retirados do território pela ditadura e iniciaram a retomada em 2004. O pedido do MPF tramita desde 2015 e destaca no pedido de anistia, que a principal atividade econômica desenvolvida pelos indígenas Kaiowá é a agricultura e, quando retirados do seu território, ficaram completamente desprovidos do exercício de todas as suas atividades econômicas.

A desintegração do grupo e a ausência de acesso ao território tradicional, somada à extrema miséria, provocaram um número significativo de mortes por suicídio na comunidade. Em um grupo de 82 pessoas, registrou-se um caso de suicídio por ano entre 2004 e 2010.

O procurador do Ministério Público Federal (MPF) em Minas Gerais, Edmundo Antonio Dias Netto, autor do requerimento de anistia ao povo Krenak, apresentado à comissão há nove anos, aponta o histórico de omissão do Estado brasileiro para responder às violações contra os indígenas, que sofrem até hoje as consequências do regime militar. “O Estado brasileiro precisa confrontar-se com a gravidade das violações que cometeu contra os povos indígenas no nosso país. Reconhecer esses malfeitos é o primeiro passo para uma reparação”.

A reparação coletiva defendida pelo MPF desde 2015 ficou parada durante os governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), foi indeferido na gestão de Jair Bolsonaro (PL) e só se tornou possível em março do ano passado, após uma mudança no regimento interno da Comissão de Anistia, que julgava apenas casos individuais. Essa mudança na Comissão está relacionada à sua composição, que passou a contar, pela primeira vez, com uma comissionada indígena, a dra. Maíra Pankararu.

Entre os horrores cometidos neste período, estão as práticas da Guarda Rural Indígena, que transformava indígenas em militares para perseguir seu próprio povo. Um vídeo encontrado no Museu Nacional do Índio, chamado Arara, mostra a formatura da Grin, em 1970. Uma das imagens mais marcantes daquele momento mostra dois guardas indígenas marchando nas ruas de Belo Horizonte com um parente capturado, pendurado em um pau de arara.

A decisão pela anistia poderá impulsionar outras ações que o MPF move contra a União, o estado de Minas Gerais e contra o capitão Pinheiro, que cumpria o papel de chefe da Ajudância Minas-Bahia (instância da Funai que abrangia o território Krenak) e de comandante-geral da Grin. O capitão morreu em 2023, sem ser julgado na esfera criminal pelo crime de genocídio, pelo qual foi acusado. “O capitão Pinheiro submeteu o grupo étnico Krenak a condições de existência capazes de ocasionar sua destruição física total ou parcial, além de ter ensejado um processo de profunda traumatização psicossocial coletiva dos Krenak”, declarou Dias Netto.

Um grande anseio dos Krenak é destravar a demarcação do território de Sete Salões (MG), que tem valor espiritual para o povo e está com a Ação Civil Pública suspensa desde 2021, quando a Funai conseguiu junto ao Tribunal um efeito suspensivo da apelação.

*Com informações da Agência Pública

Apib lança o Pod Parente, podcast produzido por comunicadores indígenas

Apib lança o Pod Parente, podcast produzido por comunicadores indígenas

“O ano mais quente e a luta indígena” é o tema do primeiro episódio do podcast 

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), em conjunto com suas sete organizações regionais de base, lançou nesta terça-feira (19/03) o podcast Pod Parente. O podcast é uma produção da COMunidade Apib, grupo formado por comunicadores indígenas, de diferentes povos e territórios, que colaboram com a comunicação das suas regionais e da Articulação. 

Para a Apib, a expectativa é que a produção amplie e fortaleça o diálogo das organizações do movimento indígena com as bases. “O podcast começou a ser debatido e construído pela comunicação e coordenação executiva da Apib em 2023. Agora, ele chega aos ouvidos de todos os parentes com um resumo das conquistas e desafios do ano passado, mas a ideia é que cada episódio foque numa pauta diferente do movimento indígena”, diz Kleber Karipuna, coordenador executivo da Articulação.

Com o título “O ano mais quente e a luta indígena”, o primeiro episódio do podcast é apresentado por Luene Karipuna e Pepyaka Krikati, comunicadores da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), e já está disponível nas plataformas de áudio, Youtube e nos grupos de mensagem das organizações. 

