Brasília, 6 de junho de 2022 – Lideranças indígenas das mais importantes associações do Brasil viajam aos Estados Unidos (EUA) na mesma semana em que o presidente norte-americano Joe Biden receberá o presidente Jair Bolsonaro para o Summit das Américas, em Los Angeles, de 6 a 10 de junho.

Sonia Guajajara, da coordenação executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, receberá o prêmio de uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2022 em evento de gala realizado pela revista norte-americana Time, em Nova York, nesta quarta-feira, dia 8. E Toya Manchineri, assessor político da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e coordenador de Área de Território e Recursos Naturais da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), estará nesta segunda-feira (6) em Washington DC para uma agenda no Senado, no Conselho de Segurança Nacional e encontros com imprensa. Na pauta, estará a defesa dos direitos indígenas aos seus territórios e o alerta ao governo dos EUA que Bolsonaro usará o encontro previsto com Biden para validar sua administração, reconhecida pelos ataques aos povos indígenas, à democracia, ao meio ambiente, em especial à Amazônia, aos direitos humanos básicos e à ciência.

Manchineri se reunirá com o diretor do Conselho Nacional de Segurança para o Brasil (na Casa Branca), Andrew Sanders, e depois com o Senador Edward Markey, membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado. Ao senador será entregue uma carta de organizações brasileiras não governamentais endereçada ao presidente Joe Biden.

“Estamos em um momento muito delicado da política brasileira, hoje os direitos indígenas estão sob ataque e os territórios sendo explorados para atender um projeto altamente genocida do governo Bolsonaro. Precisamos muito da força internacional para enfrentarmos essa onda de ataques, pois às vezes nos sentimos muito fragilizados e isolados. Bolsonaro vetou o PL que muda o Dia do Índio para o Dia dos Povos Indígenas, o STF retirou de votação a Tese do Marco Temporal que estava marcada para o dia 23, o futuro das demarcações depende desse resultado. E o Congresso quer acelerar a aprovação dos PLs 490 e 191, que autoriza mineração e garimpo em Terras Indígenas . Por isso, vamos aos EUA denunciar e dar visibilidade para esse genocídio autorizado no Brasil. Já chega, ninguém aguenta mais tanta perversidade desse governo”, afirma Sonia Guajajara.

Em uma crítica direta aos planos anunciados pelo governo norte-americano à proteção da Amazônia sem a consulta ou participação dos povos indígenas, Toya Manchineri afirma: “Estamos aqui para denunciar a instabilidade da democracia em nosso país e na bacia Amazônica. Essa agenda nos EUA nos permite dar visibilidade à realidade atual do Brasil, ao descaso do governo com os direitos dos povos indígenas, à vida e aos seus territórios e à própria Constituição de 1988. Devemos olhar para o outro com zelo, e não como incapaz. Nós, povos indígenas, temos o conhecimento e a capacidade de proteger a Amazônia, contanto que nos incluam e nos dêem condições para tanto”.

Sonia Guajajara em NY para o evento TIME 100 e Toya Manchineri em LA na Cúpula dos Povos pela Democracia

No dia 8, quarta-feira, Sonia Guajajara receberá o prêmio de uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2022 em evento de gala realizado pela revista norte-americana Time, em Nova York. Sonia foi selecionada na categoria “pioneiros”, junto com outro brasileiro, o cientista Tulio de Oliveira. Antes, na terça-feira (7), ela participa do evento Time 100 Summit, que reunirá líderes globais para tratar de incentivos e soluções a favor de um mundo melhor. Os palestrantes deste ano incluirão o CEO da Apple Tim Cook, Bill Gates, o enviado especial do presidente dos EUA para o clima John Kerry, a Primeira-Ministra Mia Mottley de Barbados, o cineasta Taika Waititi, o atleta Dwyane Wade, a produtora Mindy Kaling e o músico Jon Batiste.

No dia 9, quinta-feira, o líder indigena Toya Manchineri, participará de evento paralelo ao Summit das Américas, a Cúpula dos Povos pela Democracia (People’s Summit for Democracy). O líder indigena é um dos palestrantes do painel “Sobrevivendo juntos: Soberania Alimentar, Justiça Climática e o Futuro de Nosso Planeta”, parte integrante do evento organizado por movimentos sociais de diferentes países, com o objetivo de debater questões como o combate à pobreza, a luta pela igualdade social e pela soberania e o direito à autodeterminação dos povos – assuntos que na prática não estão na agenda do dia das lideranças que participam do Summit das Américas.

Manchineri participou ainda, no dia 2, de um encontro com artistas, celebridades e lideranças indígenas do Equador no Hammer Museum, em Los Angeles, para discutir caminhos para preservar 80% da Amazônia até 2025 para que a floresta não entre em colapso.