Yago Kaingang, jornalista e comunicador da Apib, fala sobre o processo e a importância do projeto: “O Pod Parente é uma construção coletiva e isso é muito importante para que tenhamos uma diversidade de povos. A ideia também é que cada episódio seja apresentado por comunicadores diferentes. Somos povos da oralidade e o podcast da Apib é uma produção feita por nós e para nós”, afirma ele.

O segundo episódio do Pod Parente deve ser lançado ainda no mês de março.

Ouça o episódio “O ano mais quente e a luta indígena” – Pod Parente: 

 

Apib e Rede Cerrado pedem inclusão do Cerrado na regulação da UE

Apib e Rede Cerrado pedem inclusão do Cerrado na regulação da UE

As organizações lideram ação na Holanda, França e Bélgica para que áreas não florestais, como é o caso do bioma, sejam incluídas na regulação europeia contra o desmatamento

Até o dia 22 de março, uma comitiva liderada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e Rede Cerrado realizará uma incidência política em três capitais europeias, com o objetivo de defender a inclusão dos ecossistemas não florestais (Other wooded lands) na regulação contra o desmatamento da União Europeia (EUDR), a qual busca impedir a importação de commodities que tenham relação com desmatamento. O Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN) e o WWF-Brasil também compõem a comitiva.

Atualmente, a EUDR reconhece o desmatamento apenas como a conversão de florestas, o que exclui de seu escopo vastas extensões de paisagens naturais, como savanas e campos. Essa exclusão representa uma contradição em relação aos objetivos da regulamentação, uma vez que a maior parte do desmatamento associado à produção de commodities destinadas ao mercado europeu ocorre em áreas não florestais, principalmente no Cerrado brasileiro.

Dados indicam que mais de 80% do desmatamento ‘importado’ para a União Europeia está concentrado em seis commodities, com destaque para soja e carne bovina, que são particularmente prejudiciais ao bioma Cerrado. No entanto, a atual legislação europeia só considera aptos de fiscalização produtos provenientes principalmente da Amazônia e da Mata Atlântica, deixando outros biomas vulneráveis à destruição.

Outro ponto relevante é que sem a inclusão dos ecossistemas arbóreos não-florestais, a regulação europeia protege apenas 26% do Cerrado e deixa de cumprir o objetivo principal de eliminar o desmatamento dos produtos importados pelo bloco europeu. Isso porque a maior concentração de degradação ambiental nas commodities importadas pela Europa está associada à soja produzida no Cerrado, que contribuiu para o aumento de 35% do desmatamento nos últimos dois anos (16.437 km²).

“O Cerrado é o bioma mais impactado pelo consumo europeu, com destaque para o desmatamento causado pela soja e a pecuária bovina. E, por isso, acreditamos que a Comissão Europeia precisa realizar estudos de impacto e fazer uma revisão, o quanto antes, do escopo da regulação, ampliando para a inclusão dos ecossistemas não florestais”, afirma a coordenadora geral da Rede Cerrado, Lourdes Nascimento.

A APIB e a Rede Cerrado têm alertado para as brechas na regulação, que impedem a proteção efetiva dos Povos Indígenas e demais Povos e Comunidades Tradicionais dos biomas brasileiros. O aumento das medidas de preservação na Amazônia tem deslocado o desmatamento para o Cerrado, resultando em um aumento alarmante de 43% no desmatamento deste bioma em 2023, enquanto a Amazônia registrou uma queda de 50% no mesmo período.

“Consideramos a regulação positiva e um avanço na adoção de sistemas de rastreabilidade na cadeia de produção das commodities, sendo um mecanismo adicional de proteção dos nossos biomas e de nossos direitos territoriais. Porém, caso a regulação não seja aplicada em igual medida a todos biomas (Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampas e Bioma Costeiro), teremos um efeito contrário ao esperado pela União Europeia, pois a EUDR irá contribuir para uma pressão ainda maior do desmatamento nos biomas não florestais, aumentando também a violência vivenciada nos territórios indígenas que não estão na Amazônia ou na Mata Atlântica”, explica Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Apib.

Diante dessa urgência, a Apib e a Rede Cerrado, com a colaboração do ISPN e WWF-Brasil, chamam as autoridades europeias a considerar a grave situação do aumento de desmatamento no Cerrado e a revisar a regulação para incluir todos os biomas brasileiros. Proteger os biomas e os Povos Tradicionais e Indígenas é essencial para efetivamente reduzir o desmatamento e promover práticas sustentáveis.

A inclusão do Cerrado na regulação da União Europeia é um passo crucial para abordar de forma abrangente as ameaças ambientais enfrentadas por este bioma e todos os outros que dependem dele. A APIB e a Rede Cerrado estão comprometidas em garantir que a proteção dos biomas brasileiros seja uma prioridade na agenda global de conservação ambiental.

Desde 2020, quando o parlamento europeu aprovou a regulação que proíbe a entrada de commodities produzidas em áreas desmatadas, as organizações envolvidas nesta iniciativa defendem que a proposta de regulamentação apresenta brechas que impedem a proteção efetiva dos Povos Indígenas e demais Comunidades Tradicionais frente à pressão da produção de commodities em diversas áreas do País.

Por que o Cerrado importa?

O Cerrado, vital para a biodiversidade e a estabilidade climática, enfrenta crescente desmatamento. Este bioma, reconhecido por sua riqueza em espécies e sua contribuição para os recursos hídricos do Brasil, está sob ameaça. A União Europeia tem um papel crucial a desempenhar na proteção do Cerrado, mas sua regulação atual requer revisão urgente para incluir todos os biomas brasileiros.

A urgência da proteção do Cerrado na regulação da União Europeia

Aumenta o desmatamento desenfreado no Cerrado: a lei contra a importação de produtos de origem com risco florestal na Europa precisa abranger todos os biomas do Brasil. A regulação da União Europeia contra o desmatamento precisa ampliar o escopo da definição de floresta para frear o deslocamento do desmatamento e da conversão de vegetação nativa no Brasil.

Defendemos a proteção de todos os biomas

A APIB e a Rede Cerrado vêm acompanhando desde 2020, a construção da regulação contra o desmatamento da União Europeia (EUDR). Desde antes de sua aprovação, as duas instituições defendem que seu texto apresenta algumas brechas que impedem a proteção efetiva dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais frente à pressão da produção de commodities em diversas áreas do País, o que também afeta o equilíbrio climático global.

Impacto do desmatamento e a necessidade de ação imediata

O aumento das medidas de preservação e fiscalização na Amazônia tem provocado um deslocamento do agronegócio para outras áreas do Brasil, como o Cerrado. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram um aumento alarmante de 43% no desmatamento do Cerrado em 2023, enquanto a Amazônia registrou uma queda de 50% no mesmo período.

A necessidade de uma regulamentação abrangente

A lei contra a importação de produtos de risco florestal, proposta em 2012, e aprovada em 2023, pelo Parlamento Europeu, requer revisão urgente. Atualmente, a definição de floresta exclui vastas áreas dos biomas brasileiros, deixando-os desprotegidos.

É crucial proteger o Cerrado e os Povos e Comunidades que nele vivem

Os Povos Indígenas e as Comunidades Tradicionais do Brasil sofrem com a invasão ilegal de suas terras, e com a violência e a degradação ambiental provocadas pela produção de commodities. É essencial que a regulação da União Europeia proteja todos os biomas e os povos e comunidades que neles vivem, para efetivamente reduzir o desmatamento e promover práticas sustentáveis.

Queremos instar a ação imediata

A Apib e a Rede Cerrado chamam o Parlamento Europeu a considerar a catastrófica situação do aumento de desmatamento no bioma do Cerrado e a revisar a regulação para incluir todos os biomas e proteger os Povos Indígenas e as Comunidades Tradicionais do Brasil.

Informações à Imprensa:

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)
Karina Melo

Coordenadora Internacional da APIB

+55 11 95296-9032

[email protected]

Rede Cerrado

Lillian Bento
Assessora de Comunicação da Rede Cerrado
+55 61 99252 1518
[email protected]

ISPN

Letícia Verdi

Assessora de Imprensa do ISPN

+55 61 98628 7879

[email protected]

WWF-Brasil – AViV Comunicação (Assessoria de Imprensa)

Rita Silva – rita.silva@avivcomunicacao.com.br

Sandra Miyashiro – sandra.miyashiro@avivcomunicacao.com.br